Servidores de Araguaína entram em estado de greve contra projeto que reduz direitos trabalhistas
17 dezembro 2024 às 11h03
COMPARTILHAR
Os servidores municipais de Araguaína entraram em estado de greve nesta semana em protesto contra o Projeto de Lei Complementar nº 048/2024, que propõe a revisão do Estatuto dos Servidores do Município. A decisão foi comunicada oficialmente à gestão municipal, enquanto sindicatos representantes da categoria denunciam a falta de diálogo e exigem mais transparência no processo legislativo.
Em tramitação na Câmara Municipal, o projeto prevê redução do adicional por tempo de serviço, conhecido como quinquênio, de 10% para 5%. Hoje, o benefício é concedido após cinco anos de serviço e representa uma forma de valorização dos servidores efetivos, cujos salários são reajustados apenas para correção inflacionária. Se aprovada, a medida reduzirá o ganho anual do adicional quinquenal de 2% para 1%. Além do quinquênio, o texto propõe a revogação de direitos como a licença-prêmio e a conversão de 1/3 das férias em abono salarial (pecúnia), o que causou insatisfação generalizada entre os servidores.
Para os sindicatos que representam a categoria, a justificativa apresentada pela prefeitura de que as mudanças buscam “alinhamento com leis federais” e adequação à Lei de Responsabilidade Fiscal não se sustenta. Monike da Silva, presidente do Sindicato do Fisco Municipal (Sinfar), acusa a gestão de perseguir os sindicatos e penalizar servidores concursados sob pretexto de equilíbrio fiscal.
“O projeto de lei tem clara motivação de perseguição e retaliação aos sindicatos, para enfraquecer sua atuação, a fim de tentar ‘calar a boca’ das entidades que defendem os direitos dos servidores e fazem denúncias ao Ministério Público e outros órgãos de fiscalização estaduais e federais sobre irregularidades na gestão municipal”, declarou a presidente do sindicato. Ela ainda destacou que, enquanto defende cortes nos direitos dos servidores efetivos, a gestão mantém gastos elevados com contratações temporárias e terceirizações.
Um dos principais pontos de crítica dos servidores é o número excessivo de contratados temporários no município. Segundo dados do Portal da Transparência, Araguaína possui hoje 7.730 servidores, sendo 5.325 ocupantes de cargos comissionados ou temporários, o que representa quase 70% da força de trabalho sem concurso público. “
O servidor público efetivo já cumpre sua função com imparcialidade e transparência. Ele é a engrenagem que faz a gestão funcionar corretamente. O que a gestão está tentando, na verdade, é manipular a opinião pública, como se a sociedade não soubesse fazer contas. Por exemplo, se uma família gasta mais do que deve, ela precisa reduzir gastos com energia, água e compras desnecessárias, e não reduzir o salário da empregada doméstica. É isso que está acontecendo com este projeto: os servidores efetivos estão pagando a conta da prefeitura”, criticou Monike.
O fiscal de carreira e especialista em gestão pública Keslon Borges também reforçou a falta de embasamento técnico do projeto. “Em nenhum momento foram apresentados números para fundamentar as decisões, tampouco foi criada uma comissão com representantes dos servidores para discutir o melhor caminho. O projeto é meramente intuitivo, sem estudo técnico que o embase, e faz referência a leis federais que refletem realidades completamente diferentes da de Araguaína”, explicou.
Para os sindicatos, a solução para uma administração eficiente passa pela redução de contratos temporários e pela realização de concursos públicos. Os servidores defendem que cargos de liderança sejam ocupados por profissionais efetivos, que possuem experiência e conhecimento técnico necessários para a boa gestão dos serviços municipais. “Não é tirando direitos de servidores concursados, que estão ali por mérito, que a gestão vai melhorar. O avanço só será possível com a alocação eficiente de recursos e o fortalecimento de uma administração técnica e isenta de interesses políticos”, concluiu a presidente do Sinfar.