Tocantins tem nove laboratórios de cocaína identificados em estudo sobre produção e lavagem de dinheiro do tráfico
06 novembro 2025 às 11h43

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O Tocantins aparece entre os estados brasileiros com registro de laboratórios de processamento de cocaína em funcionamento desde 2019, segundo o estudo Floresta em Pó, divulgado no dia 30 de outubro. O levantamento, elaborado pela Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas e pela Drug Policy Reform & Environmental Justice International Coalition, identificou nove estruturas no estado, entre unidades de refino e de adulteração da droga.
O relatório aponta que o país teve pelo menos 550 laboratórios ativos no período, responsáveis por movimentar uma cadeia de produção estimada em mais de R$ 30 bilhões, parte de um faturamento total de US$ 65,7 bilhões com cocaína em 2024. O estudo foi produzido com base em dados oficiais obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação, cruzados com registros da imprensa e relatórios públicos.
De acordo com o pesquisador Daniel Edler, do Instituto Fogo Cruzado e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), os laboratórios variam entre locais de refino, que transformam a pasta-base no pó final, e espaços de “engorda”, onde são adicionados outros produtos para aumentar o volume comercializado, principalmente no varejo.
O levantamento indica que a maior parte da renda do tráfico está no atacado (60%), seguida pelo varejo (22%), enquanto as etapas de produção da pasta-base e da base da droga somam cerca de 18% da receita. O cultivo da coca representa apenas 0,01% do total.
Embora o Tocantins não esteja entre os estados com maior concentração de estruturas, posição ocupada por Goiás (125), vizinho do Tocantins, Amazonas (42) e São Paulo (37) , o estado aparece como ponto de passagem e possível apoio logístico para o trânsito interestadual da droga. A localização central e a malha rodoviária facilitam a conexão entre rotas vindas da região Norte, especialmente da Amazônia, e os corredores que seguem rumo ao Sudeste e Nordeste.
Edler explica que a repressão ao narcotráfico na Colômbia e o enfraquecimento das Farc, a partir de 2016, deslocaram parte da cadeia de refino para países vizinhos e para o território brasileiro.
O estudo também destaca o impacto econômico do tráfico na lavagem de dinheiro e no financiamento de outras atividades criminosas, como garimpo ilegal, grilagem de terras, extração de madeira e pecuária irregular. Por isso, os autores defendem ações integradas entre órgãos de segurança, Receita Federal, Coaf, Ibama e Funai, para enfraquecer a estrutura financeira das facções.
A publicação cita ainda que operações de rastreamento de recursos ilícitos, como a Operação Carbono Oculto, que identificou lavagem de dinheiro do tráfico por meio de postos de combustíveis, incluindo estabelecimentos no Tocantins e empresas de fachada, são consideradas mais eficazes do que ações de confronto direto.
*Com informações da Folha de São Paulo
