Uma nova técnica chamada desmate químico tem desafiado a vigilância por satélite usada pelo governo desde janeiro de 2023 para combater o desmatamento no Brasil. Apesar do monitoramento intensificado, fazendeiros têm utilizado essa prática para driblar a detecção e devastar áreas de floresta.

O exemplo mais recente envolve o pecuarista Claudecy Oliveira Lemes, apontado como responsável pelo maior dano ambiental da história do Pantanal. O método utilizado foi capaz de evitar a detecção pelos satélites, mas em solo a situação era visível: as árvores estavam morrendo, e uma área de floresta protegida, equivalente ao tamanho da cidade de Nova York (81 mil hectares), apresentava sinais de secagem. As folhas caíam, o dossel se desfazia e novas pastagens surgiam à medida que o sol penetrava a área degradada.

A destruição foi intencional, de acordo com matéria do New York Times, repercutida por veículos como France24, Environmental Health News e Wood Central. Autoridades brasileiras, após receberem denúncias anônimas, encontraram recipientes vazios de agrotóxicos em grande quantidade na região do Pantanal, indicando a pulverização da vegetação nativa. O gado já pastava nas novas áreas abertas.

Lemes, que possui um histórico de fornecimento para grandes frigoríficos como JBS, Marfrig e Minerva, conforme estudo da Mighty Earth em conjunto com a Repórter Brasil e a AidEnvironment, também já obteve financiamento do Banco do Brasil, apesar de responder a multas e investigações por crimes ambientais. Ele agora enfrenta processo judicial, acusado de protagonizar um dos maiores casos de desmatamento ilegal do Brasil. As autoridades pedem cerca de US$ 1 bilhão em indenizações pela destruição ambiental. O fazendeiro nega as acusações.

“O desmate químico é mais difícil de detectar, parece um incêndio, e você pode desmatar milhares de hectares em pouco tempo”, afirmou Ana Luiza Peterlini, promotora do Ministério Público de Mato Grosso. “Os criminosos estão sempre à nossa frente.” Segundo investigações, fazendeiros aplicam substâncias químicas para secar a floresta, facilitando a posterior queima que destrói as evidências. Rodrigo Agostinho, presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), afirmou: “Não temos dúvidas de que é uma prática muito comum, mas temos uma tremenda dificuldade em provar isso.”

Atualmente, não há registros oficiais sobre desmatamento químico em órgãos públicos brasileiros. De acordo com levantamento da Repórter Brasil, além da área destruída por Lemes, outros 47 mil hectares foram desmatados com uso de pesticidas desde 2010, embora esse número seja considerado subestimado.

Além do desmatamento em si, práticas como invasão de Terras Indígenas, uso de trabalho escravo e grilagem de terras públicas continuam associadas ao setor agropecuário. Uma iniciativa que também tem chamado atenção é o movimento “De Olho no Material Escolar” (Donme), que busca influenciar o conteúdo de livros didáticos, evitando que mostrem aspectos negativos da agropecuária. Segundo a Repórter Brasil, entre os líderes do Donme está Christian Lohbauer, ex-executivo da indústria de agrotóxicos e fundador do Partido Novo. Ele defende que o desmatamento ligado à pecuária na Amazônia é irrelevante e considera até poemas, como os de Ferreira Gullar, inadequados por críticas ao setor.

O Donme já firmou parcerias com instituições públicas como a USP, possui conexões com secretarias de Educação e Agricultura, e dialoga com o Congresso Nacional para influenciar o próximo Plano Nacional de Educação (PNE), que definirá as diretrizes educacionais para a próxima década. A entidade, que inclui 70 empresas entre seus membros, não revela quem são os financiadores por trás dessa operação (com informações do Instituto ClimaInfo).