Zanin recebe pedido da PF para ampliar prazo de apuração sobre venda de sentenças

01 setembro 2025 às 08h05

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A Polícia Federal pediu ao ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), a prorrogação por mais 60 dias das investigações sobre um suposto esquema de venda de decisões no Superior Tribunal de Justiça (STJ). O inquérito, que tramita sob sigilo, passou a ser tratado como mais sofisticado e abrangente do que se imaginava no início.
As apurações indicam que a rede envolvia lobistas, desembargadores do Mato Grosso e ex-servidores de quatro gabinetes do STJ. O que antes era visto como casos isolados de troca de minutas de decisões passou a ser considerado um sistema estruturado, com a participação de advogados, empresários do agronegócio, operadores financeiros e agentes do Judiciário.
Em documento encaminhado ao STF, a Polícia Federal informou que a análise das movimentações financeiras revelou novos indícios.
Envolvimento no Tocantins
O Tocantins também foi diretamente atingido pelas investigações. O prefeito de Palmas, Eduardo Siqueira Campos (Republicanos), chegou a ser afastado do cargo e preso em uma das fases da Operação Sisamnes, suspeito de obter informações sigilosas do STJ para fortalecer sua rede de influência política no estado.
Segundo a decisão que autorizou a prisão, Eduardo contava com a ajuda do advogado Antônio Ianowich Filho e do policial civil Marco Augusto Velasco Nascimento Albernaz, apontados como responsáveis por repassar detalhes de processos em Brasília. Os três foram detidos em maio de 2025, mas hoje já estão em liberdade.
As investigações também citaram o nome do advogado Thiago Marcos Barbosa, sobrinho do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), preso em março de 2025 sob suspeita de antecipar informações judiciais. Mensagens obtidas pela PF indicaram que ele teria vazado dados para proteger aliados.
Na esfera nacional, o lobista Anderson de Oliveira Gonçalves, suspeito de intermediar negociações de decisões em tribunais superiores, segue preso em Brasília. Já sua esposa, a advogada Mirian Ribeiro Rodrigues, cumpre prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica.
O STF deve concluir na próxima segunda-feira, 12, o julgamento de um recurso da defesa de Anderson, que tenta transferi-lo para prisão domiciliar. Até agora, três ministros da 1ª Turma, Zanin, Alexandre de Moraes e Flávio Dino, já votaram contra o pedido.
Origem da operação
Deflagrada em novembro de 2024, a Operação Sisamnes foi autorizada por Zanin e teve ações no Distrito Federal, Mato Grosso, Pernambuco e Tocantins. No total, foram cumpridos 24 mandados, sendo 23 de busca e apreensão e um de prisão preventiva.
Além da suposta comercialização de decisões, a PF também apura o vazamento de informações sigilosas sobre investigações em andamento, o que poderia comprometer operações policiais. Os crimes investigados incluem corrupção, organização criminosa, exploração de prestígio e violação de sigilo funcional.