Tocantins planeja saúde pública para população idosa crescente e especialistas projetam desafios

09 agosto 2025 às 09h00

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O Tocantins vive um processo de envelhecimento populacional que exige ajustes nas políticas públicas de saúde, segundo projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) baseadas no Censo Demográfico de 2022. A população do estado atingirá seu pico em 2048, com cerca de 1,7 milhão de habitantes, e a partir de 2049 iniciará um declínio gradual, acompanhando uma mudança no perfil demográfico que inclui o aumento da idade média dos moradores.
De acordo com o IBGE, a taxa de fecundidade entre 2000 e 2015 no Tocantins caiu de 2,8 filhos por mulher para 2,0, com expectativa de alcançar 1,5 filho por mulher em 2039, mantendo-se estável até 2070. Paralelamente, a idade média da população deve subir de 33,3 anos para 47,5 anos no mesmo período, refletindo o envelhecimento da população. Em 2070, 37,8% dos habitantes serão idosos.
Esse cenário de envelhecimento também impacta a dinâmica entre nascimentos e óbitos. Em 2049, o Tocantins terá 15.734 nascimentos contra 15.338 óbitos, mas em 2050 o número de mortes deverá ultrapassar o de nascimentos, o que pode alterar a composição da população.
Em entrevista ao Jornal Opção Tocantins, a médica geriatra Paula Fleury ressalta que as pessoas estão envelhecendo de forma geral, mas não necessariamente com mais saúde. Ela explica que hoje, graças ao acesso ampliado a medicamentos e terapias pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a expectativa de vida aumentou, mas a qualidade desse envelhecimento depende de cuidados multidisciplinares.
Envelhecimento saudável
Segundo a profissional, os cuidados para um envelhecimento saudável devem começar a partir dos 40 anos, com atenção à prática regular de atividade física, alimentação equilibrada, sono adequado e controle de comorbidades como hipertensão e diabetes, além do cuidado com a saúde mental.

A atividade física não precisa ser algo formal na academia, mas sim algo que a pessoa goste de fazer, para que haja prazer
Ela também chama atenção para o impacto das doenças mentais, que têm crescido tanto entre jovens quanto idosos. Segundo ela, quase 50% da população americana já é portadora de alguma doença mental e que entre os idosos os transtornos do sono são predominantes, agravando outras condições.
A Secretaria de Estado da Saúde do Tocantins (SES-TO), em resposta ao Jornal Opção, informa que segue a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI), que visa garantir uma atenção adequada e digna a esse segmento da população. O envelhecimento crescente exige a ampliação e qualificação dos serviços de saúde, com foco na promoção, manutenção e recuperação da autonomia e independência dos idosos.
Aumento da demanda relacionadas à saúde
A SES-TO destaca que, com o aumento da população idosa, cresce também a demanda por serviços para o tratamento de doenças crônicas não transmissíveis, especialmente as relacionadas ao aparelho circulatório e neoplasias. Além disso, o aumento do número de idosos octogenários traz desafios ligados a casos crescentes de demência, fraturas do fêmur e sequelas de acidente vascular cerebral.
Esse cenário exigirá mudanças no modelo de atenção em saúde, com a transição da cura para o cuidado; da atenção centrada na doença para a atenção centrada na pessoa e na família; e do cuidado uniprofissional para o compartilhado interprofissional
A Atenção Primária à Saúde permanece como porta de entrada e coordenadora dos serviços do SUS, oferecendo ações como promoção da saúde, prevenção de doenças, acompanhamento domiciliar, controle de condições crônicas, avaliação multidimensional do idoso e cuidados paliativos.

No estado, a SES-TO tem implementado essas diretrizes por meio do Projeto Atenção 60+, que qualifica as equipes da Estratégia Saúde da Família, Saúde Bucal e multiprofissionais da Atenção Primária. O projeto inclui o lançamento do Guia de Saúde da Pessoa Idosa do Tocantins, que busca promover um cuidado integral, resolutivo e longitudinal para essa população.
Dados do IBGE também mostram avanços importantes no Tocantins, como a redução da taxa de mortalidade infantil, que caiu de 39,3 para 12,5 mortes por mil nascidos vivos entre 2000 e 2024, com expectativa de chegar a 6,1 em 2070. A expectativa de vida aumentou para 76,7 anos em 2024, sendo 73,4 anos entre homens e 80,3 anos entre mulheres.
Dados nacionais
Segundo o IBGE, a população do Brasil chegará ao seu auge em 2041, com 220,4 milhões de habitantes, passando a diminuir a partir desse ano. Entre 2000 e 2023, a taxa de fecundidade recuou de 2,32 para 1,57 filho por mulher, com previsão de atingir seu ponto mais baixo, de 1,44, em 2041.
A idade média da população brasileira elevou-se de 28,3 anos em 2000 para 35,5 anos em 2023, e deve alcançar 48,4 anos até 2070. A mortalidade infantil também apresentou queda significativa, enquanto a expectativa de vida, apesar do impacto causado pela pandemia, está projetada para continuar em crescimento.