Por Carmo Gomes

É difícil de acreditar, mas é verdade: o livro de lançamento mais aguardado desta semana em Palmas foi totalmente produzido pelo sonho e esforço pessoal de um professor da educação básica, Josemar Soares e seus pequenos e talentosos alunos.

Conheci Josemar quando fui seu professor há cerca de dez anos, na licenciatura em Letras pelo Programa Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor) na UFT de Porto Nacional. Foi nessa ocasião que apresentei a Josemar e seus colegas o meu cordel didático sobre preconceito linguístico e evasão escolar, inspirado no conto de Fidêncio Bogo: As desventuras de Nóis Mudemo.

Josemar gostou do livreto, a ponto de o adotar como parte de uma iniciativa de estímulo à leitura e produção escrita com seus alunos da Escola Municipal de Tempo Integral Santa Bárbara, situada no bairro de mesmo nome, em Palmas. Os pequenos se empolgaram tanto com os resultados que posteriormente fui convidado a ir até a escola conferir os poemas que eles haviam produzido e me lembro de haver ficado impressionado com a diversidade e qualidade dos versos da garotada. Orgulhosos, os alunos me presentearam com seus poeminhas, que haviam sido impressos em papéis coloridos e durante um bom tempo os tive bem guardados comigo.

Mas não foram só os pequenos que se animaram com a escrita; Josemar tomava gosto pela ideia de formar não apenas leitores, mas também escritores mirins. Escritores não apenas em papeizinhos, mas de livro e tudo. Foi com essa ideia que ele deu o próximo passo; este ano, depois de mais uma edição do seu projeto de escrita em sala de aula, reuniu os melhores contos obtidos e partiu para essa verdadeira batalha que é publicar livros no Brasil, mais ainda no Tocantins. Com o apoio e auxílio do bibliotecário da escola, Uágno Lima, que editou o livro e encabeçou a publicação com a plataforma de autopublicação sob demanda UICLAP, Josemar conseguiu uma verdadeira façanha entre nós: publicar um livro infantil escrito por crianças de uma escola pública.

E não é só isso. Quem comparecer ao lançamento de Se eu contar ninguém acredita (nesta segunda-feira, 26, às 19h, na Escola Santa Bárbara), adquirir o livro (haverá poucos exemplares disponíveis nessa primeira tiragem) e o abrir vai conferir que se tratam de histórias divertidas e bem escritas. Os autores têm entre 9 e 10 anos, o que é mais surpreendente, pois bom gosto não lhes falta, a começar dos títulos, como estes: “O cachorro que queria comer minha bochecha”, de Emilli Eduarda e “O dia que minha vizinha quase me trocou por um Iphone”, de Evellyn Rodrigues.

O leitor vai sorrir feito bobo com as anedotas da Michelly Rodrigues (9 anos!) em “Todo mundo ama meu irmão”; vai se comover com o relato meio autobiográfico da Emilli Eduarda; se surpreender com o humor refinado da Ester Mourão relatando a aventura dos “Caçadores de Tatu”; a leveza brincalhona do Victor José, esse legítimo “Engenheiro de papelão”; a maturidade narrativa da Evellyn Rodrigues (principalmente em “O mistério do hotel mal-assombrado”, o segundo dos seus dois contos); a infância risonha que a Ysabela Soares conseguiu gravar em “A menina do barro”; a generosidade pacífica da Sara Rebeca em “A menina que não come carne” e o talento que a Juliana Morais tem para concluir uma história (“O dia que fritei minhas duas mãos na frigideira”).

Se eu contar ninguém acredita é uma coletânea que revela que a literatura tocantinense tem futuro: bastam dez professores entusiastas como Josemar, umas tantas parcerias como a do Uágno e mais oito crianças talentosas como essas do Santa Bárbara. Vale a pena aparecer para conferir este lançamento e disputar um autógrafo desses verdadeiros escritores!

Este artigo reflete a opinião pessoal dos autores, não representando necessariamente a posição editorial do Jornal Opção Tocantins.