Ponte JK: Mais que infraestrutura, governo federal precisa devolver dignidade ao Bico do Papagaio

01 abril 2025 às 17h05

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Não é sobre governo A ou B. A cobrança seria a mesma ao governo anterior. Mas a máxima é que o governo federal, hoje comandado pelo presidente Lula (PT), precisa adiantar a vida das pessoas que ficaram após a queda da ponte que ligava o Tocantins ao Maranhão.
A remoção dos veículos submersos no Rio Tocantins após o desabamento da Ponte JK, prevista para abril, é um passo importante, mas tardio. O que deveria ser uma ação emergencial só agora entra em sua fase de execução, quatro meses após o desastre que deixou 17 mortos. A demora reforça a sensação de abandono vivida pelos moradores do Bico do Papagaio.
Desde o desmoronamento em dezembro de 2024, a população tem lidado com dificuldades diárias. A sobrecarga das rodovias alternativas afeta tanto caminhoneiros quanto os moradores de Axixá, São Miguel, Sítio Novo e Tocantinópolis, que veem as condições das estradas se deteriorarem rapidamente. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) promete intervenções, mas as manutenções na TO-134 e na TO-201 só devem começar em junho, quando a precariedade já terá imposto seu preço aos moradores e ao setor produtivo da região.
A demora na retirada dos caminhões também carrega um risco ambiental considerável. Entre os veículos submersos, dois carregavam 76 toneladas de ácido sulfúrico e um transportava 22 mil litros de defensivos agrícolas. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) identificou pequenos vazamentos, e embora o Ministério da Saúde tenha minimizado os impactos, o perigo só será efetivamente eliminado com a retirada completa dos caminhões-tanques.
Porém, além da infraestrutura, é preciso discutir o impacto social dessa tragédia. Famílias perderam seus entes queridos e, até agora, não há qualquer posicionamento sobre compensação por parte do DNIT, considerando que a ponte era federal e sua queda foi resultado da falta de manutenção. O que o governo federal pretende fazer para amparar essas 17 famílias que perderam seus entes queridos de forma trágica?
Além disso, também não se fala em auxílio para os trabalhadores da região que perderam seus empregos devido às dificuldades logísticas e econômicas. Pequenos comércios que dependiam do fluxo de veículos na região foram impactados diretamente, mas até agora não houve qualquer plano de apoio por parte do governo federal.
O DNIT informa que a reconstrução da nova ponte segue o cronograma previsto, com entrega no final de 2025. Após a demolição mecanizada dos detritos, iniciaram-se as escavações para a implantação das fundações. O investimento será de R$ 171,9 milhões do governo federal. Também foram assinados contratos emergenciais para recuperação de rodovias estaduais, com investimentos de R$ 150 milhões, e a operação de balsas 24 horas por dia para auxiliar a locomoção.
Apesar dessas medidas, fica a pergunta: o que está sendo feito para ajudar as pessoas? As respostas precisam ir além das promessas de infraestrutura. A reconstrução não pode se limitar ao concreto da nova ponte, mas deve incluir também a dignidade das famílias afetadas e um plano claro de assistência para os que perderam seus entes queridos nessa tragédia anunciada.