*Rubens Martins

Há, de fato, no Brasil, uma literatura brasileira, a qual é representada por um conjunto de obras que envolvem diferentes gêneros, estilos, aspectos históricos, geográficos e sociais. Isso significa dizer que a literatura brasileira correspondente ao constructo da identidade nacional.
Desde a época do “descobrimento”, as manifestações literárias passaram por fases e movimentos que reverberaram o porquê das transformações culturais do Brasil, considerando-se, para tanto, os movimentos literários históricos e os contemporâneos.

Notadamente, a literatura brasileira conta com grandes ícones, os quais, em suas épocas, produziram suas artes literárias a partir de contextos regionais. Nesse foco, escritores como Machado de Assis, Graciliano Ramos, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, José de Alencar, para citar alguns, produziram suas obras centradas em experiências de suas vivências locais, as quais, posteriormente, ganharam o território nacional em razão do grande diálogo atemporal.

Em face da expressividade conquistada e reconhecida, os ícones ora mencionados, foram, em certo tempo, escritores regionais. Nesse sentido, esta breve reflexão sustenta sua problemática no seguinte questionamento: o mais novo estado da federação brasileira, o Tocantins, tem uma literatura tocantinense? Ou seria essa literatura chamada de literatura produzida no Tocantins?

A resposta a esse questionamento leve em conta que existe uma literatura brasileira, a qual resulta da farta produção literária de diferentes localidades. Nesse sentido, há uma literatura que é produzida no Tocantins, a qual se confunde, com literatura tocantinense. Isso se explica porque a literatura tocantinense corresponde a uma produção literária que leva em conta a exploração de aspectos relacionados à história, geografia, cultura e o cotidiano do Tocantins.

Em ampliação ao exposto, a literatura tocantinense é aquela que manifesta a valorização da identidade regional, o resgate de tradições e a representação das paisagens e peculiaridades locais. Além disso, essa literatura pode explorar aspectos vinculados às questões históricas sobre colonização, formação social, questões ambientais, dentre outros temas da região. O fato da não existência destes pressupostos em determinadas obras, favorece a percepção de uma arte literária produzida no Tocantins, mas que, de certo modo, não retrata a sua riqueza.

A literatura produzida no Tocantins corresponde, grosso modo, a obras que não falam desse espaço territorial, mas que resultaram de uma publicação resultantes de cidadãos que nele residem. Assim, e a partir de 1988, ano de criação do estado do Tocantins, principalmente a partir de 1989, ano de criação da capital provisória na cidade de Miracema, quaisquer produções literárias vinculadas aos municípios tocantinenses passaram a representar a literatura tocantinense ou a literatura produzida no Tocantins.

O olhar para a valorização dos escritores da chamada região norte, no papel do reconhecimento do potencial de suas obras, oportuniza a identificação da contribuição que eles têm dado à construção de uma identidade literária do Estado. Desse modo, compreende-se que a literatura brasileira congrega as manifestações literárias dos diferentes estados e municípios. Afinal, o que importa ao campo da literatura tocantinense é a compreensão de que esta arte estética será, um dia, reconhecida nacionalmente em razão da expressividade de sua força, bem como em razão de sua capacidade de evolução e diversificação da riqueza literária e cultural desse Estado.

*Professor doutor Rubens Martins da Silva, coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas da Literatura Tocantinense (GEPLIT).