A recente proposta da deputada estadual Vanda Monteiro (UB) para instituir o Dia Estadual do Beach Tennis no Tocantins coloca uma pulga atrás da orelha sobre as prioridades do poder legislativo tocantinense. Embora o esporte seja uma atividade em ascensão e traga benefícios para a saúde e lazer da população, sua inclusão no calendário oficial de eventos do Estado contrasta com a dura realidade vivida por quase um terço dos tocantinenses que ainda estão abaixo da linha da pobreza.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022 apontam que, embora tenha havido uma redução na população em situação de pobreza no Estado – de 42,8% em 2021 para 28,6% em 2023 –, o problema ainda é gigante. Em números absolutos, isso significa que 465 mil pessoas no Tocantins vivem com menos de R$ 665 por mês, enquanto 69 mil estão na extrema pobreza, sobrevivendo com menos de R$ 209 mensais. Diante desse cenário, é difícil justificar a urgência e a relevância de um projeto de lei que apenas cria uma data comemorativa para um esporte de nicho e, ainda por cima, elitista.

O beach tennis, apesar de seu crescimento, ainda é uma modalidade restrita a determinadas camadas sociais. O custo elevado de equipamentos, quadras e treinamentos o torna inacessível para grande parte da população. Diferente de esportes populares como o futebol ou o vôlei, que podem ser praticados em qualquer espaço público com recursos mínimos, o beach tennis exige estrutura e investimento que poucos podem bancar. Isso torna ainda mais questionável a necessidade de uma lei voltada a promovê-lo, quando tantos outros esportes mais acessíveis poderiam ser incentivados de forma mais inclusiva.

A questão aqui não é desmerecer o beach tennis, mas sim ponderar sobre a falta de iniciativas legislativas que possam impactar de forma concreta e positiva a vida dessas milhares de pessoas em situação de vulnerabilidade. Em vez de aprovar leis simbólicas e sem efeitos práticos, o parlamento tocantinense deveria focar em propostas que promovam geração de emprego, qualificação profissional, investimentos em educação e assistência social.

Além disso, o próprio governo estadual vem comemorando o avanço na redução da pobreza, atribuindo-o a medidas voltadas à atração de empresas e fortalecimento da economia. Se há uma melhora nas condições socioeconômicas do Estado, este deveria ser um momento para intensificar esforços nesse sentido, ampliando políticas públicas eficazes e garantindo que mais pessoas possam sair da linha da pobreza. Infelizmente, o que se vê no legislativo é a priorização de pautas supérfluas em detrimento de debates mais urgentes e necessários.

O esporte pode e deve ser incentivado, mas precisa ser feito de forma integrada a uma política pública que realmente atenda às necessidades do povo. Criar um dia comemorativo não resolve nada. Melhor faria a deputada Vanda Monteiro se propusesse ações concretas para democratizar o acesso ao esporte, principalmente para as camadas mais pobres da sociedade.

A população tocantinense merece mais do que leis meramente decorativas. O desenvolvimento do Estado depende de políticas que enfrentem de frente os desafios sociais, e não de projetos que apenas reforçam a desconexão entre os legisladores e a realidade da maioria dos cidadãos.