Resultados do marcador: Saúde Mental

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Saúde
Tocantins registra 10% em redução dos casos de suicídio em 2024

Apesar da queda, os casos de violência autoprovocada aumentaram, destacando a necessidade de ações contínuas no cuidado à saúde mental no estado

Crise
Em 2024, Tocantins registrou mais de mil casos de afastamento por saúde mental

O Brasil teve aumento no afastamentos por problemas de saúde mental, com destaque para os casos de depressão, refletindo uma crise que impacta o mercado de trabalho e a saúde pública

Capacitação
Projeto ‘Nós na Rede’ abre vagas para qualificação de profissionais de saúde mental no Tocantins

Projeto do Ministério da Saúde oferece capacitação para profissionais da Rede de Atenção Psicossocial; Tocantins já solicitou 438 vagas

Variedades
Ter um gato pode ajudar na saúde mental e física

Pesquisadores estudam os benéficos na conexão entre humanos e gatos

Setembro Amarelo
Tocantins conta com mais de 20 Centros de Atenção Psicossocial para atender população em sofrimento mental 

Estado registrou 159 mortes por suicídio em 2023, apontam dados da SES

Luta pela saúde mental das mulheres em situação de vulnerabilidade: possibilidades e limites da atuação da Incubadora Social

Hareli Cecchin*

Enquanto a campanha “Janeiro Branco” nos convoca a refletir sobre a saúde mental, buscando promover a prevenção e o tratamento de doenças como ansiedade, depressão e pânico, é crucial destacarmos os desafios especiais das mulheres brasileiras em situação de vulnerabilidade social em torno dessa questão – um debate que a Incubadora Social da Universidade Federal do Tocantins tem se empenhado em promover.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, aproximadamente 11,5 milhões de brasileiros enfrentam quadros de depressão, correspondendo a 5,8% da população. Os distúrbios psicológicos afetam cerca de 22 milhões de brasileiros, representando 12% da população, enquanto quase 19 milhões de indivíduos do país convivem com algum tipo de transtorno de ansiedade, o que equivale a quase 9,3% da população. Mais do que estatísticas, esses números representam histórias reais de dor e resiliência.

Anualmente, são registrados 800 mil casos de suicídio no mundo, frequentemente relacionados a episódios graves de depressão não identificada ou tratada. As mulheres apresentam maior suscetibilidade à depressão, que se configura como um tipo de transtorno mental.

Em meio aos desafios enfrentados pelas mulheres brasileiras, a saúde mental emerge como uma preocupação crucial que merece atenção dedicada. A realidade é que as mulheres muitas vezes carregam fardos múltiplos, equilibrando responsabilidades profissionais, familiares e sociais. A pressão cultural e as expectativas muitas vezes exacerbam o estresse, contribuindo para a prevalência de problemas de saúde mental. Segundo o último relatório da organização internacional IHME (The Institute for Health Metrics and Evaluation), 45% das mulheres entrevistadas afirmaram ter algum diagnóstico de transtorno mental, com maior prevalência de depressão e ansiedade.

Isso é especialmente importante quando consideramos a realidade de mulheres de classes sociais mais baixas. Nesse contexto, tiveram início em 2023 e devem se estender ao longo de 2024, em Palmas e Araguaína, as atividades da Incubadora Social. A Incubadora é um projeto de extensão da Universidade Federal do Tocantins que tem como meta beneficiar 500 mulheres e suas famílias nos dois maiores municípios do estado. O foco são mulheres em situação de vulnerabilidade social, em especial pessoas em situação de rua, para oportunidades de capacitação e acolhimento. Uma das principais frentes de atuação do projeto, além da realização de oficinas e cursos, são os encontros periódicos de atendimentos psicossociais em grupo, acompanhados por profissionais da Psicologia, Assistência Social e Terapia Ocupacional.
Em Palmas-TO já foram realizados três encontros com a participação de 60 mulheres. Como psicóloga do projeto na capital, tenho percebido que as mulheres em vulnerabilidade sofrem múltiplas violências e que isso contribui para que elas tenham dificuldade em desenvolver sua autonomia. Ao final de um dos encontros, uma das participantes relatou que havia sofrido violência física do marido e estava sob medida protetiva. Com cinco filhos, me disse que não recebia pensão alimentícia e ainda enfrentava a suspeita de um diagnóstico de autismo do filho caçula. Ela pediu ajuda para que a criança pudesse passar por uma avaliação profissional e eventual encaminhamento para acompanhamento médico e psicológico, caso fosse necessário. Movi todos os meus esforços para ajudá-la – já que uma das propostas da Incubadora é identificar esse tipo de necessidade e encaminhar as participantes aos diferentes serviços da rede pública de assistência social – e descobri que, devido à fila de espera, o tempo para este atendimento pode chegar a até quatro anos. Fiquei pensando em todas as dificuldades que esta mulher enfrenta e como este tempo de espera pode prejudicar o desenvolvimento da criança. Essa situação é apenas um exemplo de como as questões da saúde mental afetam de modo especial as pessoas de baixa renda, que enfrentam desafios ainda maiores para ter acesso a atividades de prevenção, diagnósticos e tratamentos adequados. Está, também, diretamente relacionada aos resultados do relatório internacional do IHME, que apontam que as mulheres mais prejudicadas são negras e das classes D e E, cujos índices de insatisfação na vida financeira superam os 50%.

Vivemos um momento muito difícil da sociedade brasileira em que a saúde mental deve ser olhada com muita atenção pelos gestores públicos. Faz-se necessário iniciativas individuais, da sociedade civil, do setor privado e, especialmente, do setor público voltadas a promoção da saúde mental da mulher. A Incubadora Social é uma iniciativa positiva que tem potencial de ajudar muitas pessoas, mas sua atuação é limitada e o seu êxito depende da continuidade do acompanhamento dessas mulheres, da participação das diferentes esferas do poder público e da mobilização de outros esforços por meio da rede de atenção às mulheres em situação de vulnerabilidade que a equipe da Incubadora também vem se esforçando em fortalecer. É preciso considerar o tema de maneira interdisciplinar, olhando para o cuidado, o peso excessivo de responsabilidades e a tendência à feminização da pobreza. É fundamental quebrar o silêncio em torno dessas questões e fomentar diálogos abertos para construir uma sociedade mais compreensiva e solidária em relação à saúde mental das mulheres no Brasil.
Para saber mais sobre as atividades da Incubadora Social, acesse o Instagram @incubadorasocialuft ou envie e-mail para [email protected].

*Psicóloga (CRP-23/743), integrante da equipe multiprofissional do projeto Incubadora Social da UFT, especialista em Logoterapia e Análise Existencial, e doutora em Psicologia Clínica e Cultura.