Por Redação

Silvio era a cara de uma era da TV que não existe mais. O engajamento, a repercussão, a euforia, para o bem e para o mal, se foram

* Rubens Gonçalves
Uma sombra persistente que se recusa a se dissolver na luz da consciência; que se arrasta ao nosso lado, indesejada, como um lembrete constante da nossa vulnerabilidade frente a um mundo que parece nunca dar trégua. Um zumbido eterno no fundo da mente. Uma melodia dissonante que nos acompanha até nas horas mais silenciosas da noite. Mas a verdadeira tragédia não está apenas no sentir. Ela se esconde no fato de que nos isolamos em um universo de inquietações pessoais, enquanto o mundo continua a girar, impassível.
A ironia cruel? Em um mundo no qual a comunicação nunca foi tão acessível, nos tornamos cada vez mais distantes. Cada notificação, cada e-mail não lido, cada mensagem que exige resposta, é uma gota no oceano do nosso estresse diário. Somos navegantes em um mar de informação que, em vez de nos trazer clareza, nos afunda ainda mais em nossa própria turbulência.
E não há discriminação. Classe social, idade, origem, nada importa. É a revelação constante de nossa fragilidade diante da eterna pressão: não atender às expectativas alheais, não alcançar metas, falhar… Tudo se amalgama em um caldo de inseguranças que fervilha dentro de nós.
Buscamos refúgio. Tentamos nos distrair com um episódio de série ou uma compra online. Mas ela persiste, como um espelho cruel que reflete nossa incapacidade de simplesmente parar. Respirar…
Nos esforçamos para controlar o incontrolável. Lemos livros de autoajuda, em busca de soluções rápidas, receitas mágicas para a paz interior. Mas, talvez, a resposta resida em algo mais simples: aceitar nossa própria imperfeição.
Vivemos uma era de demandas implacáveis e expectativas irreais, que exige coragem para simplesmente estar presente, mesmo quando a mente clama por outro roteiro. Um roteiro no qual os problemas desaparecem. E, por fim, descobrimos a beleza tênue na simplicidade da vida.

Não vou falar que ele era o maior “case” de sucesso e superação da TV brasileira, porque isso todo mundo já sabe. Quero falar das minhas tardes de domingo com minha família…

A frequência esporádica e preocupante de incêndios que vem acometendo áreas periféricas de grandes cidades é uma das várias questões brasileiras que não têm tanta luz jogada ou explicações alcançadas sobre essas situações. No final de junho deste ano, um incêndio considerado de grande proporções pelas forças de segurança, atingiu dezenas de residências na comunidade Olaria, no bairro Campo Limpo, em São Paulo. Foram cerca de 1.500 metros quadrados que viraram cinza. Felizmente ninguém ficou ferido. Cerca de 300 famílias foram prejudicadas e traumatizadas.
Em janeiro deste ano, cerca de 1.200 pessoas foram acometidas por um incêndio no bairro Real Parque, localizado no distrito do Morumbi. 320 casas pegaram fogo. A causa do incêndio foi dada como desconhecida. Baseado em informações dos Corpos de Bombeiros de São Paulo, em 2002, na favela próxima do Marginal do Pinheiro, 1.131 famílias também foram vítimas de incêndios.
Também em janeiro a favela de Coelhos, na Ilha do Leite, localizada no centro de Recife, sofreu com a desgraça das chamas que começaram às sete e meia da manhã. As casas de palafitas carbonizaram rápido.
O que se repete em casos como esses são a ausência de conclusões investigativas e contextos instáveis no que se refere à direito à moradia e documentação das residências presentes nesses locais. E claro, o interesse de todas áreas serem desocupadas por essas famílias para algum objetivo que não vai a favor dos interesses de empresários e políticos beneficiados por essas decisões.
Não existe atenção e política pública por parte do Estado destinadas a essas periferias e, por conta da falta de prevenção e melhorias dos gestores, tragédias acabam sendo mais comuns do que deveriam. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), entre o período de 2001 e 2016, as favelas localizadas nas áreas mais valorizadas podem ter até duas vezes mais ser acometidas por incêndios do que bairros que o metro quadrado com valor na média ou abaixo.
As comunidades se tornaram mais valorizadas após a operação urbana, o estudo revelou um aumento de 80% no risco dessas favelas sofrerem incêndios criminosos. O valor da localização e o aumento dos incêndios existe e não pode ser ignorada. É nítido e cruel a falta de investigação e conclusões em relação a esses casos que beneficiam um setor econômico. Se trata do despejo de famílias vulneráveis socialmente que, segundo o estudo, tem um aumento que não passa por coincidência.
Em Goiânia, 2005, não houve incêndio, mas houve a remoção violenta e criminosa de 3.000 famílias que ocupavam o bairro Parque Oeste Industrial em Goiânia. A comunidade era chamada Sonho Real. 800 pessoas foram detidas, 16 feridos e três mortos. Só em janeiro de 2020 464 famílias receberam escrituras das casas que ocupam no Residencial Real Conquista, na região Sudoeste da Capital.
Hoje, a área no Parque Oeste Industrial que era ocupada pelos moradores tem prédios residenciais enormes, feitos pelas predadoras construtoras civis. Difícil escrever que a morte é usada como instrumento de mudança nos grandes capitais. Em alguns momentos nítidos como desocupações entre polícia e moradores em conflitam matam, e em outros momentos mais silenciosos, com a falta de investigações e a devida atenção a incêndios em zonas valorizadas pelo mercado imobiliário que coincidentemente assumiram frequência.

Fontes de energia renovável são prioridades apontadas pelas Nações Unidas, e o país pode sair na frente nessa corrida

Carmo Gomes*
Todo mundo conhece o lugar em que se passou a história que acabou dando origem à anedota do boi de piranhas. Não é muito difícil descobri-lo, bastando, para tanto, ouvir a música “Travessia do Araguaia” dos saudosos Tião Carreiro e Pardinho.
Pois certo viajante, passando por aquele lugar, resolveu conhecer mais de perto as origens da fábula. Escolheu para uma conversa um magro e simpático velhinho que pescava pacientemente às margens do formidável rio. O bom homem o atendeu com presteza, alegre pela oportunidade de falar das coisas da sua terra.
O viajante quis saber se havia mesmo muitas piranhas naquela região, com a desculpa de fazer o outro rememorar o famoso acontecimento. Para sua surpresa, o velhinho tinha para o evento uma outra versão, bastante inglória e pouco favorável. O viajante chegou a supor que, doravante, a anedota do boi de piranhas não deveria mais ser usada como analogia dos expedientes da política brasileira, já que o velhinho disse, convicto, que fizera parte do comboio cantado na música e que o verdadeiro ocorrido da história tinha sido mais ou menos assim.
Sendo muito comum que um indivíduo mais lento ou menos saudável da boiada fosse devorado nas travessias do Araguaia, naquela cheia os bois – e o velhinho garantiu ser possível não só tal fabulação como sua recorrência – os bois como que se olharam e tomaram uma decisão: todos passariam lentamente, como se todos fossem bois de piranha. Isso confundiria, como de fato confundiu, os parvos peixes, que ficaram sem saber a qual mocotó se dedicar. Assim, todos os bois levaram algumas mordidas leves; mas, como eram muitos e como tinham tido a vantagem da surpresa, chegaram, a bem-dizer, intactos na outra margem…
Ora, para evitar que aquilo se tornasse uma estratégia comum e mesmo uma desmoralização completa, uma piranha inteligente se encarregou de espalhar o boato, a outra versão da história, a qual se encontra, desde então, completamente disseminada.
Amoral da fábula: (versão cínica das piranhas) é preciso insinuar que todo mundo vai cair para que caia pelo menos um; (versão resignada dos bois) antes todos serem devorados aos poucos do que um só ser devorado por vez.

* Nascido em Bandeirantes do Tocantins (TO) em 1974, Carmo Gomes foi alfabetizado pela mãe e iniciado no mundo literário pelas rodas de cordel do pai. Fez seus estudos universitários na Federal de Goiás e é professor de Letras na UFT de Porto desde 2011. Tentou escrever o primeiro enredo policial aos 15, mas só lançou o primeiro romance em 2018, aos 46 anos. Era o primeiro livro da sua trilogia "Beleza & Temor", da qual já publicou também o segundo volume. Publicou ainda o cordel "As desventuras de Nóis Mudemo".

Morreu nesta terça-feira, 13, o jornalista Athos Pereira, uma das vozes mais influentes na defesa da liberdade e da justiça social em Goiás e no Tocantins e natural de Porto Nacional. Conhecido por sua militância contra a ditadura militar e por sua contribuição na construção do Partido dos Trabalhadores (PT), Athos lutava contra um câncer e deixa um legado inestimável e saudades entre aqueles que tiveram a honra de conhecê-lo e trabalhar ao seu lado.
Athos Pereira dedicou sua vida à luta por um Brasil mais justo e democrático. Durante os anos de repressão, foi um incansável defensor dos direitos humanos, sendo obrigado a se exilar para escapar da perseguição política. No exterior, em países como Chile, México e Bélgica, continuou sua trajetória como autodidata, se tornando um grande intelectual da esquerda brasileira.
De volta ao Brasil, Athos foi um dos fundadores do PT, onde atuou como dirigente e chegou a ser candidato a senador. Além disso, trabalhou por muitos anos como chefe da Assessoria da Bancada de Deputadas e Deputados do PT na Câmara Federal, contribuindo significativamente para a formação de novas gerações de militantes e políticos.
Em suas últimas décadas, Athos foi uma presença constante na cidade de Goiás, onde seu nome continuará a ser lembrado como um símbolo de resistência e compromisso com a democracia. Sua morte gerou manifestações de pesar e homenagens de diversas personalidades e amigos.
Athos era irmão de outros dois grandes nomes da história de Porto Nacional, Osterno Pereira, que foi prefeito da cidade, cassado pela ditadura militar em 1963 e também de Pedro Tierra (Hamilton Pereira), poeta e ex-dirigente nacional do PT.
Segundo amigos seu corpo será cremado e suas cinzas serão jogadas no Rio Tocantins em Porto Nacional
Manifestações pela morte de Athos
Ao Jornal Opção, a jornalista Laurenice Noleto destacou a importância de Athos como profissional e militante. “Eu o conhecia há muitos anos e sou amiga da sua mulher, a jornalista Thais Pires. Athos era um excelente jornalista, de uma família de grandes lutadores, no campo da esquerda”, completa Nonô Noleto, como é carinhosamente conhecida.
O ex-ministro José Dirceu destacou o impacto de Athos em sua trajetória: “Infelizmente partiu hoje Athos Pereira, nosso mestre em todas as lutas, presença fiel nos dias fáceis ou difíceis. Lutou a boa luta durante toda a sua vida em favor da liberdade e da justiça. Deixa saudades e boas e alegres lembranças”.
A jornalista Cida Dias, de Itumbiara, ressaltou a coragem de Athos: “Exemplo de luta e de coragem! Deixa imenso legado em defesa de um país justo e democrático! Vá em paz, Athos, e que sua passagem seja iluminada. Meus sentimentos à Thais e a todos os familiares”.
A sobrinha de Athos, jornalista Luiza, também expressou sua tristeza e admiração: “Meu tio querido, irmão generoso, companheiro de vida da Thaís e de nós todos em tantas batalhas. Deixa pra gente seu exemplo de coragem, lealdade e idealismo. Escolheu o dia 13 para sua passagem, como seu último ato de amor pela causa. Saudades!”
O advogado e professor de Direito Constitucional José do Carmo, de Goiás, relembrou a trajetória de Athos como um desafiador da ditadura: “ATHOS PEREIRA foi, na juventude, um desafiador da ditadura militar, desde as margens do Tocantins. Teve que se exilar para escapar da tortura e da morte. Minha formação política eu devo, em grande parte, ao ATHOS PEREIRA e ao seu querido irmão, HAMILTON PEREIRA (PEDRO TIERRA). Sua militância nunca terá fim!”.

Proposta é o segundo texto de regulamentação da reforma tributária

Amanda Alcântara, de 18 anos, foi vista pela última vez no dia 7 após ser deixada no trabalho pelo irmão

Antônio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento, morreu na madrugada de desta segunda-feira, 12, aos 96 anos. Internado desde o dia 5 no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, Delfim Netto não teve a causa da morte divulgada oficialmente, com a assessoria informando apenas “complicações no seu quadro de saúde.”
Ele deixa uma filha e um neto. Segundo a assessoria do ex-ministro, o velório será fechado ao público, restrito apenas à família.
Delfim Netto foi um professor, economista, político e diplomata brasileiro, que esteve à frente do Ministério da Fazenda durante boa parte da ditadura militar no Brasil. Ele é conhecido por ter sido um dos principais formuladores da política econômica durante o regime, atuando como ministro em diferentes períodos e sob vários governos militares.
Ministro da Fazenda (1967-1974): Durante o governo do presidente Costa e Silva e, posteriormente, do general Médici, Delfim foi o principal responsável pelo “Milagre Econômico Brasileiro,” um período de rápido crescimento econômico que o Brasil experimentou entre o final dos anos 1960 e início dos 1970. Embora o país tenha crescido significativamente, esse crescimento também levou a um aumento da desigualdade e a uma grande dívida externa.
Ministro da Agricultura (1979-1985): Delfim serviu como ministro da Agricultura durante o governo do general João Figueiredo. Durante esse período, ele foi responsável por diversas políticas voltadas ao aumento da produção agrícola e à modernização do setor.
Ministro do Planejamento (1979-1985): Ainda no governo Figueiredo, Delfim Netto também ocupou o cargo de ministro do Planejamento, onde teve um papel central na gestão econômica do país, especialmente no contexto da crise da dívida externa e do esgotamento do “milagre econômico.”
Quem era Delfim Netto
Delfim Netto nasceu em 1º de maio de 1928, em São Paulo. Ele implementou políticas que desencadearam o “milagre econômico”, um período de rápido crescimento econômico que se concentrou na atração de capital externo e no aumento do Produto Interno Bruto (PIB). Delfim também é lembrado por ter sido um dos signatários do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), em dezembro de 1968, que intensificou o regime militar e permitiu a perseguição de opositores políticos.
Após o fim do regime ditatorial, Delfim foi deputado federal por São Paulo por 20 anos. Ele também manteve uma relação próxima com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo sendo filiado ao Partido Progressista (PP) e ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), então conhecido como PMDB. Na década de 1970, Delfim atuou como embaixador do Brasil na França por três anos.
Sua ascensão política começou em 1966, quando assumiu a Secretaria da Fazenda de São Paulo, durante o governo de Lauro Nadel. Em 1967, deixou o cargo para se tornar ministro da Fazenda no governo do general Artur da Costa e Silva. Como ministro, Delfim foi associado ao “milagre econômico”, período em que o fácil acesso a empréstimos impulsionou o consumo e a produção de bens duráveis no Brasil, especialmente eletrodomésticos e automóveis. O país registrou crescimento econômico de cerca de 11% ao ano, embora esse período também tenha sido marcado pela crescente concentração de renda.
Delfim Netto é autor da frase “fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo”, defendendo que o crescimento do PIB deveria preceder a distribuição da riqueza entre a população, algo que, na prática, não ocorreu. Ele permaneceu como ministro da Fazenda durante o governo de Emílio Médici e deixou o cargo na gestão de Ernesto Geisel para se tornar embaixador do Brasil na França, onde permaneceu de 1974 a 1978.
Ao retornar ao Brasil, o crescimento econômico já havia perdido força, e Delfim assumiu o Ministério da Agricultura por cinco meses, seguido do Ministério da Secretaria do Planejamento, onde trabalhou na negociação da dívida externa elevada com credores internacionais e com o Fundo Monetário Internacional (FMI), conseguindo um empréstimo de US$ 6,5 bilhões.
Após o período militar, Delfim foi eleito deputado federal por São Paulo, cargo que exerceu por 20 anos, de 1987 a 2007. Posteriormente, aproximou-se do presidente Lula durante seu segundo mandato, atuando como conselheiro informal.
Na academia, Delfim Netto começou sua carreira pública em 1959, integrando a equipe de planejamento do governo do estado de São Paulo, então liderado por Carlos Alberto de Carvalho Pinto. Ele ingressou na Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo (USP) em 1948 e, após se formar, tornou-se professor assistente na mesma instituição.
Delfim foi nomeado Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEAUSP) e, em 1963, tornou-se professor catedrático, o cargo mais alto na carreira docente universitária, sendo o primeiro ex-aluno da faculdade a alcançar essa posição após a regulamentação da profissão de economista. Sua contribuição acadêmica incluiu pesquisas sobre planejamento governamental e teoria do desenvolvimento econômico, com defesa de ideias da teoria neoclássica e uma abordagem keynesiana no plano macroeconômico, segundo a USP.