A uma cadeira e quilômetros de distância: relação entre Laurez e Wanderlei parece cada dia pior

21 fevereiro 2025 às 12h10

COMPARTILHAR
A relação entre o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) e o vice-governador Laurez Moreira (PDT) parece estar em um caminho sem volta. Embora ambos compartilhem a mesma gestão, já não fazem questão de esconder a distância política que os separa. Em eventos públicos, o distanciamento físico entre eles tem simbolizado o afastamento político, como ficou evidente na Primeira Marcha dos Vereadores do Tocantins, promovida pela União dos Vereadores do Tocantins (Uvet), na quinta-feira, 20.
No evento, enquanto Laurez discursava no palco, Wanderlei chegou ao auditório da Associação Tocantinense de Municípios (ATM), desviando a atenção do público e esvaziando, ainda que indiretamente, a fala do vice-governador. O momento expôs mais uma vez a falta de sintonia entre os dois, algo que já se tornou recorrente em solenidades oficiais. Esse cenário se repetiu em outras ocasiões recentes, como no Farm Day, evento agropecuário da cidade de Cariri do Tocantins, e no encontro de prefeitos em Brasília, onde ambos estiveram presentes, mas com comitivas separadas, sem qualquer sinal de interação.
A PEC Laurez e o rompimento definitivo

A tensão entre Wanderlei e Laurez se aprofundou com a aprovação de um Projeto de Emenda à Constituição (PEC), a chamada PEC Laurez, na última sessão legislativa de 2024. A emenda permite que o governador se ausente por até 15 dias sem precisar transferir o comando do Estado ao vice, algo já previsto na Constituição Federal. No entanto, a inovação trazida pela proposta gerou polêmica: a possibilidade de que o governador despache remotamente por meios eletrônicos, consolidando sua autoridade mesmo fora do Tocantins.
Pouco antes da aprovação da PEC, Wanderlei Barbosa minimizou as críticas à medida e ironizou a situação: “Tranquilo, isso acontece em outros lugares, aconteceu inclusive aqui em Palmas. Aqui também o município de Palmas tem a PEC do Apego. Porque eu não tenho esse apego, eu tenho é preocupação que às vezes a gente desapega e entrega o mandato para alguém e ele cria uma série de problemas para nós”.
Nos bastidores, a PEC foi vista como um movimento preventivo de Wanderlei para limitar qualquer influência do vice-governador e consolidar sua autonomia, mesmo diante de possíveis articulações futuras de Laurez. Embora ainda não houvesse uma movimentação clara do vice para 2026 no momento da aprovação da emenda, a decisão do governador demonstrava que ele já previa um cenário de confronto e tomava medidas para se blindar.
A formação de um novo palanque
A pré-campanha de Laurez já está em curso, com encontros políticos quase diários em seu escritório em Palmas e articulações frequentes em Brasília. Entre os nomes que já se posicionam ao seu lado, destacam-se o ex-deputado federal César Halum (PP), o ex-prefeito de Palmas, Raul Filho, e o prefeito de Paraíso, Celso Morais (MDB). Além disso, o deputado federal Vicentinho Júnior (PP) também já declarou apoio ao vice-governador.
Outro fator que pode pesar contra Wanderlei é a possível adesão de Eduardo Siqueira Campos (Podemos) ao palanque de Laurez, como retribuição pelo apoio que recebeu na campanha para a prefeitura de Palmas. Caso essa aliança se concretize, o grupo de oposição ao governador ganhará ainda mais força.

Além das movimentações políticas, um nome curioso tem aparecido nos encontros de Laurez: o humorista Bob Guerreiro, que possui mais de dois milhões de seguidores nas redes sociais. Sua presença constante nos eventos do vice-governador sugere que a pré-campanha já busca engajamento digital, algo essencial para a construção da imagem pública de um candidato.
Distanciamento sem retorno?
Se durante a manhã, no evento da Uvet, Wanderlei ignorou Laurez, à noite, no evento de posse da nova diretoria da OAB-TO, o tom foi diferente. Durante seu discurso, o governador citou Laurez entre os presentes, algo que pode ser interpretado como um gesto protocolar, pois cumprimentou também outras autoridades na mesa. Embora tenha sido apenas uma menção formal, a atitude chama atenção quando comparada ao episódio da manhã, onde Wanderlei ignorou completamente o vice-governador.
O desgaste entre governador e vice parece irreversível. A distância física e política entre os dois em eventos públicos é apenas a ponta do iceberg de um rompimento que já está consolidado nos bastidores. Se antes existia alguma possibilidade de recomposição entre os dois, a realidade atual indica que Wanderlei e Laurez seguirão caminhos opostos na disputa pelo governo do Tocantins em 2026.
Com uma base consolidada e apoios estratégicos, Laurez se posiciona como uma oposição direta ao candidato que será escolhido por Wanderlei, que ao que tudo indica será a senadora Dorinha (UB).