Na transformação digital de conteúdo nos últimos anos, o Instagram virou palanque, púlpito e palácio, tudo isso com excelência. Quem entende o jogo, larga na frente, ainda mais na política, onde quem não aparece, desaparece. E cá entre nós: hoje é mais fácil um político perder o mandato do que perder a senha do Instagram.

A rede virou extensão da persona pública. Ali se projeta a fala antes que o microfone esteja ligado, se chega antes mesmo de sair de casa. É vitrine e confessionário: mostra a agenda, a família, a fé, as bandeiras, tudo filtrado, claro, por um algoritmo que entrega a quem engaja. E engajar, nesse jogo, é capital político puro.

Quem tem entendido bem isso é a publicitária Karynne Sotero, primeira-dama do Tocantins e secretária extraordinária de Participações Sociais. Enquanto muito medalhão ainda patina no digital, ela desfila. São 2 milhões de visualizações no perfil e um crescimento de engajamento que não passa despercebido. Fala com criança, com idoso, com mulher, com quem precisa. E seu nome é dado como certo na disputa das oito vagas do Tocantins para a Câmara dos Deputados no pleito do próximo ano.

Essa visibilidade toda, claro, pressiona os de casa. Wanderlei Barbosa, o marido, governador reeleito e por isso não pode tentar um terceiro mandato, tem capital político atualmente para ser candidato ao Senado. Mas, receia em afirmar isso, e daí vem o dilema: se fica até dezembro de 2026, tudo bem, será um dos últimos governadores a conseguir isso no Tocantins, mas Karynne não pode disputar, é a regra do jogo. Se ele renuncia em abril de 2026, como manda o rito eleitoral, abre caminho para ela. A casa pode, literalmente, ganhar dois gabinetes em Brasília.

A diferença é que esse dilema conjugal é bem administrado. Wanderlei não precisa decifrar Karynne, lê de primeira. Os bastidores ecoam por aí que é o maior entusiasta da candidatura dela e que já existe empresa publicitária aos cuidados dela. Fato visto e publicado é que marido e mulher andam juntos pelo estado, como já é tradição entre políticos que entendem que o corpo a corpo ainda reina. Mas agora, com um celular na mão, ele reina com Wi-Fi.

Entre todos os auxiliares do governo, ela é quem mais entrega nas redes. A conta de Instagram virou um misto de álbum de família, diário de bordo e plano de governo. E funciona. Quando ela esteve na comunidade quilombola da Barra da Aroeira, que não esteve presencialmente, viu no feed. O mesmo se repetiu em Aliança do Tocantins, no lançamento do “Tocantins Amigo do Pet”. Quem não levou seu bichinho, assistiu a quem foi postar nos stories.

A projeção nas redes não é à toa, tem endereço e CEP eleitoral. Como disse uma fonte: “essa exposição não é para nada”. O perfil da primeira-dama é quase institucional, sem perder a cara de gente de verdade. Tem pose oficial, mas também tem cachorro, amigos e colo para criança. O segredo é esse: parecer do povo, mesmo vestida de poder.

Porque se o povo passa horas rolando o dedo na tela, é ali que os políticos têm que estar. E Karynne Sotero já está. O feed dela não é só feito de filtros, é de estratégia, timing e narrativa. Os dois milhões de views não vêm por acaso. Vêm de quem entendeu que, na política de hoje, a presença digital é pré-requisito para qualquer projeto presencial.

E, do jeito que as coisas andam, Brasília que se prepare: pode ter uma nova influenciadora na bancada federal.