Eduardo Siqueira e Cinthia Ribeiro se distanciam após início do novo governo

24 fevereiro 2025 às 13h39

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A aliança entre Cinthia Ribeiro (PSDB) e Eduardo Siqueira Campos (Podemos) nunca foi por afinidade. No primeiro turno, a então prefeita apoiou o também tucano Júnior Geo (PSDB). Mas, após sua derrota no primeiro turno, foi empurrada para o palanque de Eduardo muito mais por falta de opção do que por crença no projeto. A adversária no segundo turno era Janad Valcari (PL), e entre um desafeto declarado e um moderado, Cinthia escolheu o segundo.
A transição ocorreu sem sobressaltos, é verdade. Mas alguns gestos já indicavam que a relação entre Eduardo Siqueira e Cinthia Ribeiro não se manteria tão amistosa por muito tempo. Durante a festa da vitória, foi anunciado que a então prefeita entregaria o comando da capital no Paço Municipal, dentro do Bosque dos Pioneiros, local onde Eduardo assumiu seu primeiro mandato como prefeito, em 1993. O gesto tinha um peso simbólico, quase uma tentativa de dar continuidade à história, de ligar as duas gestões. No entanto, no fim das contas, a cerimônia acabou sendo realizada no Espaço Cultural, pois a antiga sede da prefeitura — que voltaria a ser a sede — não estava disponível ainda. Um detalhe aparentemente burocrático, mas que já prenunciava outras divergências.
Se naquele momento as diferenças ainda eram sutis, com o tempo elas se tornaram explícitas. Eduardo rapidamente passou a criticar (com razão) a situação do transporte coletivo, um dos principais gargalos da gestão de Cinthia, destacando a falta de soluções concretas para um sistema caro e ineficiente. Outro ponto de atrito foi a homologação do concurso público municipal, que havia sido realizado na gestão anterior e cuja efetivação se tornou um impasse para o novo governo. Além disso, a realização da eleição para a diretoria das escolas municipais, organizada ainda sob as regras da administração passada, foi outro tema que gerou desconforto, tanto que um dos primeiros atos do prefeito foi cancelar as nomeações feitas por Cinthia.
Cinthia de cá, Eduardo de lá
Cinthia Ribeiro rebateu as declarações de Eduardo Siqueira Campos sobre um suposto rombo financeiro deixado por sua gestão. Ela negou que tenha deixado uma dívida de R$300 milhões e afirmou que os valores mencionados fazem parte de “restos a pagar normais de qualquer administração”.
“Obviamente, assim como eu assumi tantas outras despesas, essas despesas e a organização do fluxo de tudo isso passam pela gestão atual e com muita responsabilidade”, disse a ex-prefeita. Ela também garantiu que havia recursos no orçamento para o Carnaval e o Capital da Fé, eventos cancelados pela atual gestão sob a justificativa da crise financeira. “O Capital da Fé é uma lei aprovada quando eu ainda não era prefeita. E, como lei, obviamente, ela precisa ser executada”, reforçou.
Eduardo, por sua vez, afirmou, durante a apresentação da medida provisória sobre bem-estar animal, neste domingo, 23, que o cenário encontrado ao assumir a prefeitura foi diferente do que os números do orçamento indicavam. Ele sustentou que, embora houvesse previsão orçamentária para algumas despesas, os cofres municipais não tinham saldo para realizá-las.
“Eu tenho que dizer, gente, porque alguém diz assim: ‘Ah, mas tem orçamento para o Carnaval’. No papel tem, agora vai no cofre. Dinheiro para o Carnaval só se for no papel, nos cofres não deixou”, declarou. Eduardo também disse que a gestão atual está priorizando serviços essenciais, como o abastecimento de medicamentos nas unidades de saúde. “Recebi da secretária de Saúde a informação de que estamos 100% abastecidos de remédios em todas as UPAs e postos de saúde. Isso é o que chamamos de qualidade no gasto público. É a troca que vamos fazer sempre.”
Enquanto Cinthia argumenta que o orçamento foi planejado e os eventos poderiam ser realizados, Eduardo sustenta que a situação financeira não permitia esses gastos e que a prioridade deve ser outra. O embate sobre os números e as decisões administrativas deixa claro que, se havia um alinhamento político no segundo turno da eleição, ele se desfez rapidamente no exercício do governo.
Da parceria eleitoral ao rompimento
Passado o período de transição, Eduardo Siqueira Campos passou a aprofundar a análise das contas municipais e, rapidamente, trouxe à tona o que chamou de um “rombo” deixado pela gestão anterior. A cifra de R$300 milhões passou a ser mencionada com frequência em seus discursos, reforçando o tom crítico em relação ao legado de Cinthia Ribeiro.
A ex-prefeita, que no início da gestão ainda mantinha alguma proximidade institucional, já não é mais vista ao lado de Eduardo. As inaugurações e eventos que antes contavam com sua presença passaram a acontecer sem qualquer participação dela. Se no segundo turno da eleição o apoio de Cinthia a Eduardo foi um movimento pragmático, os primeiros meses de governo demonstraram que essa aliança não sobreviveu à prática administrativa.