Na política, o que se fala com convicção geralmente é o que menos se cumpre. E no Tocantins, essa máxima segue viva, reluzente e atualizada. O governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), por exemplo, repete em toda esquina que não vai renunciar ao cargo para disputar o Senado em 2026. Mas aí vem o levantamento do Instituto Paraná Pesquisas, divulgado nesta quinta-feira, 10, e mostra ele com 52% das intenções de voto, um banho de votos à frente de qualquer concorrente. Difícil crer que alguém com esse cacife vai abrir mão da bola no pé, de frente para o gol.

Enquanto o governador ensaia seu “fico”, o jogo acontece nos bastidores e quem não esconde a bola são Eduardo Gomes (PL) e Dorinha Seabra (União). Os dois senadores lideram a corrida ao governo em 2026, tecnicamente empatados com 27% e 26% das intenções de voto. E não é só número: é presença, prestígio e articulação.

Gomes, por exemplo, é um daqueles raros casos de político que agrada gregos e troianos. Almoça com ministros de Lula, janta com a família Bolsonaro e toma café com prefeitos de todos os partidos. Foi ele quem articulou a reaproximação do prefeito de Paraíso, Celso Morais (MDB), com o governador. Foi ele quem colocou o prefeito de Palmas, Eduardo Siqueira Campos (Podemos), frente a frente com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, mesmo depois de ter apoiado Janad Valcari (PL) contra ele na eleição municipal. Gomes faz política todo dia, com método, com paciência e com elegância. “Ao mesmo tempo que ele tem moral e prestígio com um Randolfe Rodrigues (PT-AP) da vida, que é líder do governo Lula no Senado, ele está num palanque com a família Bolsonaro e líderes da oposição. Isso mostra que ele sabe fazer política como ninguém no Tocantins”, afirma uma fonte próxima ao senador.

Dorinha, por sua vez, é o nome que os prefeitos e prefeitas mencionam com respeito e gratidão. Está sempre presente, com emenda, com visita, com articulação. É vista como confiável, ponderada e viável. Tem força dentro do União Brasil e trânsito no governo federal. “Ela não briga por espaço, ela conquista o dela”, comenta um dos seus apoiadores da senadora.

E aí, voltamos ao ponto inicial: Wanderlei renuncia ou não? Porque se ele sair, entrega o governo ao vice, Laurez Moreira (PDT), que já aparece em terceiro lugar na pesquisa, com 11,9%. E ter a caneta na mão em ano pré-eleitoral muda tudo. Mas há um detalhe incômodo: Wanderlei e Laurez não se bicam. Ensaiaram reconciliação, mas qualquer assessor mais atento sabe que o clima é de tolerância estratégica, e não de confiança mútua.

A pesquisa retratou bem outro cenário importante, o presidente da Assembleia Legislativa do Tocantins, Amélio Cayres (Republicanos), não demonstra fôlego para ser governador, pelo menos não nesse momento. A pesquisa foi dura: Amélio tem só 8,5% de intenção de voto. E sem estrutura, sem apoio claro e sem carisma eleitoral, o projeto pode desidratar antes de sair da incubadora.

Enquanto isso, Irajá (PSD) aparece com 7,3%, sem muito barulho, mas sempre atento. Tem nome, tem mandato, mas ainda não mostrou a que veio nesse novo ciclo. O senador aparenta tranquilidade no atual cenário, com um ar de quem confia em uma mudança radical no cenário da política tocantinense a qualquer momento.

Nos bastidores, surgem ideias de uma combinação perfeita.  Dorinha Seabra como candidata ao governo, com Wanderlei Barbosa e Eduardo Gomes indo juntos ao Senado. Parece bonito no papel: nomes fortes, palanques pesados, apoio das maiores lideranças regionais. Mas política não é arrumadinha assim. Tem vaidade, tem litígio, tem cálculo. Wanderlei toparia sair do governo e deixar sua gestão com altos níveis de avaliação para o vice? E Gomes, que tem força para disputar o governo, mas renunciaria a isso pra ficar na Câmara Alta mais oito anos? Essa composição pode até ser robusta nos bastidores, mas no mundo real, tudo ainda é muito incerto.