O povo tocantinense está cansando do comando da Assembleia Legislativa

01 abril 2025 às 15h12

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Por muito tempo, o grupo político ligado à Assembleia Legislativa do Tocantins (Aleto) exerceu forte influência sobre os rumos do Estado. Desde os tempos de Sandoval Cardoso, esse grupo vem “emplacando” governadores, costurando acordos de bastidores e financiando campanhas. Mas os ventos parecem estar mudando – e a recente eleição municipal foi um termômetro importante dessa transformação silenciosa.
A população, especialmente em Palmas e nas cidades do entorno, já demonstra cansaço do domínio desse grupo. A tentativa de manter o controle por meio de candidaturas vindas da Assembleia não tem surtido o mesmo efeito de antes. A rejeição ao nome do atual presidente da Casa, Amélio Cayres, é um exemplo disso. Mesmo sendo o nome preferido do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) e seu filho, o deputado Léo Barbosa (Republicanos), para a sucessão estadual, Cayres representa exatamente o grupo que a população começa a rejeitar: os de dentro do “sistema”, das articulações e dos acordos de sempre. Em contrapartida, nomes como o do vice-governador, Laurez Moreira (PDT), e da senadora Dorinha Seabra (UB), ganham espaço nesse novo cenário.
Embora esteja na vice-governadoria, Laurez não vem da Assembleia e não é visto como parte do mesmo grupo político. Sua trajetória mais ligada à gestão municipal – como ex-prefeito de Gurupi – e menos ao parlamento estadual o diferencia. Caso o governador Wanderlei opte por se afastar do cargo, abrindo espaço para Laurez assumir o comando do Estado ainda no mandato, isso pode lhe dar visibilidade e permitir a articulação com prefeitos do interior, o que, como se sabe, tem peso considerável nas eleições estaduais.
No entanto, a recente aproximação de Laurez com figuras como o ex-prefeito de Palmas, Raul Filho, e o ex-deputado federal, César Hallum, pode representar um ponto de desgaste, principalmente na capital. A aliança com nomes que carregam rejeição ou desgaste político em Palmas pode atrapalhar a imagem de renovação que Laurez tenta construir. Esse fator deve ser observado com atenção, pois pode influenciar diretamente sua aceitação junto ao eleitorado urbano e de classe média.
Por outro lado, Dorinha já consolidou seu nome na capital, onde tem forte base eleitoral, e conta com apoio de prefeitos em diversos municípios, como de Araguaína, Porto Nacional e Gurupi. Dorinha tem densidade eleitoral e estrutura partidária. Sua candidatura, portanto, não pode ser subestimada.
A equação final dependerá da decisão do governador: se ficará até o fim do mandato ou abrirá espaço para seu vice. A resposta a essa pergunta pode definir os rumos da disputa.
O que é certo é que o grupo que domina a Assembleia Legislativa não tem mais a mesma legitimidade popular de outrora. A derrota dos deputados estaduais que tentaram se eleger prefeitos, como Jorge Frederico (Republicanos), em Araguaína, e Janad Valcari (PL), em Palmas , mesmo com o apoio do Palácio Araguaia, é a maior evidência disso. Tentaram atropelar prefeitos populares com candidaturas artificiais e perderam. O povo mostrou que não aceita mais imposições políticas disfarçadas de alianças.
A próxima eleição estadual, portanto, tende a ser marcada por uma disputa entre quem representa o novo – ainda que com vínculos ao governo – e quem insiste em manter o velho jogo político da Assembleia Legislativa. E, ao que tudo indica, a população do Tocantins já começa a deixar claro de que lado está.