Palácio Araguaia vive encruzilhada entre confiança ou viabilidade eleitoral

27 agosto 2025 às 19h54

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A filiação do vice-governador Laurez Moreira ao PSD, partido comandado no Tocantins pelo senador Irajá Abreu, mexeu de vez no cenário político do estado. A movimentação não é apenas um gesto partidário, mas a consolidação de um rompimento sem volta, que se arrastava por mais de ano e meio, quando o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) se afastou do vice após suspeitar de articulações com o grupo da senadora Kátia Abreu para fragilizar seu mandato.
Com o ingresso no PSD, Laurez passa, na prática, para o campo da oposição. O movimento confirma a leitura do governador: entregar o comando do estado em caso de renúncia seria colocar o governo nas mãos de dois adversários: Laurez e a família Abreu. Resultado: a hipótese de Wanderlei deixar o cargo para disputar o Senado em 2026 perde força, o que também deixa em torno dele a expecativa de poder. O mais provável agora é que ele permaneça no Palácio Araguaia até dezembro de 2026.
O passo de Laurez pressiona ainda mais o governador em relação ao seu projeto de sucessão. Wanderlei tem apostado no presidente da Assembleia Legislativa, Amélio Cayres (Republicanos), mas até agora o parlamentar não conseguiu converter a popularidade do governador em números robustos nas pesquisas. Nos bastidores, há queixas de que Amélio ainda não empolga prefeitos nem lideranças regionais, condição essencial para uma candidatura competitiva.
Ainda sem afirmar se faz parte ou não do grupo governista, após o episódio de áudios vazadas com críticas a posição do governador na preferência por Amélio, a senadora Dorinha Seabra (União Brasil), por outro lado, já aparece bem posicionada nos levantamentos e carrega o peso de uma federação partidária consolidada, além de trânsito com prefeitos.
O governo se vê diante de uma escolha delicada: bancar Amélio Cayres, mesmo sem sinais de tração popular até o momento, e correr o risco de abrir espaço para Dorinha ou até para uma terceira via; ou buscar uma composição com a senadora, sacrificando afinidades pessoais, mas ampliando as chances de vitória já no primeiro turno. Internamente, há o grupo defensores que sugere: se houvesse unidade em torno da senadora, haveria chance real de uma vitória rápida. Mas a falta de afinidade entre Dorinha e Wanderlei torna esse cenário improvável, pelo menos nesse momento.
Para o Palácio Araguaia, o dilema não é apenas pessoal, mas estratégico. Wanderlei precisa transformar sua popularidade em ativos políticos, garantindo a eleição de deputados estaduais e federais em 2026, além de senadores, definir um nome capaz de segurar a base e atrair prefeitos, além de evitar um erro de cálculo que possa fragmentar seu grupo e levar a disputa a um segundo turno imprevisível.
Enquanto o Palácio ainda não definiu sua estratégia, a oposição, com Laurez Moreira no oposicionista PSD e a família Abreu como âncora, já mostrou suas cartas. Dorinha, por sua vez, segue na ponta das pesquisas, ao mesmo tempo que ocupa o vácuo de indecisão. O que se desenha, portanto, é um 2026 com o governador refém de sua própria escolha: apostar no aliado de confiança que ainda não decola ou abrir espaço para uma candidatura mais viável eleitoralmente, mas sem tanta afinidade política.