A manhã desta terça-feira, 9, na Assembleia Legislativa do Tocantins, foi de rostos fechados e discursos murchos. Deputados da base governista ainda digeriam o impacto da Operação Fames-19, autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), que afastou o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) e a primeira-dama Karynne Sotero, além de atingir em cheio parlamentares que destinaram emendas para empresas investigadas na compra de cestas básicas durante a pandemia.

Nos microfones, até houve tentativas tímidas de defesa, como as falas de Ivory de Lira (PCdoB) e Cláudia Lelis (PV), mas o tom foi mais de autopreservação do que de blindagem ao governo. O recado nas entrelinhas foi: cada um que explique os próprios atos.

Nos bastidores da Casa de Leis, porém, o papo é outro. A avaliação é de que, se o habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF), impetrado pela defesa de Wanderlei não vingar, a saída mais provável seria a renúncia antes que o processo de impeachment ganhe corpo na Aleto. Seria um movimento calculado: sair do governo para se lançar oficialmente ao Senado, tentando manter oxigênio político e evitar o desgaste prolongado de um afastamento judicial.

O problema é que o tabuleiro das chapas majoritárias já está quase fechado. O grupo da senadora Dorinha Seabra (UB) caminha para a dobradinha com Eduardo Gomes (PL) e Carlos Gaguim (UB), o que deixaria Wanderlei sem espaço. Do outro lado, o governador em exercício, Laurez Moreira (PSD), articula com o senador Irajá Abreu (PSD) e costura uma segunda vaga, que pode cair no colo de Vicentinho Alves (PP), embora a federação do PP com o União Brasil complique o arranjo.

Sem o governo na mão, Wanderlei teria que costurar o quanto antes uma chapa, que mesmo com a popularidade em alta, teria menos estrutura para sustentar uma campanha robusta. A renúncia pode até recolocá-lo no jogo, mas a dúvida é se terá fôlego político para resistir à pressão de grupos já organizados e ao desgaste da investigação.