Tocantins teve mais de 170 mil apostadores em 2024, Ricardo Ayres busca CPI para aumentar rigor no setor

21 março 2025 às 09h30

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Em 2024, o Tocantins tinha uma estimativa que mais de 170 mil tocantinenses fizeram algum tipo de aposta nas conhecidas “Bets”. De acordo com o levantamento do Data Senado, divulgado no final do ano passado, intitulado “Panorama Político 2024: apostas esportivas, golpes digitais e endividamento”, o estado figura entre os quatro primeiros com o maior percentual de apostadores, ao lado de Maranhão, Sergipe e Bahia.
Na mesma linha, o Banco Central apresentou um relatório no final do ano passado que apontou um gasto mensal dos brasileiros de R$ 20,1 bilhões com apostas. O relatório apontou que em agosto de 2024, 5 milhões de pessoas pertencentes a famílias beneficiárias do Bolsa Família enviaram R$ 3 bilhões às empresas de apostas utilizando a plataforma Pix. Desses apostadores, 4 milhões (70%) são chefes de família (quem de fato recebe o benefício) e enviaram R$ 2 bilhões (67%) por Pix para as bets.
Com um número que tende a crescer devido a publicidades em grande escala e a adesão cada vez mais forte de influenciadores, que possuem milhares de seguidores nas redes sociais, o deputado federal Ricardo Ayres (Republicano) afirmou em entrevista ao Jornal Opção que está próximo de conseguir as 171 assinaturas suficientes para abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que pretende apurar irregularidades financeiras, papel dos influenciadores e os impactos sociais e econômicos dos jogos de azar na sociedade brasileira.
“Atualmente, estou coletando assinaturas para a CPI das Bets, que investigará possíveis irregularidades nesse setor, como esquemas de lavagem de dinheiro, aliciamento de jovens e o impacto econômico e social causado pelas plataformas de apostas. Além disso, a partir da CPI, queremos propor um novo regramento para os jogos no Brasil, eliminando os cassinos online e garantindo que as apostas esportivas tenham uma regulamentação mais rígida. O objetivo é evitar abusos, proteger a população e impedir que essas plataformas continuem operando sem o devido controle do Estado”, afirmou o parlamentar em trechos da entrevista.
Famílias destruídas
Ao usar a tribuna da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira, 18, para falar sobre a urgência das medidas que precisam ser adotadas em relação as “Bets’ e os cassinos de jogos de azar, o parlamentar também fez menção a um caso grave com uma pessoa da sua equipe após o filho dela ter tirado a própria vida no último final de semana em Palmas, o que segundo ele, foi em decorrência do vício em apostas e as consequências devastadores que ele causa.
Para o parlamentar, a tomada de decisão por parte do poder público precisa ser mais rápida, pois evitará que mais famílias sofram com as consequências graves do vício, que pode chegar em casos extremos. “Essas medidas são urgentes para evitar que mais famílias sejam destruídas pelo vício em jogos de azar e garantir que as apostas sejam tratadas com a seriedade que o tema exige”, disse o parlamentar ao fim da entrevista.
Confira a entrevista completa que o parlamentar concedeu e os detalhes sobre o trabalho que ele vem desenvolvendo em relação ao assunto, o foco da CPI e avaliação dos impactos causados por apostas e cassinos na sociedade.
Jornal Opção: Deputado, em sua opinião, quais são os principais riscos e impactos negativos das apostas online para a sociedade brasileira, especialmente em termos de dependência e prejuízos financeiros para famílias?
Ricardo Ayres: Os jogos de azar, especialmente os cassinos online, têm se tornado uma armadilha perigosa para milhares de brasileiros. O maior risco está na dependência que essas plataformas causam, funcionando como uma droga que leva ao endividamento, à destruição familiar e, em muitos casos, a problemas graves de saúde mental, incluindo depressão e suicídio. Essas plataformas operam com mecanismos altamente viciantes, explorando a vulnerabilidade das pessoas e estimulando apostas cada vez maiores. Além disso, o impacto financeiro nas famílias é devastador. Muitos jogadores chegam a comprometer seus salários, vender bens e contrair dívidas impagáveis. O Brasil não pode fechar os olhos para essa crise silenciosa que está destruindo vidas.
Jornal Opção: Como parlamentar, o que o senhor tem feito para regular ou limitar a atividade de apostas no Brasil, considerando os efeitos que elas podem ter sobre a juventude e a saúde mental da população?
Ricardo Ayres: Tenho atuado firmemente para enfrentar esse problema por meio de propostas legislativas e da mobilização no Congresso. Atualmente, estou coletando assinaturas para a CPI das Bets, que investigará possíveis irregularidades nesse setor, como esquemas de lavagem de dinheiro, aliciamento de jovens e o impacto econômico e social causado pelas plataformas de apostas. Além disso, apresentei diversos projetos de lei para estabelecer um controle mais rigoroso sobre as apostas no Brasil:
– PL 131/2024 – Proíbe o uso de cartões de crédito e contas bancárias do Bolsa Família para apostas online ou presenciais, incluindo as permitidas por lei. Isso impede que recursos destinados à assistência social sejam usados para jogos de azar.
– PL 2842/2023 – Proíbe apostas esportivas em ações individuais dentro dos eventos esportivos e estabelece regras mais rígidas para apostas em número de gols e resultados de partidas, evitando manipulação de jogos.
– PL 2843/2023 – Limita o valor que um apostador pode gastar anualmente, fixando um teto de 10% do valor declarado no Imposto de Renda do ano anterior. Isso cria um mecanismo de controle para evitar o endividamento excessivo.
– PL 3915/2023 – Proíbe artistas e influenciadores digitais de divulgarem ou fazerem propaganda de jogos de azar, empresas de apostas e cassinos, coibindo a publicidade enganosa e a normalização dessas práticas entre os jovens.
Essas medidas são essenciais para conter os danos causados pelos jogos de azar e garantir que o Brasil tenha uma regulamentação mais responsável e segura.
Jornal Opção: O Deputado afirmou que busca assinaturas para abrir uma CPI em relação às Bets. Em qual linha essa investigação se daria?
Ricardo Ayres: Faltam apenas 10 assinaturas das 171 necessárias. Teremos três grandes frentes de investigação:
Esquemas de lavagem de dinheiro e irregularidades financeiras – Há indícios de que plataformas de apostas e cassinos online estejam sendo usados para movimentação de dinheiro ilícito, sem transparência ou controle adequado.
O papel de influenciadores e empresas na promoção desses jogos – A CPI analisará a publicidade dessas plataformas, que muitas vezes induzem jovens e pessoas vulneráveis ao vício, sem alertar sobre os riscos reais.
Impacto social e econômico dos jogos de azar – A comissão avaliará como o crescimento descontrolado das apostas tem levado brasileiros ao endividamento e ao desespero.
Além disso, a partir da CPI, queremos propor um novo regramento para os jogos no Brasil, eliminando os cassinos online e garantindo que as apostas esportivas tenham uma regulamentação mais rígida. O objetivo é evitar abusos, proteger a população e impedir que essas plataformas continuem operando sem o devido controle do Estado.
Jornal Opção: O senhor acredita que é necessário criar mais políticas públicas de conscientização e apoio a pessoas com vícios em jogos de azar? Se sim, quais seriam as suas propostas para combater esse problema?
Ricardo Ayres: Sim, é fundamental que o Brasil desenvolva políticas públicas voltadas para a conscientização e o tratamento de pessoas afetadas pelo vício em jogos de azar. Defendo a criação de campanhas educativas para alertar sobre os riscos dessas apostas, especialmente direcionadas aos jovens e grupos vulneráveis. Também é necessário investir em centros de apoio psicológico e programas de reabilitação para quem já sofre com a dependência, assim como ocorre com outros tipos de vício, como o álcool e as drogas. Além disso, propomos um sistema de controle mais rigoroso sobre as apostas, incluindo limites de gastos, identificação de jogadores em risco e restrições para evitar o endividamento descontrolado. Essas medidas são urgentes para evitar que mais famílias sejam destruídas pelo vício em jogos de azar e garantir que as apostas sejam tratadas com a seriedade que o tema exige.