União Progressista: a federação dos caciques e o jogo que começa agora no Tocantins

29 abril 2025 às 10h14

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Os partidos União Brasil (UB) e Progressistas (PP) oficializam nesta terça-feira, 29, a chamada União Progressista, nome pomposo para uma fusão de interesses que vai formar a maior bancada do Congresso Nacional pelos próximos quatro anos. Pelo menos é o plano.
A tal federalização, para quem não é íntimo da Brasília de casaca, funciona assim: dois ou mais partidos se unem para atuar como se fossem um só. Compartilham tempo de TV, liderança no Congresso e linha de votação. Mas, no papel, continuam existindo como entidades separadas. Um casamento por conveniência, sem divórcio possível antes de quatro anos. E, como em todo casamento arranjado, quem manda mais é quem tem mais grana, cadeira e apetite.
Com 108 deputados federais e 14 senadores, a nova federação vai ultrapassar o PL, do ex-presidente Bolsonaro, e também a federação PT-PCdoB-PV. Vai ter mais de 1.300 prefeitos, seis governadores e o maior fundo partidário do país: quase R$ 1 bilhão. Se não é amor, pelo menos é muito dinheiro.
Reflexo no Tocantins
No Tocantins, não deu tempo nem da tinta secar na ata que deu linhas oficiais a posição do União em relação a federalização e o atual deputado federal Carlos Gaguim (UB) já saiu cantando aos quatro ventos que é pré-candidato ao Senado em 2026, com um possível número 444. Postou vídeo, discursou com o presidente nacional do UB, Antônio Rueda, e deu o tom: “Gaguim e Dorinha: a dupla que vai transformar o Tocantins!”, escreveu.
Na mesma linha, como publicou o parlamentar, a reunião nacional do União Brasil serviu mais para colocar carimbo no que já estava em curso no Tocantins: a senadora Dorinha Seabra foi referendada oficialmente como pré-candidata ao governo do estado em 2026. Nada de novidade bombástica, ela preside o partido no estado e já se movimentava nos bastidores, conversava com prefeitos e montava palanque. Agora, com o aval formal da sigla, entra no jogo com lastro político, respaldo da federação e discurso consolidado.
No Tocantins político, vizinhança pode valer, em momentos específicos, mais que aliança. Do outro lado da mesa, o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) mantém uma relação de boa vizinhança com a senadora Dorinha Seabra. Nada de muros altos, só uma cerca elétrica de interesses compartilhados. O que se ventila é que ela não é a candidata da situação e o governador está mesmo em dúvida é sobre para quem ele empresta a chave da sucessão, se Eduardo Gomes (PL) ou a Amélio Cayres (Republicanos).
Antes das decisões que precisa tomar, Wanderlei precisa saber primeiro de si mesmo, já que pode renunciar em abril do próximo ano para concorrer ao Senado. Ele diz que vai até o fim do mandato, mas ninguém acredita muito, já o que depõe contra ele é a intensa campanha da primeira-dama Karynne Sotero pelo estado. Ela só poderia sair a disputa federal, por exemplo, com a renúncia do marido, em relações saudáveis, o cônjuge costuma ter voz e vez.
Gaguim e Vicentinho
Carlos Gaguim, por sua vez, não quis saber de esperar consenso e tratou de mostrar que, pelo União Brasil, o nome ao senado é ele. Ponto. Publicou vídeo, discursou com a cúpula da sigla e deixou claro: independentemente do que o PP defina internamente, o UB já escolheu seu representante. Isso não impede que a outra vaga da chapa vá para o deputado federal Vicentinho Júnior, presidente regional do Progressistas e também pré-candidato ao Senado, com apoio entrincheirado da Capital e do interior. Na prática, ambos podem sim estar juntos na disputa pelas duas cadeiras do Senado, mas o jogo interno da federação ainda vai exigir costura fina. E ego nenhum gosta de ser segundo nome numa dobradinha.
Onde se lê Vicentinho e Gaguim como candidatos ao Senado, não se lê Eduardo Gomes na busca por reeleição, e isso diz muito. Com as duas vagas virtualmente carimbadas, sobra a ele o papel de coadjuvante na majoritária de Dorinha, talvez como vice. Mas vice? Vice ele já é, e do Senado, numa cadeira de destaque, com tapete azul e tudo. Descer da mesa da cúpula para o banco do carona em palanque estadual parece pouco para quem se habituou ao cafezinho do poder. E quem já foi condutor de articulações nacionais dificilmente aceita trocar o volante por um lugar no carretel de campanha alheia.
Comando da federação no estado
Tudo indica que Dorinha vai levar a presidência da federação no Tocantins. Além de ser senadora e dirigente do UB, saiu forte das eleições municipais de 2024: elegeu 37 prefeitos, incluindo Araguaína, Gurupi e Porto Nacional, grandes colégios eleitorais. O PP de Vicentinho ficou com 15. Dorinha também já está enturmada com o G5+, grupo dos cinco maiores colégios do estado, incluindo o apoio de Eduardo Siqueira Campos (Podemos, Palmas) e Celso Morais (MDB, Paraíso).
Ou seja, Dorinha vem com base, com prefeitos e com narrativa. Mas vai precisar de mais que isso para sustentar uma possível candidatura ao governo que em outros cenários pode ser contra a máquina do Palácio Araguaia.
Cenário para 2026: três pistas, um palanque só
Se tudo seguir como está, a disputa para o governo do Tocantins em 2026 pode ter três trilhas principais:
• Grupo de Dorinha, com o peso da federação e o apoio dos prefeitos.
• Grupo de Laurez Moreira (PDT), vice-governador rompido com Wanderlei, que anda rodando o estado para viabilizar seu nome. Se o governador sair para o Senado e Laurez ficar com a máquina na mão, muda tudo.
• Grupo de Eduardo Gomes, atual senador, cotado para reeleição ou para encabeçar a sucessão com apoio direto de Wanderlei. Amélio fica no mesmo grupo, para sair governador ou para buscar uma vaga na Câmara Federal, se não for nada disso, será reeleito deputado estadual
Três caciques, três projetos de poder e um estado que pode ter um dos maiores embates políticos das últimas eleições estaduais. Mas, desta vez, tem uma federação no meio do caminho, e ninguém quer abrir mão da cabeça de chapa. A lógica diz que vai ter racha.