Giovanna Campos

As Conferências das Partes (COPs), que deveriam ser o principal fórum global para enfrentar a crise climática, estão sob intensa crítica devido à influência crescente do lobby do petróleo. A escolha de petroestados como anfitriões consecutivos das cúpulas – Egito, Emirados Árabes e Azerbaijão – evidencia um processo capturado por interesses que contradizem a própria essência desses encontros: promover a transição energética e a descarbonização.

Na COP28, nos Emirados Árabes Unidos, a presença de lobistas de petróleo superou em número as delegações das nações mais vulneráveis às mudanças climáticas. O Azerbaijão, anfitrião da COP29, reforçou a tendência ao priorizar interesses petrolíferos, desde a escolha do país-sede até a articulação de decisões como a ampliação do mercado de carbono sem critérios claros. Este contexto mina a credibilidade das COPs e coloca em xeque sua capacidade de promover mudanças reais.

O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, ao afirmar que o petróleo é um “presente de Deus”, ignorou décadas de ciência climática e os compromissos assumidos globalmente para limitar o aquecimento a 1,5ºC. Suas declarações, junto com o comportamento de sua delegação, revelam a prioridade em perpetuar a dependência de combustíveis fósseis. A prisão de críticos e ativistas climáticos no período anterior à cúpula também demonstra o impacto negativo dessa escolha em termos de democracia e participação popular.

A influência do setor de petróleo nas COPs não é nova, mas atinge agora proporções alarmantes. Cientistas e ativistas do clima pedem uma reforma urgente no processo de escolha dos países-sede e na regulamentação da participação de lobistas. A carta assinada por figuras como Al Gore e Christiana Figueres denuncia que o processo climático global “não é mais adequado para o propósito” e demanda critérios mais rigorosos para a seleção de anfitriões e maior transparência nas negociações.

Outro ponto crítico é o financiamento climático. Embora o G20 tenha reconhecido a necessidade de trilhões de dólares para combater a crise, a falta de clareza sobre as fontes desse dinheiro, bem como o uso de empréstimos a juros de mercado, perpetua desigualdades entre nações ricas e em desenvolvimento. Para países que já enfrentam os maiores impactos da mudança climática, essa abordagem é insuficiente e injusta.

A ausência de menções explícitas à eliminação dos combustíveis fósseis no documento do G20 reforça a conivência dos grandes emissores com a continuidade da crise. Mesmo com avanços pontuais, como a inclusão da taxação de super-ricos no debate, as ações propostas permanecem tímidas frente à escala do desafio climático.

A COP29 não é apenas mais uma cúpula com resultados aquém do esperado. Ela simboliza um sistema em colapso, no qual interesses corporativos têm mais voz que as populações vulneráveis. Para que as COPs recuperem sua legitimidade e relevância, é essencial que passem de espaços capturados por lobbies para plataformas comprometidas com a justiça climática e a transição energética urgente. O futuro do planeta depende disso.