Luan Monteiro

Forças lideradas pelo grupo Hayet Tahrir al-Sham (HTS), antigo braço da Al-Qaeda, oficialmente conquistaram Damasco e causaram a fuga do ditador Sírio, Bashar al-Asaad, para a Síria. O regime de Asaad, que durou 24 anos, passou grande parte em meio a uma guerra civil que foi implodida pela Primavera Árabe, que causou revoltas contra governos no Oriente Médio a partir de 2011.

Durante os 13 anos de conflito, o regime de Asaad, apoiado pela Rússia e pelo Irã, lutou em diversas frentes contra rebeldes e, principalmente, contra o Estado Islâmico (IE) e os Curdos no Norte do país. O IE, que buscava a criação de um califado, tipo de governo que se baseia na ética islâmica, foi o grupo terrorista mais conhecido no mundo, principalmente por conta de seus ataques na Europa e, na Síria, dominou a cidade de Aleppo por muito tempo.

Os esforços de Asaad, no entanto, também consistia em atacar o próprio povo com o uso de armas químicas, que não são fabricadas pelo país. Isso dá a entender que a guerra, por um lado financiada pelo Irã e Rússia e pelo outro pelos EUA e Israel, tinha como objetivo enfraquecer o poder de Asaad por muito tempo para que se pudesse lucrar com a morte de civis, que foram os que mais sofreram com a guerra.

Outro fato que reforça essa tese são os ataques recentes de Israel ao território sírio. O governo de Israel, ainda representado por Benjamin Netanyahu, que responde a acusações de corrupção, demorou poucas horas para começar a atacar o norte da Síria. A tentativa é cumprir a grande profecia israelense de conquistar partes da Síria, do Iraque, do Líbano e erradicar o estado palestino.

Os conflitos no Oriente Médio são, nada mais, que uma forma da indústria armamentista lucrar com a morte de inocentes. O HTS, que era um braço da Al-Qaeda, não é mais moderado que o governo Asaad foi nos últimos anos, e nem menos repressor, mas ainda é muito cedo para se falar disso.

Sem Asaad no poder e com o país que viu seu PIB cair de US$ 67 bilhões para US$ 9 bilhões, o esperado é que a pobreza cresça e o sofrimento aumente, ao menos por um tempo. Além disso, a queda do regime não significa o fim da guerra civil, já que curdos continuam lutando por seu território no país.

Porém, a queda de Asaad representa o sucesso do maior movimento popular da história da humanidade. A representatividade de um movimento que começou com a morte de um vendedor de frutas na Tunísia e acabou com a queda de quatro presidentes, além de mudanças significativas em países árabes mas que também resultou em guerras civis, como na própria Síria e no Iêmen, mostram que a liberdade pode demorar, mas o povo pode conquistá-la.

Agora, cabe o país buscar formas de voltar aos eixos para que seus mais de 6 milhões de refugiados possam retornar para sua terra.