Inteligências artificiais fazem roubo institucionalizado com artistas
08 janeiro 2024 às 17h01
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Karla Ortiz é uma artista premiada da cidade de São Francisco, nos Estados Unidos da América. Seus principais projetos incluem arte conceitual para a Disney em obras como Doutor Estranho e Pantera Negra. Ela ficou horrorizada ao descobrir que sua arte estava sendo usada para “treinar” o modelo da Stability AI sem seu conhecimento. Suas ilustrações estavam entre as mais de cinco bilhões de imagens que foram extraídas da internet e inseridas no modelo para ensiná-lo, em um nível muito básico, a cuspir imagens “únicas”. O nome de Ortiz pode gerar infinitas imagens que parecem trabalhos que ela fez.
Ortiz é um dos três artistas que movem uma ação coletiva contra Midjourney, Stability AI e DeviantArt, alegando danos à reputação, concorrência desleal e violação de direitos autorais. A Stability AI recebeu US$ 101 milhões em financiamento em 2022 e pretende arrecadar US$ 4 bilhões este ano. Mas artistas como Ortiz nunca receberam um centavo dessas empresas, apesar de seu trabalho ser necessário para o desenvolvimento dos projetos.
“Espero que isso estabeleça um precedente muito claro sobre quais ações são aceitáveis e quais ações não são aceitáveis no desenvolvimento dessas tecnologias”, disse Ortiz sobre o processo que enfrenta.
Alguns entusiastas da arte da IA, no entanto, criticaram estes esforços, alegando que impedem a “democratização” da arte. Mas essa crítica revela um mal-entendido fundamental sobre a relação dos artistas com essas tecnologias. Artistas como Ortiz usaram palavras como “violação” e “não consensual” para descrever os seus sentimentos sobre estes modelos, enquanto os defensores da ideia usam palavras como “colaboração”, “democratização” e “inspiração”.
Outro fato indiscutível é que não existe o “estilo Disney”, foram pessoas que desenvolveram diferentes etapas artísticas até alcançar um resultado desejado, uma obra completa. Ou seja, utilizar produtos gerados por inteligência artificial para postar no seu Instagram não é um problema. Porém, quando grandes empresas deixam de contratar esses profissionais para que uma “versão inspirada no seu trabalho” seja produzida por IA e utilizada comercialmente – até porque sai mais barato, de fato – aí então se torna um problema.
“Como artista, minhas pinturas parecem minha identidade”, disse Ortiz. “Nunca vi tal ato de roubo ser tão institucionalizado.” Como artista conceitual com mais de 10 anos de experiência profissional, Karla Ortiz trabalhou para Paragon Studios/NcSoft, Ubisoft, Kabam, Industrial Light & Magic (ILM), Marvel Film Studios, Universal Studios e HBO.
O nível de técnica e conhecimento que um profissional precisa ter para gerar conteúdos de tamanha qualidade quanto Karla Ortiz é imenso. O que as inteligências artificiais fazem é utilizar tudo o que já foi elaborado por um artista, desde suas inspirações artísticas até o próprio traçado. Sem artistas com esse nível de competência, a inteligência artificial não chegaria muito além, por isso é importante valorizá-los nesse processo, o que não acontece de fato.