Irã x Israel: como fica o cenário geopolítico com conflito e ascensão de novos líderes mundiais
01 outubro 2024 às 18h27
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O ataque que o Irã lançou contra Israel na noite (horário local) desta terça-feira, 1°, noticiado por canais de televisão do Brasil e confirmado pela imprensa local — levou a uma escalada da tensão ainda maior no Oriente Médio. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que o país está preparado para ajudar o aliado (Israel) a se defender dos ataques iranianos. Por quê? “Israel é o maior porta-aviões americano, é inafundável, não carrega nenhum soldado americano e está localizado numa região crítica para a segurança nacional dos EUA”, afirmou Alexander Haig, ex-secretário de estado dos EUA, há 40 anos atrás.
Daqui poucos meses, no entanto, Biden deixa a presidência dos EUA e o futuro da cadeira branca ainda é incerto. Apesar de Kamala Harris despontar na frente nas pesquisas, Donald Trump ainda não é carta fora do baralho. Polêmico, o republicano não esconde suas opiniões —por mais estúpidas que sejam— enquanto a democrata ainda mantém uma posição incerta de como conduziria a situação com Israel.
A relação pouco amistosa entre Irã e Israel, que perdura desde 1979, é frequentemente descrita como uma “guerra nas sombras”, caracterizada por ataques mútuos e operações clandestinas. Ambos os países já realizaram ações ofensivas um contra o outro, muitas vezes sem que qualquer governo (envolvido direta ou indiretamente) tenha assumido oficialmente a responsabilidade. A guerra na Faixa de Gaza, iniciada em 2023, levou o conflito para outro patamar.
No mais recente ataque, Israel culpou o Irã, que rebateu alegando legítima defesa e dizendo que a ação foi uma retaliação pelo ataque de Israel contra um edifício do consulado iraniano em Damasco, na Síria. O espaço aéreo que liga Israel ao Irã cobre partes dos territórios da Jordânia, da Síria, da Arábia Saudita e do Iraque. A distância aérea entre Teerã, capital do Irã, e Tel Aviv, em Israel, é de aproximadamente 1.858 quilômetros.
Israel e Palestina na Guerra de Gaza
Embora a ideia de uma solução pacífica tenha sido discutida amplamente por décadas, com a proposta de dois Estados sendo uma das mais debatidas, o conflito permanece sem um desfecho possível e a população palestina já vê a proposta como obsoleta. A criação de dois Estados atualmente dependeria de uma mudança significativa nas perspectivas dos principais envolvidos: os palestinos, a comunidade internacional e, sobretudo, os israelenses.
Para que esse cenário se concretize, seria necessário que as demandas e expectativas de todas as partes convergissem para um objetivo em comum, com os palestinos buscando soluções viáveis, a ONU exercendo um papel de facilitadora e os israelenses reconsiderando suas posições em relação ao território e à segurança.
Enquanto isso, a população palestina é massacrada. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, é o homem que lidera o país há mais tempo desde a criação do Estado de Israel em 1948 e prefere a guerra do que a paz. Mesmo após os mais de 40 mil mortos, ele disse que o trabalho de Israel “ainda não terminou”.
Na última quinta-feira, 26, Benjamin Netanyahu negou uma proposta de cessar-fogo feita por diversos países, entre eles seus aliados, Estados Unidos, o Reino Unido e os Emirados Árabes. Um dia depois, enquanto Netanyahu se preparava para iniciar seu discurso em Assembleia da ONU, dezenas de diplomatas se retiraram do plenário, entre eles a comitiva brasileira.
A impaciência internacional por uma resolução diplomática do conflito — que ainda parece distante –, mostra que o cenário é cada vez mais perigoso e os olhos do mundo devem estar voltados para o conflito. Dessa forma, a solução para a guerra no Oriente Médio permanece incerta, mas não impossível se houver vontade política e diplomática de todas as partes.
Estados Unidos e Israel
Como lidaria Kamala Harris, caso eleita? Desde os ataques de 7 de outubro, ela tem mostrado preocupação em equilibrar sua resposta ao conflito entre Israel e Palestina. Ela tem se esforçado em expressar empatia pelos palestinos, reconhecendo o sofrimento da população civil, ao mesmo tempo em que considera as repercussões políticas domésticas da postura dos EUA
“A vice-presidente [Kamala Harris] tem sido uma forte e duradoura apoiadora de Israel como uma pátria segura e democrática para o povo judeu. Ela sempre garantirá que Israel possa se defender de ameaças, incluindo do Irã e de milícias apoiadas pelo Irã, como o Hamas e o Hezbollah”, disse Dean Lieberman, vice-conselheiro de segurança nacional de Harris, à CNN quando questionado se Harris se considerava sionista ou não.
Ele acrescentou que espera que essa posição se traduza em ser a favor de uma solução de dois estados, manter a ajuda à segurança e o financiamento do Domo de Ferro para Israel e apoiar os Acordos de Abraão negociados pela administração Trump.
Durante seu mandato, Donald Trump adotou uma postura pró-Israel no conflito entre judeus e árabes, tomando decisões que romperam com a política tradicional dos EUA. Em 2017, ele reconheceu Jerusalém como a capital de Israel e, em 2018, transferiu a embaixada dos EUA para lá, o que gerou críticas de palestinos e líderes árabes. Além disso, Trump reduziu o financiamento dos EUA para a Autoridade Palestina e a UNRWA, pressionando os palestinos a aceitarem termos favoráveis a Israel. Seu “Acordo do Século”, lançado em 2020, foi rejeitado pelos palestinos por prever a anexação de partes da Cisjordânia e manter Jerusalém sob controle israelense.
Trump também mediou os Acordos de Abraham, que resultaram na normalização das relações entre Israel e vários países árabes, como os Emirados Árabes Unidos e Bahrein, marcando um avanço diplomático na região. No entanto, suas políticas não resolveram o conflito entre Israel e os palestinos, e suas ações foram vistas por muitos como um favorecimento claro a Israel, o que ampliou o descontentamento entre os palestinos e dificultou o avanço de negociações de paz.
Entenda os interesses
O Irã, sendo uma república islâmica de maioria xiita, considera Israel não apenas um rival regional, mas um inimigo ideológico, em parte devido à sua oposição ao Estado judeu e ao seu apoio a grupos militantes como o Hezbollah no Líbano e grupos em Gaza. A política externa iraniana tem sido fortemente moldada por esse antagonismo, reforçado pela percepção de que Israel e seus aliados, como os EUA, ameaçam a soberania e a segurança do Irã.
Por outro lado, Israel enxerga o programa nuclear iraniano como uma ameaça direta. A possibilidade de que o Irã desenvolva armas nucleares é uma das maiores preocupações para a segurança de Israel, já que o regime iraniano frequentemente faz declarações que desafiam a legitimidade do Estado judeu. Isso levou Israel a considerar a possibilidade de uma ação militar preventiva contra instalações nucleares iranianas, o que aumentaria drasticamente as tensões regionais.
A Rússia e a China, apesar de não compartilharem do confronto direto entre Irã e Israel, têm interesses estratégicos no Irã. Ambos os países veem o Irã como um parceiro-chave para contrabalançar a influência dos EUA no Oriente Médio. A Rússia tem oferecido apoio militar e político ao regime iraniano, enquanto a China se interessa pelos vastos recursos energéticos do Irã, bem como por sua localização estratégica nas rotas comerciais globais. Essa relação cria um desafio adicional para os EUA e seus aliados, que mantêm bases militares na região, como no Catar, na Arábia Saudita e no Iraque, locais que poderiam ser alvos de retaliações em um conflito envolvendo o Irã.
O Irã também é conhecido por sua rede de aliados não estatais, que podem ser mobilizados em caso de conflito. Isso inclui o uso de ataques cibernéticos, sabotagens e operações de guerrilha, o que representa uma ameaça assimétrica que Israel e outros países da região devem levar em consideração.