Jesus perdeu o espaço nos púlpitos que viraram palanques

10 julho 2024 às 12h31

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Recentemente em entrevista, o deputado federal Henrique Vieira foi questionado porque é evangélico, líder religioso, político e não participa da bancada evangélica no Congresso. Veja bem, um pastor que não está entre centenas de congressistas evangélicos que participam da frente e nunca sequer leram a Bíblia. “Entendo que meu papel no parlamento não é defender uma igreja, é defender nosso povo: saúde, educação e moradia. Minha função como pastor não é usar o estado, que é de todas as pessoas e religiões, para defender uma igreja”, respondeu o pastor Henrique.
Para os defensores da teologia do domínio, a igreja deve ocupar todos os espaços, incluindo a política. Os cristãos mais genuínos, no entanto, encaram o tema com um certo temor e questionam se realmente a igreja (povo e templo) deve trabalhar para conversão de pessoas ou para eleição de vereadores. É comum, especialmente em período [pré] eleitoral, se ouvir mais o nome de determinado político do que o do próprio filho de Deus. Jesus teria perdido um pouco o espaço nos púlpitos que viraram palanques?
“Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me adoram; os seus ensinamentos não passam de mandamentos ensinados por homens”, escreveu o apóstolo Mateus (15: 8-9). Em Isaías, a citação é repetida. Ainda de acordo com Mateus, o próprio Jesus Cristo, inimigo dos fariseus e mestres da lei, entrou no templo, expulsou todos os que ali vendiam e compravam, derrubou as mesas dos cambistas, e as cadeiras dos que vendiam as pombas; e disse-lhes: “Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; vós, porém, a fazeis covil de salteadores”.
O que diria Jesus hoje para as igrejas evangélicas que viraram covil de políticos e trampolim para trambiqueiros acumularem riquezas? Além de usarem os púlpitos de suas igrejas para homenagearem políticos, muitos líderes religiosos ainda querem usar do estado para se promoverem ideologicamente e politicamente.
Na colheita, será separado o joio do trigo, e caberá somente a Deus o julgamento final, segundo a Bíblia. “A quem muito é dado, muito será cobrado”. Quanto vão pagar os milicianos da fé que venderam Jesus por uma moeda tão barata? Quanto será cobrado daqueles que chamam Deus de pai e selecionam seus irmãos? Aqueles fiéis que, em nome da fé, excluem, segregam e desprezam as minorias?
Já quem se atenta ao verdadeiro Evangelho não deve se preocupar. “Fé não é pra gerar projeto de poder e controle. Fé é pra gerar um projeto de serviço e compaixão. Fé não se impõe, se compartilha. Fé só faz sentido se mediada pelo amor. Fé não é para matar, mas para nos dar a vida e fazer com que os outros tenham vida. Fé sem amor é morta!”, escreveu Henrique Vieira em 2020 (quando era somente pastor).