Oscar 2025: crescimento da Academia escancara conquistas históricas e desafios persistentes

04 março 2025 às 15h53

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Guilherme de Andrade
Superando a decepção pela derrota de Fernanda Torres na categoria melhor atriz no Oscar 2025, existem críticas válidas a serem feitas sobre o resultado da premiação como um todo. São tanto críticas positivas quanto negativas. É inegável que, com o passar dos quase 100 anos de premiação, os membros da Academia (The Academy, organizadora do Oscar) cresceram em número e se diversificaram. Já há alguns anos a cerimônia dá sinais dessas mudanças e cabe a nós saber lê-los e interpretá-los.
Nesta edição, a primeira vitória do Brasil e da Letônia indicam a crescente diversificação cultural da premiação. A conquista de Paul Tazewell foi a primeira vez que um homem negro levou a estatueta de melhor figurino. Ele foi premiado por seu trabalho em ‘Wicked’.
Quanto mais pessoas diversas se unirem à Academia, maior o número de votantes sensíveis a pautas diversas nas próximas edições. É uma tendência irremediável, um caminho sem volta. Logo mais virão novos ‘primeiros’: primeiro ator abertamente transexual a vencer melhor ator, primeiro melhor diretor para uma pessoa negra e tantos outros.
Os alcances que representaram ganho de diversidade étnica e cultural podem ser vistos, inclusive, como forma de reação da sociedade estadunidense ao contexto social e político anti-imigração que ganhou força após as eleições de Donald Trump.
Ao mesmo tempo, entretanto, podemos analisar o comportamento dos membros da Academia para fazer uma crítica à sociedade como um todo. A grande maioria dos vencedores (e frequentadores) do evento ainda é branca, a Academia ainda está física e culturalmente circunscrita ao cotidiano estadunidense, as obras de outras nacionalidades ainda possuem absorção diferente entre outros tantos apontamentos a serem feitos.
A forma de seleção dos vitoriosos, como um todo, acaba por se tornar cada vez mais uma campanha, afastando os critérios do valor das obras em si e os aproximando da visibilidade conquistada em espaços específicos. Isso torna a campanha terrivelmente inacessível para algumas produções, em termos financeiros, e muitas vezes obras e profissionais muito relevantes deixam de ser reconhecidos.
Como já bem destacou Fernanda Torres, o Oscar não é um representante absoluto do cinema mundial. É um sinal, um termômetro, de parte desse cinema. É representativo sim, é significativo sim, mas seus limites estão dados.
Nesta edição, por exemplo, o número de questionamentos feitos sobre a representatividade no filme Emilia Perez, tanto pela comunidade transexual quanto pelos mexicanos, parece ter sido levada parcialmente em conta. A obra foi a mais indicada da edição (13 indicações) e levou algumas estatuetas para casa (melhor atriz coadjuvante e melhor canção original), mas o filme em si não levou nenhuma das principais categorias como melhor filme e melhor filme internacional.
Para além da derrota de Fernanda Torres, a vitória de Mikey Madison (estrela promissora de ‘Anora’) sobre Demi Moore de ‘A Substância’ reacendeu a discussão sobre etarismo já que esta obra aborda justamente essa temática. Assim como a protagonista do filme, a atriz que a interpretou, Demi, se viu preterida por uma mulher mais nova, apesar da atuação estrondosa da atriz.
Portanto, cabe à nós saber dar o devido valor às coisas. É importante sim reconhecer cada avanço na maior premiação do cinema mundial, a sétima arte é sim um termômetro do espírito humano. Os sinais problemáticos, entretanto, existem, e cabe à nós saber lê-los e agir sobre eles.