Bárbara Noleto

A retórica de violência em debates eleitorais e no tratamento entre candidatos é uma ameaça direta ao processo democrático. Candidatos como Pablo Marçal, ao chamar o período eleitoral de “tempo de guerra”, optam por adotar posturas agressivas. Até mesmo defende o uso de violência como estratégia, ou seja, cria um ambiente hostil e perigoso.

A aparente falta de paciência de Marçal com outros candidatos não vende. Isso porque ele claramente é o provocador da maior parte das situações em que se pinta como vítima. De forma geral, parece que ele tenta queimar todos, mas, na verdade, só piora o cenário político brasileiro, que já estava desgastado. Agora, após Marçal, só restam ruínas.

Primeiramente, no curto prazo, o uso de violência e agressão nos debates e interações políticas desvia o foco das propostas e problemas reais. Em vez de discutir soluções concretas para questões como educação, saúde e segurança, candidatos acabam promovendo ataques pessoais e incentivos à violência.

Isso pode até atrair a atenção de alguns eleitores no momento, mas, ao mesmo tempo, desinforma e polariza a sociedade. À medida que o debate público se torna uma arena de ofensas e agressões, a população perde a oportunidade de analisar com seriedade os projetos.

O desrespeito do candidato por pessoas e instituições

Além disso, o candidato desrespeita as instituições e convenções socias, inclusive, que costumam garantir respeito entre diferentes pessoas. Logo, em vez de fortalecer a democracia, esse tipo de postura a enfraquece.

Com isso, o comportamento agressivo tende a se normalizar entre os próprios políticos e eleitores. Em última instância, a política passa a ser vista como um campo de batalha, onde o mais forte e violento prevalece. Em outras palavras, em vez de ser um espaço de construção coletiva e democrática através do diálogo, se torna um campo sangrento.

Um exemplo forte de como Marçal desrespeita seus adversários são os apelidos conferidos a cada um deles: “Dapena”, “Chatabata”, “Boules”. E até mesmo o governador de SP virou o “goiabinha” para Marçal.

Além disso, a longo prazo, o incentivo à violência e o desprezo pelo diálogo democrático, o que pode gerar consequências ainda mais graves para o cenário político. Quando candidatos como Marçal afirmam, sem remorso, que têm “orgulho” de serem expulsos de debates e que a agressão física pode ser um instrumento de campanha, promovem um ciclo vicioso de desrespeito institucional.

O jogo político de Marçal

Outro ponto que merece destaque é a justificativa de que a violência é uma resposta ao “jogo desigual”. Sem dúvida, a cláusula de barreira impõe restrições reais aos candidatos que não contam com tempo de televisão ou rádio. No entanto, responder a essa desigualdade com ataques violentos, como vimos no caso do soco dado pelo assessor de Marçal durante um debate, ou na cadeirada de Datena, apenas reforça a percepção de que a política não é um espaço para o diálogo civilizado.

No lugar de propor mudanças estruturais para garantir mais equidade no processo eleitoral, opta-se por soluções imediatistas e destrutivas. Portanto, é preciso refletir sobre os efeitos dessa retórica violenta na política. Embora, a curto prazo, possa parecer uma estratégia eficaz para chamar atenção em um cenário de disputa acirrada; a médio e longo prazo, ela enfraquece a democracia. Justamente porque gera instabilidade e afasta ainda mais a sociedade do verdadeiro propósito dos debates eleitorais: a busca por soluções para problemas sociais e coletivos.

Embora a falta de recursos e exposição midiática possa ser um desafio real, justificar a violência como uma forma de compensar essa desigualdade traz consequências negativas tanto a curto quanto a longo prazo. E foi exatamente isso que Marçal fez durante a sua sabatina no SP1.