Quando o Brasil riu no 13 de maio
14 maio 2025 às 11h30

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O Brasil inteiro riu no 13 de maio. Não por liberdade ou reparação — mas por deboche. Deboche transmitido ao vivo do Senado, com trilha sonora de gargalhadas e uma influenciadora de moletom e garrafinha Stanley sentada na cadeira de testemunha da CPI das Apostas Esportivas, a CPI das Bets.
A cena viralizou. Virgínia Fonseca brincou com senadores, posou para selfies, gravou vídeos para filhos de parlamentares, e sorriu o tempo inteiro. Um sorriso que não é apenas leveza — é segurança. A segurança de quem sabe que, ali, nada vai lhe acontecer.
Enquanto isso, do lado de fora do Congresso, o Brasil real segue sem graça nenhuma.
Casas de apostas, como as que Virgínia promoveu, estão enraizadas nas plataformas onde milhões de brasileiros se iludem diariamente. O público mais vulnerável — economicamente e psicologicamente — aposta o que tem e o que não tem. As histórias de perda são silenciosas, envergonhadas, e raramente vão parar em CPIs.
No mesmo 13 de maio em que o país deveria estar debatendo a abolição da escravidão — e tudo o que não veio depois dela: terra, educação, saúde, dignidade para a população negra — estávamos assistindo a um novo tipo de espetáculo.
Um circo que o presidente da CPI prometeu evitar, mas que já estava armado desde o início.
A elite brasileira se atualizou. Se antes explorava com o açoite, agora lucra com o algoritmo. Virgínia não inventou as bets, mas é símbolo de um país onde quem tem seguidores não precisa prestar contas, e quem perde tudo nem é ouvido. O silêncio sobre os vícios, sobre os jovens que abandonam a escola para apostar, sobre o dinheiro que some em segundos, só reforça o ciclo de exploração que atravessa gerações.
A CPI serviu como palco. Mas o que foi dito fora das câmeras — pelos que vivem nas filas do CRAS, nos grupos de WhatsApp pedindo ajuda pra pagar a conta de luz, ou nas conversas sussurradas sobre o “vício do marido” — continua sem espaço.
É por isso que o riso de Virgínia incomoda tanto. Não é apenas desprezo institucional. É um lembrete cruel de que, no Brasil, a exploração nunca precisou de disfarce. Só de plateia.
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