Seguimos nesta semana com as análises dos cenários eleitorais das cidades mais relevantes do Tocantins. Debruçamos agora sobre dois atuais grandes celeiros agrícolas, mas que se destacaram, inicialmente, pelo cultivo do abacaxi: Miranorte e Miracema. Caso se interesse em ler as análises sobre os outros municípios, clique aqui.

Palácio Araguaia dividido: Wanderlei e Laurez tem candidatos diferentes na cidade

No município de Miranorte, a disputa pela Prefeitura promete ser acirrada. Além do atual prefeito, Carlinhos (UB), não poder mais ser reeleito, há uma série de pré-candidaturas lançadas, dos mais diversos grupos políticos. A base do Palácio Araguaia está dividida: o governador Wanderlei Barbosa (REPU) está fechado com seu filiado, o vereador Adriano Santigo (REPU), enquanto o vice-governador, Laurez Moreira (PDT), bancou a candidatura do ex-deputado estadual e ex-prefeito da cidade, Stalin Bucar (PDT).

Santiago conta ainda com o apoio do deputado estadual Leo Barbosa (REPU) e do deputado federal Carlos Gaguim (UB). O apoio do atual ocupante da cadeira quase sempre é importante em qualquer eleição. Contudo, o gestor da cidade se filiou recentemente ao União Brasil, a convite da senadora Professora Dorinha (UB). Neste caso, há um certo receio do prefeito em declarar apoio a Santiago, visto que ainda há possibilidade da pré-candidatura da atual vice-prefeita, Jô Ribeiro (UB), se viabilizar. Neste caso, ele não poderia ser contrário à sua companheira de partido.

Já Stalin, em razão de sua recente filiação ao PDT, certamente terá o apoio do deputado estadual Gutierres Torquato (PDT), o parlamentar mais próximo de Moreira, o líder da sigla. A família Bucar vem de três derrotas consecutivas em eleições anteriores (2012 – 2016 -2020). Não é difícil contextualizar que retomar o poder é questão de honra para o velho e conhecido político da região. É preciso registrar que ele ainda goza de um certo prestígio na cidade. Além disso, a provável pulverização de candidaturas pode lhe favorecer, por ser uma figura política mais conhecida, como também, mais experiente no trato da coisa pública.

Candidato liberal ainda sonha com apoio do atual gestor

Mas não apenas Santiago e Jô disputam as atenções do prefeito. Os bastidores indicam que também há um “namoro político” do gestor municipal com o candidato liberal Leandro Barbosa (PL), apoiado pelo deputado federal Eli Borges (PL). Barbosa não tem rejeição e vem de família tradicional da cidade. Seu falecido pai já foi prefeito do município. Entretanto, um ponto desfavorável é a falta de experiência na gestão de máquinas públicas.

Ex-prefeito Abrão Costa tenta emplacar seu retorno ao Paço Municipal

Correndo por fora, mas não menos importante, vem o ex-deputado estadual e ex-prefeito Abrão Costa (MDB). Apoiado pela cúpula do seu partido e pela deputada estadual Vanda Monteiro (UB), lidera um grupo político consolidado na cidade – que elegeu, inclusive, o atual prefeito em 2016 em 2020, quando ainda era filiado ao MDB. O problema de Costa, no entanto, é sua declarada rejeição junto a população. Sua gestão – entre 2009 e 2012 – foi marcada por infindáveis problemas e a maior prova disso foi não ter conseguido se reeleger no pleito eleitoral de 2012.

Por fim, é provável que a Federação (PT-PV-PCdB) também lance candidatura própria ao cargo majoritário visando marcar território, mas com chances reduzidas. Neste caso, o nome do pré-candidato seria Fernando Mota (PV), apoiado pelo deputado estadual Ivory de Lira (PCdB). O real objetivo seria o fortalecimento da chapa de vereadores mais alinhados à esquerda que, no momento, estão sem espaço nas outras coligações.

Esse é mais um município que, provavelmente, os grandes líderes partidários, entre os quais, o governador e o vice-governador, evitarão subir no palanque, pois seus aliados estarão em conflito durante a campanha eleitoral.

Cenário em Miracema é totalmente diferente: atual prefeita disputará a reeleição

Já em Miracema, a atual gestora eleita pelo MDB em 2020, Camila Fernandes (REPU), ainda pode ser reeleita. Sua recente filiação ao partido do governador melhorou seu “score” político que, diga-se de passagem, andava em viés de baixa. Muito criticada por alguns vereadores da cidade e por considerável parcela da população, a prefeita foi questionada junto ao Ministério Público, por exemplo, por ter adquirido, mas não instalado, equipamentos de saúde que ainda estão encaixotados, deixando a população desassistida dos serviços. Não navega, portanto, em céu de brigadeiro, mas tem lá o seu eleitorado cativo, além de contar com importante suporte de dois senadores: Professora Dorinha e Eduardo Gomes (PL).

A promessa de novo fôlego está atrelada a filiação de Camila ao Republicanos. Essa articulação, diga-se de passagem, está na cota do deputado estadual Nilton Franco (REPU). Este fato causou, inclusive, um certo desconforto, tanto no próprio partido, que resultou na saída de alguns filiados com sua chegada, como também, para o deputado Ivory de Lira. Aliado de primeira hora do governador Wanderlei Barbosa, mas opositor da prefeita, Lira pretendia ter o gestor estadual no palanque do seu pré-candidato, Saulo Milhomem (PDT).

Falando nisso, esse é o maior adversário da prefeita no momento, assim como ocorreu na disputa de 2020, quando perdeu a eleição por aproximadamente 1.600 votos. Trata-se de nome forte quando se fala da representatividade da oposição na cidade. Na condição de vice-prefeito, exerceu o cargo a partir de setembro de 2018, após a morte do titular, Moisés da Sercon, esposo de Camila à época. Os levantamentos prévios e enquetes mostram que Saulo ainda tem domínio sobre boa parte do eleitorado, não tendo caído no esquecimento nestes quatros anos. Milhomem contará com o apoio do próprio Ivory e da Federação (PT-PV-PCdB), como também do vice-governador Laurez Moreira, presidente do partido ao qual se filiou recentemente, do deputado estadual Gutierres Torquato e do deputado federal Ricardo Ayres, um Republicano que não apoiará Camila.

Aliás, a título de contextualização, Ayres também não pretende apoiar o candidato do seu partido em Porto Nacional, o deputado federal Antônio Andrade, e já manifestou solidariedade ao atual prefeito, Ronivon Maciel. O gestor municipal acaba de migrar do PSD, presidido regionalmente pelo senador Irajá, para se filiar ao UB da senadora Professora Dorinha. Pode até parecer um “balaio de gatos”, mas as eleições municipais são muito pitorescas, com características muito peculiares. A ideologia partidária tem pouca influência neste contexto, ao contrário das últimas eleições presidenciais, por exemplo, polarizada entre a esquerda e a direita.

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Paralelamente, outros postulantes “correm por fora”

Como não poderia deixar de ser, algumas outras peças se movimentam nesse emaranhado político. O ex-deputado estadual e ex-prefeito, Junior Evangelista –atualmente inelegível – conta com o apoio do deputado estadual Luciano Oliveira (PSD) para lançar sua esposa, Andreia Bucar ao cargo de prefeita em outubro. É sabido que essa transferência de votos não se opera de modo assim tão fácil. Também falta a Evangelista, neste momento, um grupo político sólido no município. Portanto, a não ser que haja problemas estruturais nas outras duas candidaturas mencionadas, a chance de Andreia decolar é mínima.

Ainda muito incipiente e quase improvável, aparece a pré-candidatura do atual vice-prefeito, Aprijo Ribeiro (SD). Comerciante e agropecuarista com raízes sólidas na cidade, rompeu com a prefeita em 2022, após não obter espaços na gestão. Tem o apoio do deputado estadual Vilmar Oliveira (SD), mas os levantamentos prévios indicam um percentual de popularidade muito abaixo da crítica, não ultrapassando a casa dos 3%. Caso não haja um fenômeno eleitoral ou algo extraordinário, a opinião popular na cidade é que dificilmente essa candidatura será registrada.