Guilherme de Andrade

Nesta terça-feira, 5, completam três anos da morte de Marília Mendonça, a “Rainha da Sofrência”, como ficou conhecida. A cantora goiana conquistou multidões logo nos primeiros anos de sua carreira e se consolidou como uma das maiores artistas do país. Mesmo após sua morte, o nome da sertaneja segue no topo: Marília Mendonça quebra recordes de acesso, ganha prêmios internacionais da música e possui festivais dedicados ao seu repertório, atraindo milhões de brasileiros. A ausência repentina de Marília Mendonça deixou um vazio, entre tantos outros lugares, na indústria da música.

A sertaneja foi a primeira brasileira a alcançar a marca de 10 bilhões de reproduções no Spotify, além de ter sido a cantora mais ouvida no Brasil entre 2019 e 2022. No Youtube, são mais de 26 milhões de inscritos e 18 bilhões de visualizações, o que acabou rendendo o título de artista com maior número de vídeos com mais de 100 milhões de visualizações cada, em todo o mundo. Além disso, em maio de 2020, Marília fez a live com maior número de acessos simultâneos da história da plataforma até então, com 3,3 milhões de espectadores simultâneos. 

Em seu lançamento póstumo, o álbum “Decretos Reais”, a artista ganhou o Grammy Latino de melhor álbum de música sertaneja de 2023. A música “Leão”, que figura no álbum, permaneceu no top 200 das plataformas por mais de 500 dias consecutivos, sendo a música mais ouvida no Deezer e na Apple Music, e a segunda mais ouvida no Spotify, no ano de seu lançamento. As conquistas póstumas de Marília a colocam ao lado de estrelas como Elvis Presley e Michael Jackson em popularidade após a morte. 

Seja por saudosismo da eterna ‘Rainha da Sofrência’, uma simples homenagem, ou por perceber o sucesso da “fórmula” aplicada por Marília Mendonça em sua carreira, o fato é que a indústria da música sertaneja incorporou aspectos da produção de Marília Mendonça em si que dificilmente vão desaparecer. O que nos resta entender é o tamanho do vazio deixado pela cantora e até que ponto os artistas da atualidade conseguem preenchê-lo.  

Legado 

Para além dos números, Marília Mendonça influenciou todo o país de outras maneiras. A artista se colocou como um dos primeiros ícones do movimento na indústria da música que ficou conhecido como “feminejo”, uma vertente do sertanejo voltada para a perspectiva feminina do cotidiano. A música sertaneja é, tradicionalmente, ligada a meios culturalmente machistas e conservadores, e as poucas mulheres que se colocavam na cena musical, ou estavam acompanhadas de homens, ou cantavam temas minimamente alinhados a esses valores.

Cantando versos como “de mulher para mulher, supera”, “maldita hora que eu chamei você de namorado, imagina se a gente tivesse casado” e “se alguém passar por ela, fique em silêncio, não aponte o dedo”, Marília trazia, querendo ou não, uma perspectiva nova e verdadeira da mulher para o gênero. Sejam relacionamentos bem resolvidos, traições, amizades e até o cotidiano na prostituição, a voz da ‘Rainha’ ecoou no cotidiano de milhões de brasileiras, que até então não ouviam algo tão perto de sua realidade na música. Falar de Marília Mendonça é falar de empoderamento e representatividade. 

Ao lado de artistas como Maiara e Maraísa e Naiara Azevedo, Marília desenvolveu o que se chamou de feminejo, e hoje já é parte constituinte da música sertaneja. Esses temas e essas perspectivas nunca mais sairão da indústria sertaneja. 

Diversidade

Outro prática adotada pela artista que acabou expandindo os limites do gênero foram as múltiplas parcerias que fez com diversas áreas da música que, até então, não se misturavam tanto com o sertanejo. Canções em parceria com cantores de axé, pagode, rap, pop e da mpb, por exemplo, mostraram ao público a versatilidade que a música sertaneja pode ter. Seja com artistas mais populares, como Ivete Sangalo, Péricles, Gal Costa e Luiza Sonza, ou com alguns nomes menos conhecidos do público, como o rapper Gaab, as participações de Marília alcançaram bons resultados em todos esses segmentos.

Até mesmo dentro da indústria do sertanejo, Marília associou seu nome tanto com grandes “lendas” da geração passada, como Zezé di Camargo e Luciano, Leonardo, e Chitãozinho e Xororó, mas também ajudou a impulsionar o nome daqueles mais novos que ela na indústria, trabalhando junto de nomes como Murilo Huff, Yasmin Santos e Tierry. 

Desde sua morte, que aconteceu em acidente aéreo no dia cinco de novembro de 2021, diversas personalidades vêm homenageando Marília, o que solidifica seu legado. Bruno Mars, Péricles, Gloria Groove, Neymar, o Grammy, Roberta Miranda e muitos outros nomes levam, até os dias de hoje, o nome da ‘Rainha da Sofrência’. “A linguagem era de uma jovem, mas a atitude era de uma mulher que sabia o que queria, dona de si. Ela representou uma coisa muito forte dentro da música brasileira”, disse Zezé di Camargo sobre a artista.