Amanda Simões: “o mais importante é continuar lutando por si mesmas e pelas futuras gerações”

09 março 2025 às 09h36

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O Dia Internacional da Mulher, celebrado em março, é mais do que uma data comemorativa. Ele representa décadas de luta feminina por direitos sociais, políticos e trabalhistas. Desde os movimentos sufragistas até as recentes conquistas legislativas, as mulheres seguem reivindicando igualdade de oportunidades, respeito e proteção contra a violência de gênero.
Para falar sobre os avanços e desafios enfrentados pelas mulheres na atualidade, o Jornal Opção Tocantins entrevistou a advogada Amanda Simões, especialista em Direito Processual Civil. Durante a conversa, ela destacou a importância de debater o tema e refletir sobre o que ainda precisa ser conquistado para que a equidade de gênero seja, de fato, uma realidade. Confira a entrevista:
Por que você acha importante debater a questão das mulheres, especialmente no Dia Internacional da Mulher?
Porque é uma data que carrega um contexto histórico muito forte e não pode se resumir apenas a homenagens ou presentes. Assim como acontece com outras datas comemorativas, muitas vezes ela acaba se tornando apenas um evento comercial. Mas o 8 de março é um marco da luta feminina. É um momento para relembrar os desafios que enfrentamos para conquistar os direitos que temos hoje e para refletir sobre os que ainda precisamos alcançar.
E quais foram os principais avanços legislativos para os direitos das mulheres nos últimos anos?
Houve muitos avanços, mas eles são muito recentes. Por exemplo, nosso direito ao voto sem restrições só foi garantido em 1934. Em 1943, vieram os primeiros direitos trabalhistas, mas, até 1962, as mulheres só podiam trabalhar com autorização do marido. Outro avanço importante foi a possibilidade de escolher métodos contraceptivos, algo que só se tornou um direito garantido em 1996. A igualdade no casamento veio apenas em 2002. Depois disso, tivemos marcos como a Lei Maria da Penha, em 2006, a Lei do Feminicídio, em 2015, e a Lei da Importunação Sexual, em 2018. Mais recentemente, tivemos a Lei da Dignidade Menstrual, em 2021, e a Lei do Assédio Judicial, inspirada no caso Mari Ferrer, para proteger as mulheres dentro do próprio sistema de Justiça.
Apesar desses avanços, ainda há muitos desafios. O que ainda precisa ser aprimorado?
Infelizmente, a violência contra a mulher ainda é um problema grave no Brasil. O feminicídio e a violência doméstica continuam muito presentes no nosso cotidiano. Além disso, ainda há desigualdade salarial e discriminação no mercado de trabalho. Muitas mulheres perdem oportunidades porque os empregadores acreditam que elas terão menos disponibilidade devido à maternidade. A presença feminina na política também precisa aumentar. Não que homens não possam representar as mulheres, mas, na prática, muitos representam apenas os interesses masculinos. Outro ponto delicado, mas necessário, é o debate sobre a legalização do aborto e o direito da mulher de decidir sobre sua própria maternidade.
Como a legislação protege as mulheres no ambiente de trabalho?
No papel, a Constituição garante igualdade de direitos e proíbe a discriminação. A licença-maternidade é um direito assegurado, e há leis que determinam equiparação salarial. No entanto, a grande questão é a fiscalização. Muitas empresas descumprem essas normas, e as mulheres acabam sendo prejudicadas. Outro ponto é a cultura do machismo, que ainda está muito presente. Muitas vezes, os empregadores preferem contratar homens para evitar lidar com questões como licença-maternidade ou supostos impactos da TPM.
Como as mulheres podem buscar ajuda em casos de violência doméstica?
O primeiro passo é denunciar. O canal de denúncia 180 é um recurso essencial, e as delegacias especializadas são o melhor caminho para registrar ocorrências. Se a mulher for de baixa renda, pode buscar apoio na Defensoria Pública. Além da denúncia criminal, é possível solicitar medidas protetivas para afastar o agressor. Infelizmente, muitas mulheres ainda têm medo de denunciar, seja por dependência financeira, seja por receio de retaliação. Mas a denúncia é fundamental para quebrar esse ciclo de violência.
O que pode ser feito para garantir mais mulheres em cargos de liderança e decisão?
O incentivo precisa começar cedo, desde a escola. É importante que as mulheres sejam encorajadas a ocupar esses espaços e que haja políticas para garantir oportunidades reais. Muitas mulheres ainda enfrentam barreiras estruturais, como a jornada dupla ou tripla de trabalho, que dificultam seu crescimento profissional. Precisamos discutir isso e buscar soluções para que mais mulheres cheguem ao topo.
Para encerrar, que mensagem você deixa para as mulheres que ainda enfrentam desigualdade?
Tenham autoconfiança e busquem apoio. Não aceitem menos do que merecem. Se enfrentarem discriminação, procurem grupos de apoio e denunciem. Se um emprego não oferece oportunidades justas, busquem outro. O mais importante é continuar lutando por si mesmas e pelas futuras gerações. A mudança é lenta, mas cada conquista faz a diferença.