Bruno Azevedo: “Segurança pública se faz com inteligência, firmeza e diálogo”

04 maio 2025 às 08h00

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O Jornal Opção Tocantins traz como destaque na entrevista da semana o secretário de Estado da Segurança Pública, delegado Bruno Azevedo. Natural de Paraíso do Tocantins e com carreira na Polícia Civil desde 2009, Azevedo assumiu a pasta em janeiro, um momento decisivo para o Tocantins, com o desafio de reforçar o combate ao crime organizado, promover investigações transparentes e garantir a segurança da população.
Graduado em Direito pela Universidade Federal do Tocantins (UFT), com especialização em Direito Público e atuação na área de inteligência e combate à corrupção, o delegado já comandou importantes iniciativas, como a criação do Laboratório de Tecnologia contra a Lavagem de Dinheiro e da primeira Delegacia de Combate à Corrupção (Dracma) no Estado. À frente da SSP, ele promete intensificar o enfrentamento às organizações criminosas e manter a legalidade e a lisura como marcas da gestão.
Na conversa, Bruno Azevedo fala sobre os primeiros meses à frente da Secretaria, os desafios atuais da segurança pública tocantinense, o papel da tecnologia no combate ao crime e as estratégias para aproximar ainda mais a Polícia Civil da população. Confira a seguir a entrevista exclusiva.
Eu queria que o senhor contasse um pouco da sua história até chegar aqui. Onde o senhor nasceu?
Sou natural de Paraíso do Tocantins. Vim para Palmas em 2001, quando passei a cursar Direito na Universidade Federal do Tocantins. Me formei aqui, depois trabalhei no Ministério Público durante um período e ingressei na Polícia em 2009, ano do concurso. Atuei no interior durante aproximadamente seis anos e, depois, retornei a Palmas como diretor de inteligência estratégica. Lá, desenvolvemos diversos trabalhos.
Criamos o laboratório de combate à lavagem de dinheiro no Estado, estruturamos a análise criminal, trabalhamos na identificação e mapeamento de facções criminosas e ajudei a criar a primeira delegacia de combate à corrupção, que era a antiga Dracma e hoje é a Decor. Tivemos várias operações voltadas para o combate à corrupção no Estado.
Depois disso, me tornei presidente do sindicato. Inicialmente, fui vice da delegada Sarah Lilian Souza no período de 2021 a 2022. Posteriormente, assumi a presidência e fui candidato a vereador em Palmas, ficando na primeira suplência com 1.196 votos. Sou suplente do vereador Walter Viana (PRD). Algum tempo depois, o governador me convidou para assumir a Secretaria de Segurança, me dando total liberdade para implementar uma nova visão de governança, transparência e estabelecer um ciclo operacional de combate a diversos crimes. Desde janeiro, temos feito operações de forma contínua para oferecer segurança efetiva à população, com repressão qualificada, especialmente contra o tráfico de drogas.
Quais municípios o senhor passou nesses seis anos no interior?
Atuei como delegado titular em Tocantínia, abrangendo Rio Sono, Lizarda e Lajeado. Também fazia plantão em Miracema. Trabalhei por aproximadamente um mês em Guaraí e, na primeira semana após a nomeação, em Pedro Afonso. Basicamente, permaneci nessas cidades e nos plantões em Miracema.
Eu queria que o senhor falasse um pouco sobre os projetos para essa sua gestão. O que o senhor pretende realizar frente à SSP nesse período?
Temos vários desafios, a começar pela questão de recursos humanos. Estamos há muitos anos sem concurso público. Já estamos trabalhando nisso e, inclusive, estive reunido com o secretário de Administração para tratar dessa pauta. Queremos agilizar o concurso para repor o efetivo perdido ao longo dos anos com aposentadorias e afastamentos.
Também pretendo manter esse ciclo de operações, realizando ações em várias frentes para melhorar a segurança pública, principalmente nos grandes centros urbanos, com repressão qualificada às organizações criminosas. Temos unidades especializadas em Palmas e uma atuação forte em Araguaína, com as delegacias de Repressão a Roubos, Repressão a Narcóticos e Homicídios. Queremos estender essa repressão qualificada para todo o Estado. Já estamos conversando com delegados regionais, a delegada-geral e diretores para manter esse ciclo, que já tem apresentado resultados importantes.
Sobre a questão do concurso, em que pé está?
A questão ficou paralisada por um período, aguardando a aprovação do novo cargo de oficial investigador da Polícia Civil. Com a aprovação desse projeto, a Secretaria de Administração retomou o processo. Inclusive, recebemos um ofício solicitando algumas diligências, como a ratificação ou modificação da atual comissão e outras providências junto à Secretaria de Planejamento e ao grupo gestor. Pretendemos cumprir essas diligências rapidamente para acelerar a tramitação.
Como está o diálogo da gestão com os sindicatos em relação a isso?
Eu atuei muito tempo no movimento sindical, então já conhecia as demandas das categorias. Estamos tentando viabilizar essas demandas e sensibilizar o governador para pautas importantes. Os sindicatos apresentaram, por exemplo, uma proposta de mudança de tabela e do plano de cargos, carreiras e subsídios (PCCS). Estamos analisando isso e outras melhorias para as categorias. Já realizamos estudos de impacto de algumas demandas e encaminhamos à Casa Civil. Outras seguem em andamento, com parecer jurídico e estudo de impacto. A relação com os sindicatos é muito tranquila. No início, houve certa tensão, mas conversamos e alinhamos as principais demandas.
Quais melhorias o senhor notou nesses últimos anos na SSP?
Durante a gestão do doutor Wlademir Mota, tivemos índices muito positivos de redução de criminalidade. Tocantins ficou, se não me engano, em segundo lugar na maior redução de crimes violentos do país. Houve diminuição nos casos de furtos, roubos e latrocínios. Essa redução de crimes graves foi um legado importante. Nosso objetivo agora é manter essa diminuição e trazer uma governança mais moderna para a secretaria, mesmo com as dificuldades orçamentárias previstas para 2025. Estamos adotando medidas de austeridade e priorizando projetos importantes.
Qual legado o senhor pretende deixar?
O governo vai até o final de 2026. Pretendemos deixar projetos positivos, principalmente a realização do concurso e o início de obras importantes para a Cidade da Polícia Civil. O doutor Wlademir tentou muito tempo e não conseguiu, e agora estamos tentando retomar para deixar, pelo menos, o início dessas obras para a próxima gestão. Também queremos valorizar mais as categorias, dentro do possível, e garantir um atendimento melhor à população.
O senhor comentou sobre a redução de crimes graves, mas como está a questão do crime organizado? Quais os principais gargalos que a SSP encontra para combatê-los?
O problema das organizações criminosas no Brasil vai muito além da atuação policial. Hoje, temos uma legislação insuficiente e uma interpretação extremamente garantista em alguns tribunais superiores. Enquanto as polícias combatem essas organizações com os instrumentos disponíveis, enfrentamos no âmbito legislativo e judicial esses dois gargalos. É fundamental endurecer a legislação e corrigir essa interpretação garantista, que muitas vezes protege exageradamente o criminoso e esquece a vítima. Além da atuação policial, precisamos resolver esse problema legislativo e de interpretação no país.
Um dos maiores crimes recentes na história do Tocantins foi a chacina de Miracema, que completou dois anos recentemente. Como está a situação? Existe a possibilidade de alguém ser preso?
Sem dúvida, aquele foi um crime bárbaro, não apenas pelas pessoas vitimadas, mas pela ousadia da ação dentro de uma unidade policial. As unidades responsáveis estão investigando. Não podemos adiantar aspectos específicos, mas certamente haverá uma resposta. Acredito que os procedimentos estão em fase avançada e possivelmente serão concluídos nos próximos meses.
Há um prazo para concluir o inquérito?
Inquéritos muito complexos demandam mais tempo. Há perícias, prorrogações e diligências que estendem os prazos. Mas acredito que já está em uma fase mais avançada e deve ser finalizado nos próximos meses.
O senhor gostaria de acrescentar algo que eu não tenha perguntado?
Apenas ressaltar a importância de a população compreender o trabalho diário da polícia. A participação popular é fundamental, seja como denunciante ou registrando ocorrências.
Temos o Conselho Estadual de Segurança Pública (CONESP), com representantes da sociedade civil, e o debate lá é muito importante. As pessoas estão na ponta, vivendo as dificuldades, e essa interação facilita a formulação de políticas públicas mais eficazes.
A segurança pública precisa ser esse centro de articulação. Temos a superintendência integrada, a escola superior e a Polícia Civil contribuindo com estudos e sugestões. Recentemente, adquirimos um sistema de reconhecimento biométrico que tem trazido mais dinamismo às investigações. Também adquirimos soluções tecnológicas para inteligência que otimizam o fluxo investigativo e, com certeza, esses investimentos vão trazer ótimos resultados para a segurança pública.