“Enquanto uns batem, eu entrego”: Irajá rebate críticas, alfineta Wanderlei e diz que oposição cresce

25 maio 2025 às 10h34

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Fim da tarde de 7 de outubro de 2018. Nas urnas, os tocantinenses elegeram o senador mais jovem do Brasil, até aquele ano, a vencer uma eleição para o Senado Federal. Com 214.355 votos, Irajá Silvestre Filho, então com 35 anos, conquistava uma vaga pelo PSD. Filho da ex-ministra e ex-senadora Kátia Abreu, o jovem parlamentar, nascido em 1983, já acumulava experiência política e empresarial: formado em Publicidade e Propaganda, foi emancipado aos 16 anos para tocar o próprio negócio e, aos 19, tornou-se pai. Em 2011, assumiu o primeiro mandato como deputado federal e, em 2014, foi reeleito. Antes disso, chegou a ocupar a Secretaria de Desenvolvimento Agrário e Regularização Fundiária do Tocantins.
Hoje, com o mandato no Senado se aproximando do fim, que vai até fevereiro de 2027, Irajá faz um balanço da sua atuação em entrevista exclusiva ao Jornal Opção. O senador falou sobre legado de obras em todos os 139 municípios tocantinenses com defesa do municipalismo, o projeto “Saúde Já”, o debate nacional sobre a legalização dos jogos de azar, tema em que é relator, as projeções dos próximos passos do PSD no estado, atuação da oposição regional, e, claro, a relação com o atual governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos).
Qual a avaliação que o senhor faz desses quase oito anos de mandato?
Divido em duas etapas. Na primeira metade, me dediquei a levar obras para todos os 139 municípios do Tocantins. De escolas a asfalto em zona rural, passando por UBSs e ações sociais. Tem cidade com seis obras, outras com quatro, mas nenhuma ficou de fora. Isso mostra meu compromisso com o municipalismo, bandeira que defendo há 15 anos, desde quando fui deputado federal. Cada cidade tem ao menos uma obra. Posto de saúde, escola, asfalto, estrada rural, ação social… posso apresentar uma a uma. Porque é nas cidades que as pessoas moram e precisam ser atendidas e sigo a mesma linha desde os dois mandatos de deputado federal. Enquanto outros mandam recursos para o governo estadual ou para fora, 100% das minhas emendas vão direto para os municípios do Tocantins.
E na segunda metade do mandato?
Minha prioridade virou a saúde. Investimos pesado em aquisição de ambulâncias, construção de UBSs e custeio de hospitais. Só em 2023 foram mais de R$ 40 milhões para a saúde do Tocantins. O Estado vive um caos, com filas enormes e falta de cirurgias. A gente criou o projeto Saúde Já, que começou como piloto em Araguaína e já atendeu 7 mil pessoas. Deu tão certo que expandimos para Formoso do Araguaia, Paraíso, Araguatins e estamos finalizando em Porto Nacional. O foco são consultas e cirurgias eletivas de média complexidade.
O Estado não tem cumprido seu papel, especialmente na alta complexidade. Há corrupção, mas não entro nesse mérito.

E em Araguatins, o senhor inaugurou uma maternidade, certo?
Exatamente. Depois de 30 anos, as mulheres vão poder dar à luz no próprio município. Antes, tinham que correr para Araguaína ou até Imperatriz (MA). Essa maternidade também vai oferecer cirurgias eletivas como vasectomia, hérnia, vesícula… Estamos zerando a fila da dor reprimida.
Quantas unidades o projeto Saúde Já entregou?
Cinco policlínicas em funcionamento: Araguatins, Araguaína, Paraíso, Porto e Formoso. Ainda teremos o pronto atendimento materno-infantil de Palmas, na região sul da cidade, e o Hospital do Bico do Papagaio, em Praia Norte, especializado em cirurgias. Só nos próximos 12 meses, o projeto deve atender 50 mil tocantinenses.
Vamos falar das comissões e relatoria no Senado. O senhor é relator do projeto de legalização dos jogos de azar. Como está essa tramitação?
Os jogos de azar existem e são dominados pelo crime organizado: bingo clandestino, cassino ilegal, jogo do bicho. Sou favorável à legalização. Hoje, os jogos existem, é uma realidade, mas são dominados pelo crime organizado. Cassinos clandestinos, jogo do bicho… tudo isso movimenta bilhões sem pagar um centavo de imposto. E o pior: lucra com a ausência do Estado. A legalização traz transparência, arrecadação, empregos e turismo.
Turismo? Como assim?
Cassino não é só caça-níquel. É resort, show internacional, centro de convenções, hotel cinco estrelas, geração de emprego em massa. O Tocantins, por exemplo, tem potencial para virar um polo turístico com o Jalapão. Imagina um resort de alto padrão com cassino integrado? É dinheiro novo entrando, gente de fora chegando, economia girando. E tudo dentro da legalidade.
Hoje o crime organizado lucra 100% com os jogos, e o Estado não arrecada nada.
Mas há forte resistência da bancada evangélica.
Respeito quem é contra, mas vamos ser francos: quem é contra a legalização está, na prática, protegendo o crime. Não existe país sério no mundo onde o jogo seja tratado como contravenção do século passado. A proposta que relatamos prevê fiscalização rígida, controle de quem pode operar e prevenção ao vício. É jogo responsável.
O senhor acha que essa pauta tem apoio popular?
Tem. O DataSenado mostrou que a maioria dos brasileiros apoia a legalização dos jogos. E esse número só tende a crescer quando a população entender que estamos falando de emprego e saúde pública, já que parte da arrecadação será carimbada para o SUS.
O PSD saiu da eleição municipal de 2024 com seis prefeitos eleitos no Tocantins. O resultado foi dentro do esperado?
Foi, sim. Saímos fortalecidos, principalmente em cidades estratégicas. E o trabalho continua. Estamos focados em montar chapas competitivas para 2026, tanto na majoritária quanto na proporcional. O PSD é um partido com raízes no centro, mas que tem liberdade para dialogar com todos os lados.

E o senhor pretende disputar a reeleição ao Senado?
Sim. Sou pré-candidato à reeleição. Tenho andado pelo estado, prestado contas do mandato, levado recursos, acompanhado obras. Estou pronto pra mais um desafio. Em 2018, fui eleito como o senador mais jovem do país.
Agora, quero colocar essa experiência a serviço do Tocantins por mais oito anos.
Sobre a Câmara Federal e Assembleia Legislativa, como vem PSD 2026?
Vamos constituir uma chapa de deputados federais para fazer de uma a duas vagas e de deputados estaduais que hoje nós temos três cadeiras, o objetivo é chegar a cinco. Na última eleição, eu fiz a opção por bons quadros, não por inchar o número de candidatos. Qualidade não é quantidade e nunca será.
Sobre fusão e federalização de partidos, o que temos visto com frequência atualmente, o que o senhor avalia?
Eu vejo isso com muita naturalidade. Há mais de 10 anos, temos tomado medidas no Congresso para reduzir o número de partidos. Prova disso são o fim das coligações proporcionais e a cláusula de barreira, que visam justamente isso: diminuir a fragmentação. Se 15 anos atrás tínhamos mais de 30 partidos, até a eleição de 2030, não em 2026, a expectativa é que fiquemos com cerca de oito partidos, seguindo essa tendência de fusões, federações e corporações que já estão acontecendo. Trato isso como um processo natural e benéfico para a política, uma política séria, onde os candidatos e mandatários estejam realmente alinhados aos princípios e valores dos seus partidos.
Sobre Wanderlei Barbosa, que chegou a declarar que o senhor não ajuda o estado, o que tem a dizer?
Eu acho que a inveja é o maior sentimento de admiração que um ser humano pode expressar pelo outro.
O governo dele não entrega uma obra importante em três anos. Isso é vergonhoso. Vai ser a primeira vez que um governador vai conseguir essa façanha. Ficar discutindo eleição um ano e meio antes é coisa de quem não tem o que mostrar. De gente à toa. Eu tenho o que fazer. Enquanto uns batem, eu entrego. Críticas me dão combustível.
O senhor é claramente oposição ao atual governo. Mas internamente, não se vê uma oposição forte no Tocantins. O senhor acha que a oposição está enfraquecida?
Olha, quando existe uma oposição formal, dá para medir se ela está forte ou fraca. Mas na ausência de uma oposição estruturada, fica difícil avaliar.
Mas o senhor acredita que há um movimento de reação em curso?
Com certeza. Há vários movimentos acontecendo no Tocantins. Vêm da classe política, do setor empresarial, de ONGs, até da própria imprensa, que está fazendo sua autocrítica. Todo mundo está percebendo que as coisas no estado não estão indo bem.
E o governo, na sua visão, tenta esconder essa realidade?
Sim, tenta criar uma fantasia, um teatro. Como se estivesse tudo às mil maravilhas. Mas basta olhar os indicadores sociais, econômicos, fiscais… não condizem com esse cenário que o governo tenta pintar.
Esses movimentos que o senhor cita estão crescendo?
Estão, sim. Cada dia mais uma liderança política se posiciona, uma autoridade se manifesta, um sindicato solta uma nota. Não quero citar nomes para não expor ninguém, mas o incômodo é real e generalizado.
Na prática, o que o senhor enxerga de mais grave?
A ausência total de projetos. Um prefeito do interior anda 300, 500 km para chegar à capital e não encontra nada: não tem programa habitacional, não tem parceria na saúde, não tem política social, nem recuperação asfáltica. Absolutamente nada. O que tem é empreguismo, que virou moeda de troca do governo.
O senhor compara com outros estados?
Claro. Veja o Pará, por exemplo. Lá, os prefeitos têm acesso a programas permanentes em várias áreas. Aqui, nem um. É inconcebível. Essa paralisia tem deixado parte da classe política indignada. E esse sentimento está crescendo.
Sobre os nomes que tem se apresentado para o governo do Tocantins em 2026, qual sua avaliação?
Olha, o que os tocantinenses mais esperam, e merecem, é um governante à altura do estado. Alguém preparado, com experiência política, credibilidade e boas relações para trazer projetos e parcerias que realmente melhorem a vida das pessoas. Acho que na próxima eleição vamos ter nomes de peso e qualificados na disputa, como o vice-governador Laurez Moreira (PDT), a senadora professora Dorinha (UB) e outros que devem colocar seus nomes à disposição.
O Tocantins precisa disso. Chega de governo fraco, sem preparo e sem entrega. A gente vive hoje um cenário de muita incompetência. E, olhando os nomes que já surgiram como possíveis candidatos, acredito que teremos um salto de qualidade na próxima eleição.
Sobre a atuação da bancada tocantinense em Brasília, o senador enxerga mas união ou desunião?
Isso é interessante. No Congresso, tem bancadas de alguns estados que vivem em clima de tensão e disputa interna, não vou citar nomes pra não causar atrito. Mas no Tocantins é diferente. Apesar das diferenças ideológicas, de ter gente da base e da oposição, quando o assunto é o estado, a gente se une. Posso discordar totalmente de um colega em questões políticas, mas se a pauta é Tocantins, todo mundo senta à mesa e pensa no bem comum. Esse espírito de colaboração realmente prevalece na bancada. Estou sendo bem sincero. Agora, quando a pauta deixa de ser o estado, aí sim cada um segue seu rumo. Disputa por espaço, Senado, reeleição, isso faz parte. Tem três nomes se colocando como pré-candidatos ao Senado, todos com condições de disputar. E dentro da Câmara também há disputa por cadeiras. Mas dá para separar bem o que é interesse coletivo do que é jogo político.