O senador da república pelo Tocantins, Irajá, é um dos fundadores do PSD e exerce a presidência estadual da sigla. Em 2010, foi eleito deputado federal com apenas 27 anos. Já em 2014, elegeu-se o segundo deputado federal mais votado do Tocantins, com aproximadamente 63 mil votos. Nas eleições de 2018, foi eleito Senador pelo Estado do Tocantins, obtendo mais de 214 mil votos, correspondente a 16,82% dos votos válidos, sendo o senador mais jovem da história do País.

Irajá Silvestre Filho, por anos conhecido como Irajá Abreu, é um político de carreira meteórica. Natural de Goiânia (GO), é graduado em publicidade e propaganda, empresário e produtor rural. Pertence a tradicional família política no Tocantins e seu mandato está focado no municipalismo e na geração de emprego e renda.

Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Opção, o senador aborda temas como partidarismo, atuação parlamentar, como também expõe sobre seus posicionamentos políticos em relação a atual gestão do Estado do Tocantins.

Como tem sido as proposituras e o direcionamento do seu mandato de senador?

Creio que seja importante destacar, primeiramente, que o papel do legislativo é fiscalizar o executivo, averiguando se os recursos estão sendo bem aplicados, com eficiência e responsabilidade. Tenho procurado fazer isso com muita responsabilidade também, apontando as críticas, aprofundando nesses assuntos que estão acontecendo no Estado, como o problema da saúde, que é crônico, por exemplo. Estamos falando de um governo invisível e indiferente ao sofrimento das pessoas, como se nos hospitais estaduais não houvessem filas nos abarrotados corretores. As pessoas aguardam dias e semanas para se submeterem a cirurgias eletivas, além da falta de medicamentos, ausência de profissionais, enfim, um caos completo. Isso já vem perdurando há mais de dois anos, ou seja, desde o início da gestão do governador Wanderlei Barbosa. Creio que ele já teve tempo mais do que o suficiente para tomar as devidas providências, no sentido de corrigir essas falhas.

Esses problemas são gravíssimos, uma vez que estamos tratando da vida das pessoas e, portanto, é importante a gente esclarecer isso: é o papel do legislativo, fiscalizar o executivo. Além disso, o governo do Estado vem sofrendo, por parte do judiciário, uma série de investigações.

Estamos falando de um governo invisível e indiferente ao sofrimento das pessoas, como se nos hospitais estaduais não houvessem filas nos abarrotados corretores. As pessoas aguardam dias e semanas para se submeterem a cirurgias eletivas, além da falta de medicamentos, ausência de profissionais, enfim, um caos completo

Após o encerramento do pleito de 2022, O Sr. questionou junto ao Tribunal Regional Eleitoral, possíveis irregularidades na campanha que elegeu o atual governador. Qual é o andamento dessas ações?

Há várias investigações no Superior Tribunal de Justiça (STJ), dentre as quais, por corrupção, por venda irregular e ilícita de cestas básicas adquiridas com dinheiro público. O próprio governador, inclusive, pessoalmente, está sendo investigado por esse crime no STJ, uma instância superior.

Também há processos em curso na justiça eleitoral. São várias ações por abuso de poder econômico, por uso indevido da máquina administrativa em processo eleitoral. São ações que não foram movidas unicamente pelo PSD, sigla que eu presido no Estado, mas também por outros partidos nesse mesmo sentido. Há o caso de contratações de 15 mil pessoas no ano eleitoral, outro pelo uso da Secretaria Estadual de Comunicação para autopromoção do candidato ao governo, com o uso do dinheiro público. Outro processo trata do uso de “influencers” para cooptar eleitores, que foram contratados com recursos públicos. Enfim, são muitos processos, tanto no STJ, quanto na justiça eleitoral. Paralelamente, esses processos também estão sendo investigados pelo Tribunal de Contas da União (TCU), pela Controladoria Geral da União (CGU) e por aí vai. Mas esse é o nosso papel. Quem deve prestar contas à justiça são os investigados, é o governo Wanderlei Barbosa. Cabe à justiça fazer as suas apurações e, lógico, responsabilizar os culpados, se for o caso.

O Sr. continua sendo a única voz dissonante da bancada federal em relação ao Governo do Estado. Os demais parlamentares demonstram estar alinhados…

Confesso que não fico medindo ou mesmo comparando minhas condutas aos outros colegas parlamentares. Cada um tem a sua consciência, cada um sabe do seu papel. Estou convicto que são pessoas que querem o bem do Estado. Estou fazendo a minha parte, fui eleito para isso.

Quando estamos exercendo um cargo eletivo, temos várias atribuições, precisamos destinar recursos para contribuir com o desenvolvimento dos municípios. Além disso, precisamos aprovar bons projetos de lei que transformem a vida da população. Também é nossa atribuição fiscalizar o executivo. Eu tenho procurado fazer o meu trabalho com muita humildade, entretanto, com muita responsabilidade acima de tudo.

Há poucos dias, o Sr. fez um discurso no plenário do Senado que abordava os R$ 31 milhões gastos com a contratação de UTIs. Seria importante que o Sr. discorresse sobre esse tema.

Claro que o meu desejo, quando falamos das coisas do Tocantins, seria falar de coisas boas, mas ultimamente – infelizmente – a gente tem presenciado e testemunhado muitas notícias ruins do Estado, no que se refere a gestão política. O TCU está investigando, com auditoria do próprio órgão, com absoluta transparência e isenção, os convênios que foram firmados com recursos do Tesouro Federal para investimentos na saúde do Tocantins. Entre vários desses convênios, eu dei destaque num discurso feito na tribuna do Senado Federal, que versa sobre o valor de R$ 31 milhões para prestação de serviços de gerenciamento e operacionalização de 190 leitos de UTIs, adulto, pediátrico e neonatal. O próprio TCU identificou diversas irregularidades na execução, fiscalização e pagamento deste contrato, que estão sendo apuradas. Entretanto, já restou constatado que, desde o início, houve falhas graves na prestação de serviços e isso de forma reiterada. Tanto o fiscal do contrato, quanto o gestor, certamente estão sendo investigados por essas más condutas e deverão responder civil e criminalmente pelo que aconteceu.

Mas esse é apenas mais um, dentre tantos outros fatos, que vem acontecendo no Estado. A Polícia Federal já bateu pela terceira vez na porta da Secretaria da Saúde recolhendo provas, apreendendo documentos ou equipamentos e conduzindo coercitivamente pessoas. Infelizmente, isso já virou uma rotina e isso é muito triste para o Estado.

Está, inclusive, se tornando algo comum, como se isso fosse absolutamente normal, sem contar a apreensão de dinheiro em espécie enterrado no jardim da casa de parentes do ex-secretário de saúde. São tantos fatos que nos envergonham, mas tudo isso demonstra claramente uma coisa para a população: infelizmente há desvio de recursos públicos. Esse dinheiro é fruto dos impostos pagos pele contribuinte, que deveriam estar sendo bem aplicados na saúde pública, mas que infelizmente estão indo pro ralo. Aguardo o resultado dessas investigações que, inevitavelmente, vão concluir que essas pessoas precisam e devem responder por isso.

A Polícia Federal já bateu pela terceira vez na porta da Secretaria da Saúde recolhendo provas, apreendendo documentos ou equipamentos e conduzindo coercitivamente pessoas. Infelizmente, isso já virou uma rotina e isso é muito triste para o Estado.

Dentro desse aspecto, é por essa razão que o Sr. direciona suas emendas diretamente para os municípios ao invés de mandar para o Governo do Estado?

Como sempre fiz, desde o meu primeiro mandato como deputado federal em 2011 – já se passaram praticamente 13 anos – sempre prestigiei os municípios, tanto pequenos, como médios e grandes.

Tenho, graças a Deus e a confiança dos tocantinenses, importantes obras que foram entregues em todos os 139 municípios. Eu tive essa honraria, na verdade. Fui o primeiro parlamentar do Tocantins a ter obras entregues em todos os municípios. Digo isso com muito orgulho. Agora o Estado tem uma arrecadação própria e deveria estar também ajudando os municípios. O que não tem feito, não é? Quais são as obras que estão sendo realizadas pelo governo do Estado nos municípios do Tocantins? Pelo contrário, os prefeitos têm reclamado constantemente da ausência e da omissão do governo do Tocantins em relação às obras nos seus municípios.

Nestes dois anos e meio, praticamente, não tem uma obra estruturante, uma obra relevante, que iniciou e terminou nesse governo. Não estou me referindo a obras que foram pegas de carona de governos anteriores. Estou falando de obras que foram iniciadas pela atual gestão.

Fui o primeiro parlamentar do Tocantins a ter obras entregues em todos os municípios

Como a ponte de Porto e o hospital de Araguaína, por exemplo?

Exatamente! A ponte e o hospital já eram obras da gestão anterior, que ele pegou do meio para o fim. O fato é que, infelizmente não tem uma obra relevante que tenha iniciado e esteja sendo entregue nesse governo. Eu não sei, sinceramente, se vai ter tempo para isso.

Suas pautas estão baseadas no agronegócio, na saúde, na infraestrutura de uma forma geral. Todavia, tem uma pauta específica que o Sr. dá mais destinação?

Eu sempre tive um cuidado, uma atenção maior na geração de emprego e renda e se houver uma pesquisa nos projetos de lei de minha autoria, todos eles são para estimular a geração de emprego e renda do cidadão brasileiro e tocantinense.

É claro, tenho ações na área da saúde, várias obras, inclusive entregues, como postos de saúde em dezenas de municípios, equipamentos, ambulâncias, hospitais. Agora mesmo, há um recurso em caixa para construção do hospital do Bico do Papagaio, que vai realizar cirurgias eletivas para atender toda a demanda reprimida da região, que engloba 25 municípios. Estamos entregando dois novos postos de saúde em Porto Nacional.

Só para exemplificar, temos a Policlínica, que está sendo o maior sucesso em Araguaína e atende quatro especialidades: ortopedia, pediatria, ginecologia e a psiquiatria. Já realizamos quase 300 cirurgias eletivas e mais de 400 consultas e exames nessa Policlínica, que é a primeira do Tocantins.

Esse é um projeto piloto que estamos inaugurando e pretendemos ampliá-lo para todas as regiões do Estado nesses próximos dois anos, visando atender a todas as seis regiões do Tocantins. Poderia discorrer sobre vários outros projetos, mas posso dizer que tenho ações produtivas na saúde, educação, assistência social, esporte, enfim, em várias frentes. Reitero: os direcionamentos tem sempre o viés de estimular a geração de emprego e renda, que é o que garante a dignidade do cidadão.

Eu sempre tive um cuidado, uma atenção maior na geração de emprego e renda e se houver uma pesquisa nos projetos de lei de minha autoria, todos eles são para estimular a geração de emprego e renda do cidadão brasileiro e tocantinense.

Na condição de presidente do PSD no Tocantins, como estão as articulações para as eleições municipais de 2024?

O trabalho, desta vez, será diferente que nos anos anteriores. Temos buscado priorizar a qualidade dos quadros de candidatos a prefeitos, vice-prefeitos e vereadores em todo o Estado, em todas as cidades. Selecionamos nomes realmente bons que, uma vez eleitos, vão representar bem as suas cidades, seja no executivo, seja no legislativo. Estou muito animado e confiante com o trabalho que nós fizemos até aqui. O partido está muito bem-organizado, temos bons nomes para disputar a eleição em todos municípios, mas sempre privilegiando a qualidade. O conteúdo do candidato tem realmente que corresponder às expectativas do eleitor, porque isso, sem dúvida nenhuma, vai fazer toda a diferença nos próximos anos.

Como lidar, por exemplo, com a questão do deputado estadual Eduardo Fortes, filiado ao PSD e pré-candidato a prefeito de Gurupi com o apoio do Palácio Araguaia, que o Sr. tanto critica? Como é que funciona essa história?

Minha convicção é que apoio a gente não dispensa em política. Infelizmente a gente não pode selecionar só os bons apoios que a gente deseja. A eleição requer isso, alianças políticas e partidárias que, muitas vezes, não são desejáveis, mas que são necessárias para poder obter êxito na eleição.

Confesso que o Eduardo Fortes me surpreendeu na Assembleia Legislativa, tem feito um trabalho muito atuante na defesa do produtor rural, na defesa do social, com seus projetos que mantém em Gurupi, como hortas comunitárias, etc. Isso tem refletido na sua aceitação, na aderência do nome dele e na eventual candidatura a prefeito que, até esse momento, ainda não está decidida. Ele tem avaliado o cenário, a gente tem conversado muito a respeito, mas sem dúvida nenhuma, ele está preparado, caso venha a ser o candidato. Se for, ele tem condições de aglutinar o apoio de várias frentes, vários partidos. Por enquanto, há muita especulação, muita sondagem, não tenha dúvida disso, mas ele conta com meu apoio, ele sabe disso. É um grande político que faz parte do quadro do PSD no Tocantins.

Minha convicção é que apoio a gente não dispensa em política. Infelizmente a gente não pode selecionar só os amores que a gente deseja. A eleição requer isso, alianças políticas e partidárias que, muitas vezes, não são desejáveis, mas que são necessárias para poder obter êxito na eleição.

Irajá Abreu e Eduardo Fortes | Foto: Dibulgação

O Sr. acredita que o PSD tem chance em outros municípios, quer seja com nome próprio ou como aliado?

Vários municípios merecem nosso reconhecimento, seja nas pequenas, médias ou grandes. Eu destacaria ainda o prefeito de Araguaína, o Wagner Rodrigues, que vem fazendo um trabalho extraordinário, com grandes obras estruturantes e importantes sendo entregues à população ao longo desses quatro anos do mandato. Agora vai passar novamente pelo crivo das urnas na disputa da reeleição, tendo como seu aliado a excepcional aprovação do seu governo. Estou acreditando muito na sua reeleição.

Tem também o prefeito Celso Morais de Paraíso. É um gestor muito bem avaliado. Tenho uma relação pessoal com ele desde a adolescência. A gente tem uma amizade, independente da política. Acredito que ele também receberá da população a oportunidade de poder ser reeleito e continuar esse belo trabalho, que é transformador.

Esses dois nomes tem o apoio incondicional do PSD. Tenho contribuído com a gestão de ambos nos últimos anos, direcionando recursos expressivos de emendas de minha autoria, que resultam em obras importantes.

Mas também existem vários prefeitos que estão bem avaliados, como o prefeito de Cariri, embora já tenha sido reeleito, o prefeito de Lavandeira, na região sudeste, lá no Bico do Papagaio, o prefeito Nazaré, de São Sebastião, de São Bento, que são cidades pequenas. Falo isso para não cometer nenhuma injustiça aqui e ficar falando só das cidades grandes. Essas também merecem reconhecimento.

Temos muitos nomes. Várias cidades do Estado estão sendo bem administradas pelos nossos correligionários. Uns vão à reeleição, outros já foram reeleitos, mas certamente vão apoiar os seus sucessores.

Como é que o PSD vai se posicionar em Palmas?

Por mais incrível que pareça, a capital ainda está com um quadro muito indefinido, ainda muito aberto. Claro, como oposição, estamos avaliando o cenário e ver de que maneira poderemos contribuir e participar desse processo. O fato é que o PSD, certamente, estará dentro de um bom projeto. Não vamos ficar assistindo isso, vamos participar diretamente. Queremos contribuir com o bom projeto pra nossa capital.

Pretendemos organizar uma boa chapa de candidatos a vereadores. Estamos trabalhando essa construção, conversando com vários nomes para montar uma chapa competitiva que possa se eleger dois ou três vereadores, a exemplo que nós fizemos na última eleição para a Assembleia Legislativa. A nossa “chapinha” surpreendeu em 2022 e deu condições para a eleição de três deputados estaduais.

E sobre o último futebol solidário? Acompanhamos a repercussão e realmente faz diferença na vida das pessoas. Aproveitamos o ensejo para parabenizá-lo pelo evento…

Agradeço o apoio. Cada ano a edição do futebol tem um novo desafio. Temos que superar a arrecadação das edições anteriores, procurando fazer um evento sempre mais organizado que o outro. Queremos ajudar mais entidades beneficentes, arrecadar alimentos e contemplá-las.