A professora Janad Valcari é graduada em direito, administração, neuropsicopedagogia, tecnóloga em gestão e empresária no ramo da Educação. Nasceu em Palmeirópolis (TO) e reside em Palmas desde 1992. Em 2007, criou o “Instituto Plantando e Colhendo o Bem”, que realiza intenso trabalho social em prol das famílias carentes. Nas eleições municipais de 2020, elegeu-se vereadora de Palmas com pouco mais de dois mil votos. Tornou-se presidente da Câmara e foi premiada nacionalmente entre os melhores parlamentares do Brasil. Já em 2022, filiada ao PL, entrou para a história política do Estado, sendo a deputada estadual mais votada na capital e a mulher mais votada do Tocantins, com 31.587 votos.

Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Opção Tocantins, a deputada e pré-candidata a prefeita de Palmas falou sobre seu histórico como parlamentar em duas Casas Legislativas, projetos apresentados, representatividade feminina, como também, discorreu sobre as soluções para os problemas da capital, caso seja eleita prefeita nas próximas eleições.

A sra. conquistou uma extensa carreira profissional antes de entrar para política, além de ter uma fundação que ajuda pessoas e famílias carentes. Por que mesmo assim decidiu entrar para a vida política?

Sou advogada, mas minha primeira faculdade foi Administração. Fiz Economia, Direito, Neuropsicopedagogia, Tecnólogo em Gestão Empresarial, Tecnólogo em Gestão Pública, sou mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio e doutora em Educação.

Todas essas áreas me servem na vida cotidiana. A neuropsicopedagogia me ajuda na parte pedagógica das minhas escolas e no meu trabalho como professora. A formação em Gestão Empresarial e Gestão Pública envolve tanto a minha empresa quanto o setor público. Não é porque você não está dentro da política que deve deixar de ter conhecimento sobre ela. Você precisa saber e entender o que a política pública pode fazer. Estudei muito porque sei que a educação é transformadora.

Estudei muito porque sei que a educação é transformadora.

Quando a sra. decidiu entrar para a vida política?

Sempre trabalhei nos bastidores, e as pessoas sempre me procuravam para ajudá-las, devido ao projeto “Plantando, Colhendo Bem”. As pessoas me procuravam porque sabiam que eu podia encontrar alguma solução ao problema delas. Sou muito ativa e gosto de ver projetos positivos acontecerem. E nessa busca por soluções sociais, nunca me sentia representada, além de querer alguém que conhecesse as dificuldades da nossa cidade. Então decidi entrar na política porque acredito que posso fazer a diferença, propor projetos e legislar em prol da nossa sociedade.

Com o resultado desse trabalho, que já realizava nos bastidores em prol da pessoas mais carentes, fui eleita vereadora com 2.083 votos, e já dentro da Camara de Vereadores fui eleita presidente da Casa. Ganhei do candidato da prefeita, à época, e fiz um trabalho voltado para os nossos servidores, mostrando que o trabalho de um legislador é fiscalizar, propor projetos e buscar novos projetos para a sociedade.

Sou muito ativa e gosto de ver projetos positivos acontecerem. E nessa busca por soluções sociais, nunca me sentia representada, além de querer alguém que conhecesse as dificuldades da nossa cidade

Equipe de reportagem do Jornal Opção Tocantins

A sra. já se frustrou com a prática política, já que a velocidade de realização de projetos na vida publica é lento e burocrático, enquanto na privada quem impõe a velocidade é o empreendedor?

Com certeza, o privado tem mais agilidade, mas o público também pode ser eficiente se houver um grupo técnico e político proativo. Quando as pessoas querem fazer, conseguem resolver. Não tive frustração com meu trabalho, mas estou frustrada com a gestão da nossa cidade, especialmente com a saúde, educação e infraestrutura. Essa é a minha frustração como legisladora.

Durante seu mandato como vereadora, apresentou projetos importantes como Mulheres Empreendedoras, Primeiro Emprego, Auxílio Emergencial e Aluguel Social. Esses projetos seguem sendo aplicados na gestão atual?

Eu tenho 118 projetos aprovados e sancionados. Infelizmente, muitos deles não saíram do papel. Isso me deixa muito revoltada, porque eram projetos que iriam beneficiar a nossa sociedade e fazer a diferença na vida de muitos. Por exemplo, conseguimos criar uma carta de crédito com um limite inicial de R$ 30 mil reais para ajudar os pequenos empreendedores, principalmente durante a pandemia, quando muitos fecharam suas portas. No entanto, a burocracia era muito grande. O que adiantava termos um projeto maravilhoso e recursos disponíveis se a burocracia impedia que os empreendedores alcançassem o resultado desejado, que era receber o crédito? Essa situação foi sim, muito frustrante.

Antes de falar da sua candidatura à Prefeitura de Palmas, seria importante abordar sua experiência como presidente da Câmara de Vereadores, já que a casa legislativa é uma caixa de ressonância dos problemas da cidade. Qual avaliação a sra. faz desse período?

O vereador é o para-choque de todos os problemas. Tivemos grandes avanços na Câmara, como a atualização do PCCR após 27 anos, implantação do auxílio alimentação de R$ 500 para R$ 1.200, incluindo o 13º auxílio alimentação, benefícios que não existiam. Criamos brinquedoteca para os filhos dos servidores, um programa de produtividade, e zeramos todos os ofícios pendentes. Encerramos nossa gestão com todos os projetos resolvidos de acordo com cada Comissão. Cumpri meu papel de presidente e vereadora, fiscalizando, andando nas ruas e ouvindo os anseios do povo.

A sra. foi eleita vereadora com 2.083 votos. Dois anos depois, foi eleita deputada com 31.587. Um relevante aumento na votação para apenas dois anos de vida publica. Em sua analise, o que promoveu esse aumento de eleitores para seu projeto como deputada?

Eu, realmente, cumpri com o meu papel e a obrigação de legisladora. Eu nunca fiquei no gabinete, sempre estive ao lado das pessoas. É aquele ditado: “é o olho do dono que engorda o gado”. Fui eleita para ser porta-voz, para representar as pessoas, e é desse político que elas precisam. Sempre ouvia as pessoas dizerem que os políticos só aparecem de quatro em quatro anos, e eu fiz diferente. Ganhei a eleição e voltei para agradecer, permaneci nas ruas. As pessoas viram que, se ligassem para mim, eu atendia. Elas sabiam que podiam contar as dificuldades que estavam passando e que eu iria verificar e tentar fazer a diferença.

Acredito que meu diferencial foi meu embate. Eu não ficava calada, via a problemática e agia. Queria que as pessoas tivessem uma resposta. Não é justo termos uma saúde sem remédios, sem médicos. Quando me perguntavam o que estava acontecendo, eu precisava saber para levar a resposta, e eu sempre levava a resposta. Muitas vezes, a resposta era um mandado judicial bloqueando as contas da prefeitura para comprar os remédios. Me dói ver uma pessoa querendo uma resposta e ninguém oferecer. Fiz esse papel e continuo fazendo. Como prefeita vou permanecer sendo essa pessoa que representa cada cidadão.

Eleita prefeita vou continuar fiscalizando, verificando e vendo toda a situação para melhorar a nossa cidade.

Me dói ver uma pessoa querendo uma resposta e ninguém oferecer. Fiz esse papel e continuo fazendo. Como prefeita vou permanecer sendo essa pessoa que representa cada cidadão

A sra. foi eleita deputada, logo presidente da Casa, e preferiu abrir mão da disputa a reeleição da Mesa Diretora para disputar mandato de prefeita. Por que?

Sou muito feliz pelos votos que recebi no Estado do Tocantins. Sou a deputada mulher mais votada na história de Palmas. Nunca houve alguém que obtivesse essa votação. Sou grata às pessoas por confiarem em mim.

Quanto à eleição da mesa diretora, seria injusto com meus colegas parlamentares entrar numa disputa por cargo, tendo como projeto uma candidatura ao executivo.

Fiz essa escolha porque acredito na nossa eleição, uma eleição de primeiro turno. Estamos trabalhando para isso. O nosso grupo político é o melhor para Palmas. Os pré-candidatos a vereadores estão felizes em estar ao nosso lado, trabalhando em busca de uma cidade melhor. Juntos, acredito que vamos colocar Palmas no trilho do progresso.

Na pandemia da covid-19, a sra. estava no primeiro ano de seu mandato como vereadora. Como foi?

Lembro como se fosse ontem, numa terça-feira, quando fui a uma unidade de saúde e vi várias pessoas precisando de oxigênio e não havia. Fiz a denúncia naquele mesmo dia e, na quinta-feira, morreram cinco pessoas. Eu pensava: e se fosse minha família? E se fosse meu filho, meu pai ou minha mãe? Eu me colocava no lugar daquelas pessoas. É isso que o vereador deve estar disposto a fazer: estar perto da população. As pessoas conheceram nosso trabalho, especialmente na área da saúde e também os nossos empresários, que enfrentaram o “fecha tudo”.

E pós pandemia, como estão as unidades de saúde em Palmas?

A situação é muito precária. Permanecemos andando para trás, nunca para frente. Continua faltando insumos, médicos e remédios. E para piorar, as “farmacinhas” que estavam dentro dos postos de saúde e das UPAs foram levadas para longe das pessoas. Isso me deixa muito revoltada, porque acham que, estando longe, vão diminuir as denúncias, já que as pessoas não têm condição financeira de pegar um transporte público para ir até o local. A situação está ainda mais difícil.

E qual o seu projeto para promover a melhorias necessárias na área da saude?

Gestão. Nós precisamos ter gestão. Vejo que não temos isso. Além da gestão, precisamos de honestidade, porque recursos para a área da saúde não faltam. Se juntarmos uma boa gestão e a honestidade, veremos que o trabalho será feito com eficácia e eficiência. Simplesmente isso. Falta gestão e honestidade.

Palmas já não deveria ter o seu próprio hospital?

Passou da hora. Nós temos cidades como Peixe e Taguatinga, que além de terem hospitais municipais, ainda realizam cirurgias. Marianópolis inaugurou um hospital municipal recentemente. Construir um hospital em Palmas é um sonho. Esse é um desejo nosso. Não é promessa, é um compromisso. Vamos, sim, construir o hospital e ele será na região sul, onde estão alguns dos bairros mais populosos e onde o povo mais precisa de atendimento e cuidado. Não desmerecendo os demais bairros, mas devido ao quantitativo de pessoas, o hospital precisa ser colocado ali na região sul.

Construir um hospital em Palmas é um sonho. Esse é um desejo nosso. Não é promessa, é um compromisso

A sra. pretende manter o projeto do Hospital Municipal Universitário, fruto do convênio entre a UFT e a Prefeitura?

Com certeza, quanto mais puder fazer para ajudar o nosso povo, estou pronta. Vamos fazer com que isso dê continuidade. Esse projeto é muito importante e vai ajudar tanto a região norte, quanto o centro-sul da cidade. É essencial para nós.

Hoje, vemos nossos alunos buscando mais conhecimento e aproveitando as oportunidades disponíveis. Isso é de grande importância.

O que é bom precisa continuar. Este projeto é excelente na minha visão. Estive com o reitor Bovolato, reuni com várias diretorias e fiz esse compromisso. Vamos dar continuidade, sim. Não há essa questão de deixar de fazer porque é um projeto do gestor atual; isso não é relevante. Se é para o bem da cidade, se é para o bem do povo, precisamos continuar.

Em razão do seu bom convívio e diálogo com o governo estadual, como estão os acertos com o governador Wanderlei Barbosa em relação a sua candidatura?

Eu sou da base do governador e estou pronta para apoiar todos os projetos que forem benéficos para nossa sociedade. É um trabalho em parceria. Estou aqui para ajudar o nosso estado a evoluir sempre. O governador é palmense, é um “curraleiro”, conhece bem a nossa cidade e é muito inteligente. Acredito que ele possa ser um líder ainda mais destacado do nosso estado e, é claro que estarei ao seu lado apoiando. Ele deixou claro que quer o melhor para Palmas, e eu acredito que o melhor para Palmas sou eu.

O Jornal Opção Tocantins publicou recentemente um artigo que menciona que, se o irmão do governador, o vereador Marilon Barbosa, e o filho dele, o deputado Leo Barbosa, já estão apoiando a sra., não haveria razão para Wanderlei não apoiá-la também.

Parece-me interessante esse raciocínio. Em uma entrevista, dias atrás, o governador afirmou que em breve falaria sobre sua tomada de decisão. Ele foi bem claro ao dizer que encontraria o melhor momento para expor sua opinião, e que estaria ao lado do projeto que considerar melhor para Palmas. Estamos trabalhando nisso. Acredito no projeto “Professora Janad”, e tenho certeza de que é o melhor para Palmas.

E sobre a relação com o governo federal? Seu partido é o PL, o mesmo de Bolsonaro, opositor ferrenho de Lula. Como pretende dialogar com o governo federal para conseguir recursos para Palmas, caso seja eleita?

Tenho dito que quando ganhar a eleição, estarei no dia seguinte em Brasília solicitando recursos para Palmas. O prresidente da República tem a obrigação de ajudar, contudo, para que isso ocorra, temos que pedir e eu vou fazer isso em nome do povo palmense. Acredito numa relação institucional. Não acredito que terei dificuldade com o governo federal por manter uma proximidade com o ex-presidente Bolsonaro. Em 2026, vamos discutir o Brasil, mas em 2024, vamos discutir Palmas. Eu sou filiada ao PL, sou Bolsonaro e sou Palmas acima de tudo e Deus acima de todos.

A sra. disse que bons projetos tem que ser mantidos, como no caso do hospital universitário. Em Palmas, há um legado que está sendo deixado pela atual gestora, como também pelo antecessor, o Carlos Amastha, que é a promoção de grandes eventos, entre os quais, o Arraiá da Capital, o Capital da Fé, o Festival Gastronômico de Taquaruçu. A sra. pretende dar andamento a esses eventos ou prefere fomentar de outras formas o turismo? Quais são seus projetos para essa área da cultura e do turismo para a capital?

Não é apenas dar andamento, mas também fazer com que esses eventos sejam vistos por outros estados. Não adianta realizarmos esses eventos apenas aqui na nossa cidade. É preciso promover Palmas, e fazer com que outras pessoas possam enxergar nossa cidade com novos olhos. Uma das bandeiras que carrego no peito e no coração é a cultura. Temos o Arraiá da Capital, que já tem mais de 33 anos, e ele deveria estar entre os maiores do país. Vamos divulgá-lo para o mundo todo, para que ele esteja cheio de pessoas, nossos hotéis lotados, nossos restaurantes movimentados. Vamos criar muitos outros eventos para que nossa cidade possa receber diversos turistas.

Ouvimos a população dizer que Palmas é uma cidade muito boa, mas falta emprego, falta uma economia mais pulsante. A sra. tem projetos para desenvolver a economia da capital?

Atualmente, falta gestão. Temos grandes empreendedores que querem aumentar os seus espaços, mas ficam amarrados com a burocracia, com a perseguição. E o que a gente quer, é ver os nossos pequenos empreendedores crescendo, fazer com que outras empresas enxerguem Palmas como uma capital de futuro. Então, quanto mais eu conseguir a viabilidade de incentivos fiscais, melhor. Temos vários lotes aqui disponíveis, como a área industrial em Taquaralto e isso precisa ser fortalecido. Então, o que a gente quer é fortalecer os nossos empresários e atrair novos investidores. Muitos empreendedores vêm nos visitar, gostam, mas enfrentam muita burocracia no nosso município.

Atualmente, falta gestão. Temos grandes empreendedores que querem aumentar os seus espaços, mas ficam amarrados com a burocracia, com a perseguição

Além da construção de CMEIs e creches, ou seja, de investimentos em infraestrutura na área da educação, qual projeto a sra. como pedagoga e de neuropsicopedagoga pretende apresentar para a melhoria do ensino publico?

Atualmente temos poucas creches que ainda não estão sendo suficientes para nossa cidade, que está crescendo, mas a infraestrutura, infelizmente, não acompanha. Como dona de escola, como professora, sabemos o que vai ser melhor para Palmas. Um dos projetos que irei implantar, de imediato, será a valorização de nossos professores.

Quando tivermos nossos professores tranquilos, satisfeitos e sendo reconhecidos, com certeza o trabalho será realizado com muito mais amor, e isso reflete de imediato no aprendizado de nossas crianças.

A saúde mental dos nossos professores, por exemplo, precisa ser cuidada. Não é fácil. Queremos fazer um trabalho para ajudar os nossos professores com programas habitacionais para a classe, incentivar cursos de especialização, de mestrado ou doutorado. Fazer intercâmbios em vários países. Em educação precisamos, em primeiro lugar, cuidar dos nossos profissionais e, consequentemente, fazer com que as nossas escolas, nossos berçários, nossas creches recebam as nossas crianças com qualidade.

E no que diz respeito às escolas de tempo integral?

A propaganda institucional divulga que nossas escolas são de tempo integral. Não são. Nós temos em torno de 40% apenas que atende nosso município na modalidade tempo integral. Porque existe a diferença do ensino de tempo integral com período de tempo integral. O ensino de tempo integral não é para a criança estudar no período da manhã e à tarde ficar sem nenhuma atividade. Não é isso. Nossa proposta é fazer com que o aluno

tenha atividades em todos os dois períodos, com cursos de robótica, de informatização e a prática de esportes. Além de cursos profissionalizantes.

Iremos inovar. Porque não é simplesmente abrir escola de tempo integral e deixar a criança lá. Nós queremos fazer algo diferente com o ensino. O aluno terá o ensino regular em um período, e no outro período irá entrar em algum campo que a família escolher ou que ele tenha vocação.

O transporte coletivo é outra séria problemática de nossa cidade. Depois que a prefeitura municipalizou o transporte, os usuários relatam piora do serviço. Qual projeto da sra para o transporte coletivo?

Eu já andei muito de ônibus, então eu posso falar muito bem sobre isso. Eu tenho propriedade para poder falar. O transporte coletivo já era ruim, mas o que era ruim ficou pior.

Eu não concordo com a municipalização do transporte coletivo. Até porque a prefeitura não tem estrutura para isso. Quando um ônibus estoura um pneu a prefeitura não tem estoque. Se o ônibus precisar de fazer uma manutenção, numa caixa de marcha, por exemplo, a prefeitura também não tem. Não está pronta para poder organizar os ônibus e colocar eles de volta para as ruas.

O que a gente precisa é fazer uma parceria pública-privada. Deixar com que o município fique responsável pela fiscalização. O município tem que ter esse controle e, para isso, vamos trazer empresas e, consequentemente, haverá mais ônibus, porque a prefeitura tem a questão de cuidado do custo.

Com isso, quem vai ser beneficiado vai ser o nosso cidadão. Outro aspecto é que as linhas precisam ser melhoradas, pois há bairros que não passam ônibus ou que o horário não está sendo cumprido. Então, não adianta deixar com que as empresas fiquem tomando conta sozinha. É preciso ter este olhar do município, de ser fiscalizador, observar e com certeza quem vai ganhar com tudo isso vai ser o nosso cidadão.

Será um dos primeiros atos da sua gestão?

Sim, com toda certeza.

Como a sra. pretende mitigar a situação de vulnerabilidade social, considerando que o número de pessoas em situação de rua se multiplicaram, desde a pandemia? Naquela época, havia relatórios falando entre 100 e 150 pessoas nessa situação. Hoje, podemos observar que o número é muito maior que esse, chegando a 300 pessoas em situação de rua ou pessoas que moram na rua há um tempo, depois voltam para casa. Como é possível resolver essa situação?

É muito triste. Chega a partir o coração com a situação que nós temos aqui, em todo o sentido. Pessoas que não tem o que comer dentro de casa, que precisam da alimentação nas escolas. Eu passei por isso, inclusive. Comi a merenda escolar, andei de ônibus, precisei usar o remédio do postinho. No meu conceito, essas dificuldades, essa falta de políticas públicas, é falta de gestão. Precisamos ter este olhar e políticas públicas para poder cuidar. Eu sei como fazer e nós vamos fazer.

É inadmissível, por exemplo, a falta de alimentação, de lençóis nas camas das casas de abrigo. E esse serviço é de responsabilidade do município.

Irei trabalhar, seriamente, para tirar as pessoas vulneráveis das ruas. Teremos programas para amparar essas famílias, para terem seus empregos. Elas precisam de apoio político para mudarem a condição de precariedade na qual vivem.

Muitas das famílias tem parentes com problemas relacionados ao uso de drogas. Precisamos cuidar disso, além de oferecer segurança a nossa cidade. Com apoio do governo, com apoio da nossa guarda metropolitana, vamos fazer um trabalho que promova a diminuição da desigualdade social.

Irei trabalhar, seriamente, para tirar as pessoas vulneráveis das ruas. Teremos programas para amparar essas famílias, para terem seus empregos. Elas precisam de apoio político para mudarem a condição de precariedade na qual vivem

Tocantins é um dos estados com o maior número de casos de feminicídio em todo o país. Quais projetos a sra. pretende apresentar para respaldar essas mulheres?

Tanto como vereadora, como deputada, fizemos a solicitação para o trabalho psicológico dessas mulheres que são afetadas em suas próprias casas, não só por agressão física, mas por agressão psicológica. Nós queremos ter uma casa de abrigo que receba essas mulheres. Precisamos fazer isso, porque a maioria delas continuam nessas situações por não terem condições de se sustentarem. Então, precisamos fazer com que elas possam sair das suas casas e terem uma condição financeira. Eu acredito que quando elas tiverem autonomia financeira, vamos conseguir diminuir muito esses índices. A gente precisa gerar emprego, oportunidades.

Importante resgatar na mulher o desejo de trabalhar para poder se manter, e assim ter sua autoconfiança resgatada. Mas enquanto isso não acontece, precisamos fazer políticas públicas de combate à violência contra a mulher, e ensinando desde as crianças nas escolas a serem pessoas do bem.

Como a sra. avalia a participação das mulheres na política?

É preciso encorajar mais as mulheres a participar da política e concorrer a cargos de gestão. E a gente não tem visto isso. É preciso parar com a vitimização: “Ah, é uma mulher, coitada”. Não é isso que queremos, nós podemos sim ocupar qualquer cargo ou realizar qualquer projeto que desejarmos.

Como a sra lida com críticas como as que a rotulam como “intimidadora”?

Na verdade, eu sou muito positiva. Quando as pessoas falam, “Ah, a Janad é bruta, a Janad é brigona”, eu não me importo. Porque eu simplesmente estou defendendo o que me elegeram para fazer. Eu gosto das coisas muito certas. Eu gosto de cumprir o que está escrito. Eu simplesmente sou essa pessoa, porque a vida me ensinou, as dificuldades me tornaram essa mulher forte. Então, quando eu não sei algo, eu corro atrás para aprender. E se eu não sei, eu sei que vou entregar porque vou atrás de alguém que saiba, alguém que possa me ensinar a fazer. Mas eu não desisto. Talvez esse fato de ser persistente, de ser determinada, as pessoas acabam confundindo. Mas o que eu quero é simplesmente cumprir.

 Agora, as pessoas estão conhecendo a minha história. Eles começam a admirar a Janad. Não só por aquela Janad que anda na rua, aquela Janad, combativa. Mas por verem que a Janad, além de ser mulher, é mãe, é esposa, é carinhosa, é prestativa. Minha história de vida não foi fácil.  Eu não tive pai, fui criada pela minha mãe. Meu pai me abandonou quando eu tinha seis meses de vida. As pessoas acham que, por eu estar nessa função hoje, ser deputada, estar na pesquisa em primeiro lugar, sou forte, sou empresária. Mas até chegar aqui, eu tive que lutar. Passei por muita coisa que não gostaria que as pessoas passassem, então sofri bastante. Quando eles começam a ver que Janad passou por todas as dificuldades e que não abaixei a cabeça porque, filha de mãe solteira, poderia ser qualquer coisa, mas não poderia ter uma oportunidade, não poderia ter estudo, não poderia ter relacionamento e constituir uma família, ser empresária. Eram as consequências do preconceito social. Então minha mãe dizia: “luta muito. Nós somos cinco.” Minha história de vida me fez ser forte.