Laudecy Coimbra (SD), é natural de Lago da Pedra, no Maranhão. Casou-se com Júnior Coimbra em 1987 e é mãe de quatro filhos. Graduada em Letras pela Ulbra Palmas, é professora concursada da Secretaria Estadual de Educação do Tocantins. Além de ter sido secretária municipal em Itaporã (TO), ocupou cargos em diversas áreas, incluindo Secretaria de Estado do Trabalho e Ação Social, Secretaria de Estado da Saúde, e Diretoria de Educação Infantil em Palmas.

Vereadora no segundo mandato e novamente pré-candidata à Câmara de Palmas, está longe de ser apenas viúva do renomado político emedebista. Com uma postura arrojada e firme, Laudecy se destacou na Câmara Municipal de Palmas, chegando a ser líder da gestão de Cinthia Ribeiro na Casa de Leis.

Por não sentir proximidade com a gestora, a terceira secretária da Câmara abandonou a parceria, que para ela “nunca houve intimidade”, e se tornou parte da volumosa oposição de Cinthia na Casa. Agora, ela faz duras críticas a atual chefe do executivo municipal, apontando uma série de falhas na educação, saúde e infraestrutura.

Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção Tocantins, Laudecy afirma que a prefeita poderia ter trabalhado de forma melhor, pois, para ela, Palmas é muito rica, tendo o orçamento, conforme ela, maior que cidades como São Luís, no Maranhão, que tem mais de um milhão de habitantes. A parlamentar também enfatiza que os indícios de corrupção tem sido marca da gestão atual, elencando uma série de denúncias que a Câmara tem realizado, denúncias essas que desencadearam até operações da Polícia Federal (PF).

Ruy Bucar: Vereadora, a srª tem insistido em alertar a chefe do Executivo, apontando os problemas. Deficiência do transporte escolar, falta de medicamentos nas unidades de saúde, e crise no transporte coletivo que o cidadão teve muita paciência, mas avalia que esse serviço não melhorou?

Muito pelo contrário, desde que a prefeitura assumiu só piorou. Vamos começar pelo transporte escolar. A gente vem de um período pós-pandemia, em que essas crianças praticamente perderam esse ano, porque a gente não pode considerar que tenha havido aprendizagem, porque essas crianças não tinham nenhuma estrutura pra ter aula.

Até as crianças, quando os pais tem uma condição de acompanhar, perderam. A gente considera que foram pelo menos dois anos perdidos na educação das crianças. Que talvez elas não recuperem nunca mais. E nós iniciamos o ano, foi até uma surpresa. A prefeitura veio e fabricou uma urgência para contratar o transporte escolar e em agosto do ano passado eles enviaram para o Tribunal de Contas do Estado (TCE) a necessidade de fazer uma nova licitação. Eles fizeram essa licitação. Fizeram várias exigências para quem fosse concorrer. A licitação fracassou, porque, segundo eles, ninguém se adequou às exigências da licitação.

No dia 31 de janeiro [deste ano], abrem uma dispensa de licitação para contratar uma empresa. Aí eles dispensaram todos os itens exigidos na licitação porque a empresa não cumpria nenhum dos requisitos. A empresa gastou 36 minutos para elaborar o plano de trabalho e uma análise e levar para a Câmara. Os ônibus que deveriam ter no máximo cinco anos, estavam sucateados. Eles não tinham especialidade no transporte escolar, não tinha a catraca de segurança, não tinha sequer as certidões negativas do estado e do município onde ela atua.

Cheio de falhas e 75% mais caro do que o valor que era praticado no contrato anterior. E alegando que não poderiam deixar essas crianças sem ter aula. A secretária falou que faria novamente. Mas isso não era uma novidade. Eles sabiam que ia começar a aula e que tinha que ter o transporte escolar. E nessa pendenga, a empresa hoje alega que não recebeu. Mesmo os ônibus em condições precárias, nem isso tá acontecendo [o transporte]. Nós temos visto as crianças perderem a aula por falta de transporte escolar. É criança sendo transportada inadequadamente, e nós continuamos dando a essas crianças um futuro muito incerto.

Nós temos visto as crianças perderem a aula por falta de transporte escolar. É criança sendo transportada inadequadamente, e nós continuamos dando a essas crianças um futuro muito incerto

Continuam perdendo aula por falta de compromisso do poder público. De arcar com a responsabilidade que o recurso tem, né? Não é falta de recurso. Palmas é um município muito rico. Então é falta de gestão. Falta de boa vontade, falta de querer fazer da forma correta. Porque não é uma emergência. O calendário escolar já está definido, tem data para começar e acabar.

Ruy Bucar: Uma cidade que já foi referência na educação, corre o risco de despencar nos índices de qualidade?

Exatamente isso, porque eles hoje falam, “nós temos a melhor nota do Ideb”, só que o Ideb é fruto de um trabalho que foi feito anteriormente. O que as crianças estão passando hoje vai refletir daqui mais alguns anos. E o próximo gestor vai levar a culpa da educação ter caído na qualidade, porque essa avaliação desses alunos que estão passando por isso agora vai influenciar a nota do Ideb posteriormente. A educação de Palmas já foi referência em nível nacional. Um dos melhores índices, com professores bem remunerados. Continuam sendo e isso é uma das vantagens da gestão Cinthia Ribeiro. Isso ela tem feito e eu tenho que reconhecer. Mas o objetivo da educação é o aluno, é a criança e eles estão sendo deixados de lado, eles estão ficando sem aula por falta de básico que é transporte escolar.

Ruy Bucar: O Ministério Público Estadual teve que intervir por conta da falta de medicamentos nas unidades de saúde de Palmas, o que está acontecendo?

Palmas investe hoje mais de 22% do orçamento na saúde, é bem acima do mínimo constitucional. Então não é falta de recurso. Mais uma vez, é falta de planejamento. Eu acho que é o ponto fraco, o calcanhar de Aquiles da gestão da prefeita Cinthia Ribeiro. Fazer as coisas sem planejamento. Porque faltar remédio da Farmácia Básica, o remédio de uso contínuo do cidadão que usa o serviço do SUS. Não são só remédios especiais, são remédios de uso contínuo, remédios que sempre vão ser utilizados.

Eu acho que é o calcanhar de Aquiles da gestão da prefeita Cinthia Ribeiro. Fazer as coisas sem planejamento

Aí eles alegam que é boicote, mas a gestão está aí há mais de cinco anos. Estão boicotando quem? Eles fazem dispensa de licitação para contratar empresa de transporte escolar por quase R$ 20 milhões e não podem ter dispensa para comprar remédios, que também é de urgência?

Já que as empresas que ganharam a licitação não estão cumprindo, desclassifica e faz uma compra de emergência. Quando convém, a Lei de Licitação serve como pretexto para dizer que não adquiriu porque a lei não permite, porque o poder público não é como a iniciativa privada que você vai lá e compra e paga. Mas, quando eles contratam uma empresa de transporte escolar sem licitação, não podem comprar medicamento?

São áreas que são a espinha dorsal de uma cidade, a educação e a saúde. Chega até ser um clichê. E com coisas muito básicas, que com o mínimo de planejamento poderiam ser evitadas, também se fossem colocadas pessoas lá que tivessem mais afinidade com a saúde tivessem conhecimento do SUS e se tivessem disposição para fazer acontecer.

Elâine Jardim: Vereadora, como tem sido a atuação da Câmara diante dessa falta contínua de medicamentos que tem acontecido na saúde da Capital?

A gente denuncia na tribuna, a gente faz sempre denúncias inclusive no Ministério Público, no Tribunal de Contas, nos órgãos de fiscalização e de controle. Esse é o nosso papel: cobrar do Executivo. Denunciar também como tem sido feito, denúncias de operações que foram feitas, que foram frutos de vereadores na polícia, no Ministério Público, em todos os órgãos de fiscalização. E a gente tem tentado até apelar pro lado político, né? Porque quando é político, geralmente, o gestor se preocupa com o próprio nome, com a reputação, mas a pessoa [Cinthia Ribeiro] simplesmente ignora, ela só escuta aquilo que lhe é conveniente. O que não é agradável aos seus ouvidos, ela faz de conta que não existe.

É uma gestão que gasta muito dinheiro com comunicação também. Então tem muitos veículos de comunicação que prestam serviço à prefeitura e que recebem para divulgar só o que gestão teve de bom. Uma parcela da população que não se preocupa muito em ver as coisas a fundo, acaba acreditando e então a pessoa se cerca daquela meia dúzia e não observa o todo, né? Não tem a capacidade de uma autocrítica de verdade.

Ruy Bucar: Vereadora, do ponto de vista do relacionamento político, a prefeita também tem uma certa dificuldade de relacionamento com a Câmara. Hoje ela tem uma maioria apertada na Câmara e inclusive a srª que já foi líder do governo agora é oposição. Como está sendo essa relação atualmente?

Total. Isso eu posso dizer com muita tranquilidade, porque eu passei por isso. Eu fui líder de governo da prefeita na primeira gestão e parte dessa segunda gestão eu também assumi. Eu nunca consegui nesse mandato que está acabando uma audiência com a prefeita. Eu estive com ela em algumas reuniões com os vereadores todos, mas eu nunca consegui uma audiência. Não foi por falta de tentar marcar. Sobre o relacionamento, ela não é fácil. Ela não dá muita atenção pra Câmara. É aquela coisa assim: ‘eles fazem parte da minha gestão, então eles tem mais é que votar nas minhas coisas’.

Na pandemia, quando tinha aquele comitê gestor, a gente tentava participar para levar as demandas da população que vinha atrás da gente. Uma vez eu disse que seria interessante que a Câmara também fizesse parte e ela disse ‘isso não vai acontecer’. Então o relacionamento é o pior possível. Eu estou falando o que eu passei.

Elâine Jardim: Foi isso que me motivou o rompimento entre vocês?

Dentre outras. A gente não tinha um relacionamento, não tinha aquele vínculo, era aquele relacionamento comercial. Eu tinha participação no governo porque era líder na Câmara, mas fora disso eu não tinha vínculo. Eu, apesar de estar no segundo mandato, fiz política a minha vida inteira. E todo mundo sabe que eu era casada com o Júnior Coimbra, líder do governo Marcelo Miranda por vários anos. Todos os dias eles se falavam antes de ir pra sessão na Assembleia e conversava com o governador, pontuava as coisas. Eles tinham uma relação, um vínculo e você acaba criando um vínculo afetivo. Então você se apaixona pela causa, se apaixona pela gestão. É impossível se apaixonar sem convivência.

É impossível se apaixonar sem convivência

E muitas vezes eu falei para criarmos mais ambiência. Ela é uma pessoa extremamente agradável, no contato, tem muita facilidade na comunicação, no contato com as pessoas. Se ela tivesse um pouquinho mais de disposição para estar perto das pessoas, para conversar, para dialogar, seria um fenômeno, porque ela tem facilidade para se comunicar, mas não tem disposição para isso.

Ruy Bucar: A srª acha que falta apoio político de líderes que possam orientá-la?

Acho que falta ela querer. Eu acho que ela se acha autossuficiente nesse aspecto. Ela conviveu muitos anos com um político incrível que era o senador João Ribeiro, em questão de relacionamento, todo mundo sabe disso. Ela aprendeu muito pouco com ele nessa questão de relacionamento. Primeiro, que ela não aceita críticas. Ela tem dificuldade. Se você faz uma crítica, ela já começa a te evitar. Então ninguém tem coragem de criticar. Eu prefiro a pessoa que diga aquilo que tem que dizer e o meu perfil é esse. De dizer que precisa ser dito. O que dificulta o relacionamento com a prefeita.

Eu prefiro a pessoa que diga aquilo que tem que dizer e o meu perfil é esse. De dizer que precisa ser dito. O que dificulta o relacionamento com a prefeita.

Ruy Bucar: E sobre o transporte público, o usuário ainda não viu o grande avanço que foi propalado com a mudança?

É comum vermos a prefeita falar que quebrou um monopólio, só que não existe monopólio na concessão de serviço público A prefeitura sabia dessa concessão e sabia do prazo que se encerraria. Eu imagino que devesse saber, alguém entre os técnicos dela, o que deveria ser feito para renovar um contrato desses, ou para lançar uma nova licitação e nada foi feito

De última hora ela fez a requisição administrativa para começar a assumir o transporte coletivo, que, para mim, é a coisa mais importante da cidade. Assumiu sem nenhuma expertise, sem nenhum planejamento. A prova é que ela assumiu o transporte coletivo e uma semana depois o orçamento foi para a Câmara e não tinha nada que se referisse à criação da Agência de Transporte Coletivo de Palmas (ATCP). Nada. Foi totalmente no improviso. A prefeitura que nunca assumiu uma frota de veículo, sempre foi terceirizada. Vai assumir transporte público com essa complexidade?

E nós estamos aqui vendo o que vem acontecendo de lá para cá. Os ônibus que ela recebeu da empresa [Miracema] que eram mais de 150 hoje são pouco mais de 70, todos sucateados. A gente vê todo dia notícia de ônibus pegando fogo, ônibus que quebra, motoristas totalmente despreparados. As pessoas saem de casa às 5 horas da manhã e chegam às 10 da noite. Não tem ônibus suficiente, não tem ônibus de qualidade.

As pessoas saem de casa às 5 horas da manhã e chegam às 10 da noite. Não tem ônibus suficiente, não tem ônibus de qualidade.

Até fiz um requerimento para que a compra da passagem pudesse ser feita por pix ou cartão de crédito/débito. A prefeitura não vendia passagem assim. Demoraram alguns meses para contratar uma empresa de transporte de valores. A passagem era comprada em cash [dinheiro em espécie]. O sistema movimentou mais de R$ 7 milhões de reais. E esse dinheiro estava indo pra onde? Quem pegava? A Câmara está inclusive na justiça pra tentar ver essa bilhetagem do início. Porque não tem também transparência, né?

Quando era da iniciativa privada, todo mundo tinha acesso à bilheteria também, aí hoje não tem mais. Esse período que eles não tinham transportadora de valores para esse dinheiro, e hoje está esse caos e realmente não funciona. Outras coisas ficaram até minimizadas em relação ao transporte coletivo. Nada melhora e nada acontece na vida do palmense.

Então eu considero que foi uma atitude mais que irresponsável, criminosa. Porque ela colocou em risco a vida de muita gente, o trabalho de muita gente, empresas que ficaram sem os seus funcionários, pessoas que trabalham em casa. Ela transformou a vida dos palmenses que dependem do transporte coletivo em um caos e minimiza isso.

Então eu considero que foi uma atitude mais que irresponsável, criminosa. Porque ela colocou em risco a vida de muita gente

Álvaro Vallim: Pareceu no começo que ninguém queria trabalhar lá. Parece que a empresa falava que era para os motoristas não irem para poder colapsar o transporte. Para não ter ninguém para trabalhar. Seria verdade isso?

Eu acho muito difícil que o pai de família vá largar o emprego dele para fazer birra para os outros. Eu acho muito pouco provável isso. Essa história de sabotagem, de boicote, não sei o quê… O que, por exemplo, o dono da empresa teria para dar para esse motorista pra ele ficar desempregado? Não, não vai trabalhar não. E ele vai fazer o quê? Vai passar fome?

Elâine Jardim: Um inquérito policial, inclusive, concluiu que um dos ônibus teve pane por conta da falta de manutenção.

É, falando que tocaram fogo na empresa, tocaram fogo no ônibus. Falam de boicote, sabotagem. Que a empresa falou para os motoristas não irem. Com o índice de desemprego que tem? A gente que lida com as pessoas, vê a quantidade de pessoas que chegam diariamente pedindo emprego. Quem é que tem um emprego de motorista que tem um salário razoável, não é dos piores, vai largar o emprego para fazer birra, para boicotar a prefeita que assumiu o transporte. Será que é muito melhor ser servidor do que iniciativa privada? Não faz sentido, isso não faz sentido.

Ruy Bucar: Vereadora, a gestão já está caminhando para o final, qual o balanço a srª faz, o que o governo Cinthia deve deixar de legado para Palmas?

A gestão da prefeita Cinthia herdou aquele empréstimo que foi iniciado na gestão do prefeito [Carlos] Amastha ainda, que é aquele recurso da Caixa Econômica Federal (CEF) que possibilitou que ela fizesse asfalto em muitas quadras de Palmas. Caso da 508 e da 408 norte, quadras bem antigas, parte do Taquari, eram demandas bem antigas. Infelizmente, o asfalto que foi feito em 2020, hoje já tem asfalto lá que tem buraco que cabe um caminhão dentro.

Tem muita coisa que era para ter sido feita. Mas eu vejo que tem essa questão. Eu acho que o prejuízo que a gente não percebe agora, o prejuízo na educação é muito grande. A gente não avançou muito na questão de saúde. Os postos de saúde, as unidades de saúde, o Ministério Público tem que dar prazo, exigir, para que sejam reformados.

Pelo tamanho da cidade, pelo volume, eu estava na semana passada em São Luís, e eu conversando com o vereador de lá, São Luís tem mais de um milhão de habitantes, tem um orçamento de R$ 4,3 bilhões. Palmas tem 300 e poucos mil habitantes, tem um orçamento de mais de R$ 2 bilhões. Então, proporcionalmente, Palmas é muito mais rica do que essas cidades, porque é uma cidade que tem muito menos pessoas e, consequentemente, menos problemas.

E o que eu vejo da prefeita Cinthia, o que o legado positivo que ela deixa hoje é a questão das conquistas dos servidores públicos. Isso é inegável. Desde o início, quando ela assumiu, ela resgatou passivos das gestões anteriores, tem dado muitos benefícios. Mas na educação é esse descaso, que a gente só vai perceber quando já tiverem outras pessoas na gestão.

E o que eu vejo da prefeita Cinthia, o que o legado positivo que ela deixa hoje é a questão das conquistas dos servidores públicos. Isso é inegável

Além do transporte escolar, nós temos uma outra particularidade. Eles trocam sempre os monitores das crianças com deficiência. Essas crianças demoram muito para conseguir se acostumar ao cuidador, então elas criam vínculo. E eles trocam sem nenhum critério, simplesmente tiram. O ano inicia quando eles vão colocar os cuidadores na sala de aula, já estava no mês de agosto.

Então, é um prejuízo muito grande em vários aspectos. A questão também dos livros didáticos, aqueles kits escolares que foram superfaturados, que também foram fruto daquela operação da Polícia Federal. Foram muitos escândalos de corrupção também. A gente tem visto essas denúncias agora recentemente da decoração de Natal, superfaturamento em várias obras, tem muitos indícios de corrupção. A cidade nunca viveu com tanta sombra de corrupção. Nós tivemos agora a operação, não são suspeitas, são provas materiais que foram apreendidas. E a cidade avançou muito pouco.

Nós estamos terminando o mandato. Nós aprovamos o Plano Diretor em 2017. Até hoje, a lei do uso do solo, que é fundamental para que todas as outras áreas se desenvolvam, não foi enviada para a Câmara ainda. Estamos acabando o segundo mandato e essa lei do uso do solo não foi mandada.

Isso é um atraso para a cidade. Então, a questão da regularização fundiária. Foi entregue agora, mas ficou muito tempo parado. Troca o secretário, entra secretário, e não fazem nada. Então, a cidade avançou muito pouco em áreas que são muito importantes para o desenvolvimento da cidade. Essa questão da lei do uso do solo, que dela dependem outras leis que são importantes. A questão da mobilidade urbana, a questão da lei do silêncio. Tem muita lei que foi mandada para a Câmara e foi devolvida, porque depende do uso do solo.

E outras áreas também deixaram muito a desejar, poderia ter sido muito melhor. Porque até as obras que foram feitas são obras que já estão precisando de serem refeitas. São muitas áreas que a gente vê isso, superfaturamento, corrupção e o tempo vai mostrar quando as coisas forem todas esclarecidas. Mas existem muitos indícios de corrupção. Eu acho que a corrupção é uma das marcas, infelizmente, da gestão da Cinthia Ribeiro.

Eu acho que a corrupção é uma das marcas, infelizmente, da gestão da Cinthia Ribeiro.

Álvaro Vallim: A Câmara tem denunciado essas coisas?

Todos os dias. Inclusive, aquelas operações da Polícia Federal foram frutos de denúncias dos vereadores. Foi feita denúncia no Ministério Público, no Tribunal de Contas. Dá pra ser averiguado, né? As denúncias não faltam, assim como o Ministério Público também tem cobrado, tem exigido. E assim, a prefeitura, a prefeita virou ré em algumas ações por descumprimento de determinação do Ministério Público com relação à saúde reiteradas vezes, e eles, às vezes, ignoram, não comparecem nas reuniões. Mas, com o passar do tempo, a gente vai ver. Tudo virá à toa, a gente espera.

Ruy Bucar: A srª tem concentrado suas ações na Câmara, na defesa das mulheres e das crianças. Sobretudo mulheres que sofrem violência doméstica. Como é esse debate? Tem respaldo? Tem eco na sociedade? No Parlamento? O que a srª considera que conseguiu emplacar de atenção às políticas públicas de proteção às mulheres a partir desse debate?

É um debate que vem sendo ampliado porque todo mundo fala. Mas, assim, a gente não encontra muito eco na execução mesmo, assim. Não vamos ver, né? Para que as coisas aconteçam. Mas a gente não pode parar de falar, porque tem mudado. Muito lentamente, mas as coisas têm avançado. Eu questionei o ano passado, inclusive, no orçamento, com relação à política para as mulheres, que a gente tem uma prefeita que fala muito de defender as mulheres, apesar de demitir mulheres grávidas, de licença maternidade, mas ela fala muito de sororidade, né? Nós não temos quase nenhum investimento na política para a mulher. E não se faz política pública sem investimento.

A mulher é tratada de forma transversal. Não tem uma política direcionada, né? É muita falácia e muito pouca ação. Mas a gente tem avançado. Assim, a própria participação da mulher, a vontade da mulher de participar. Porque isso também falta muito para a mulher querer participar. Porque sem a participação da gente, não adianta que ninguém vai lutar pelo seu direito… Não vai cair no céu, né? Ninguém vai. Se você não estiver ali ativamente para participar, os outros não vão fazer por você. E a gente tem ainda muito o que avançar. A gente tem avançado, acho que, no geral, a mulher, a política para as mulheres tem avançado. Mas ainda é muito deficiente, por exemplo, aqui na assistência.

Nós não estamos dando conta também de dar assistência adequada para a mulher vítima de violência. Quanto mais promover essa mulher para que ela tenha uma autonomia, que não tenha mais que se submeter a isso. Nós não conseguimos auxiliar bem quem está sofrendo, né? Nós temos aqui um centro de referência em Palmas, que é aqui na região central.

Por exemplo, a mulher que sofre violência lá na região sul, que é a maior região e que eu acho que é onde temos os maiores índices, consequentemente, de violência. Ela tem que vir aqui para o centro de referência, que é um lugar totalmente distante da região sul. Nós temos a casa acolhida, uma casa abrigo e tudo. Mas é muito incipiente a política de proteção à mulher. Apesar de que nós temos uma prefeita mulher, que fala tanto do poder da mulher, mas é bem relativo esse poder e esse atendimento.

Outra política que atuo é na prevenção do câncer. Inclusive, aqui em Palmas, infelizmente, a gente sabe que, por exemplo, o câncer de mama, do colo do útero, que são cânceres que se descobre precocemente, a chance de cura é total. Nós tivemos casos aqui de mulheres que fizeram, coletaram o material para fazer o preventivo e tiveram o material descartado por falta de laboratório credenciado pelo município.

Já é difícil a mulher fazer o exame, é um exame constrangedor. As mulheres não vão, a maioria não vai, não procura. A gente tem que, muitas vezes, fazer busca ativa para fazer com que essas mulheres façam o exame, a mulher vai lá, faz e tem esse descarte de material.


O município, infelizmente, deixa muito a desejar na questão da prevenção. E acaba que a gente tem muitas mulheres que perdem a vida por falta dessa política feita com eficiência.

Ruy Bucar: Vereadora eu fiquei curioso com um projeto da senhora, um banco de ideias, e que foi descartado na Câmara. Pelo que eu entendi, era uma ideia de participação do cidadão, propondo ações que os vereadores poderiam muito bem aproveitar. Por que foi descartado, não chegou a ser votado?

Eles alegam inconstitucionalidade, alegam vício de iniciativa. E, assim, na verdade, a gente nem sabe a razão, porque não vai gerar nenhum gasto no município, não mexe com a administração. Na verdade, é como se fosse uma auditoria do cidadão. E, assim, a nossa Lei Orgânica é uma lei muito antiga, e ela limita muito a nossa atuação enquanto vereador. E ninguém, até hoje, nem o presidente, teve coragem de enfrentar essa questão para mudar essa Lei Orgânica para que a gente tenha um pouco mais de poder de legislar. Porque acaba que o nosso poder aqui é mais de fiscalizar e de falar, porque de legislar é muito pouco. A iniciativa da lei. A gente vota todas as leis, mas a iniciativa do Legislativo é muito restrita. Então, acaba limitando muito a nossa atuação.

Ruy Bucar: Vereadora, o que há de acerto entre a prefeita Cinthia e o governador Wanderlei em relação às eleições em Palmas? Como é que a srª avalia o cenário da Capital que se projeta como a eleição mais disputada da história que se observa de pretensos candidatos sendo lançados. Como é que a srª vê esse processo?

Essa conversa entre o governador e a prefeita, eu não sei te dizer se realmente existe de verdade. A gente ver falar das duas partes que têm essa intenção de apoiar um candidato só, mas eu não tenho acesso a esses bastidores. Mas até pelo que os colegas falaram, não tem nada de certo nisso. Nem quem ela vai apoiar, ou quem o governador vai apoiar, ou se vão apoiar um candidato só, porque eles caminham para querer apoiar um candidato só. Mas ninguém tem nome ainda, está tudo ainda muito nebuloso, não tem nada muito claro. E obviamente que um candidato com apoio da prefeita e do governador já sai com uma vantagem grande. O governador é de Palmas, ele tem um eleitorado dele, uma parte daqui de Palmas, então são os melhores cabos eleitorais possíveis. Mas nós temos nomes fortes na próxima eleição.

Com o segundo turno, aí muda todo o cenário, porque aí até a postura dos candidatos. Porque depois do segundo turno pode precisar dos concorrentes. A adversária hoje pode ser aliada amanhã. Mas assim, eu não vejo que tem muita especulação. Mas assim, de concreto mesmo, Não tem… Ao menos que eu saiba, não tem nada definido.

Ruy Bucar: Quais nomes que a senhora citaria que estão inevitavelmente nessa discussão?

Eu não tenho acesso à pesquisa, mas o que eu vejo é das pessoas falarem, do boca a boca. Tem a deputada Janad Valcari, o ex-prefeito [Carlos] Amastha, o deputado Júnior Geo, [ex-deputado] Eduardo Siqueira Campos, que são candidatos que eu considero que são fortes. Todos eles têm chance de estar no segundo turno, dependendo das composições, dos apoios que vierem. Todos estão correndo, trabalhando, tentando se viabilizar. Mas eu, hoje, não arriscaria um palpite.

Ruy Bucar: Onde que a srª pretende estar nesse cenário aí?

Entre todos os candidatos, eu tenho um bom relacionamento com todos eles. E tenho recebido convites. Estou analisando a questão do partido que melhor apoiar o nosso projeto. Eu tenho um eleitorado, eu tenho um vínculo muito grande com a Igreja Católica, eu tenho um eleitorado um pouco mais conservador. Não é aquele radical, mas é um pouco mais conservador. Eu tenho também as minhas próprias convicções. Então, tem alguns partidos que eu já descartaria pela questão ideológica, né? Que, antigamente, isso não fazia muito, não tinha muita importância. Mas, hoje em dia, está tendo. Essa polarização trouxe muito a questão da ideologia dos partidos. Embora, na prática, a gente saiba que é muito só de falar mesmo, que não acontece muito, mas as pessoas dão muita importância para isso. Mas eu estou analisando o partido que apoia melhor o meu projeto. Estou recebendo alguns convites para conversar com líderes partidários.

Ruy Bucar: Então, a senhora vai se candidatar de novo?

Sou candidata à reeleição.

Ruy Bucar: O que a senhora está definindo como ala mais conservadora? Até onde a senhora se identifica, até onde a srª não se identifica? Para ficar mais clara do ponto de vista ideológico. A srª se considera de direita? Direita conservadora? Centro-direita?

Eu sou mais centro-direita. Eu sou contra essa polarização. Eu acho que faz um mal danado. Acho que não existe nada absoluto. Os extremos, eu acho que não fazem bem nem para a esquerda nem para a direita. Dois lados tem coisas boas e tem coisas ruins. Você tem que ter um filtro para tentar minimamente ver o que dá para aproveitar de cada lado. Tem as questões, que são mais ligadas às questões cristãs. A questão do aborto, da legalização das drogas, das coisas que são coisas que eu sou contra… Independente do meu eleitorado, isso é uma coisa que são convicções minhas mesmas. Eu sou contra e não iria para um partido que pregasse isso como bandeira. Seria muito contraditório. Não daria para caminhar juntos. Mas eu não tenho nenhuma questão radical dos extremos, não. Eu tenho uma postura de centro, mas mais para a direita.

Eu sou mais centro-direita. Eu sou contra essa polarização. Eu acho que faz um mal danado. Acho que não existe nada absoluto. Os extremos, acho que não fazem bem nem para a esquerda nem para a direita

Bom, quero desejar que todos os palmenses possam comemorar esse Natal com alegria, com mais esperança. A gente não pode jamais perder as esperanças. Por mais que as coisas estejam difíceis, a gente tem sempre que acreditar no que está por vir. Que as nossas esperanças se renovem e o nosso ânimo para lutar para que os nossos sonhos se realizem em 2024. Força para trabalhar para que os nossos sonhos aconteçam em 2024.