Ataídes Oliveira chegou ao Senado em maio de 2011 pela porta dos fundos, como suplente de João Ribeiro, que se licenciava por problemas de saúde, mas fez questão de subir à tribuna como quem estreia no palco principal. Na estreia, fez o discurso clássico do self-made man: infância pobre em Estrela do Norte, saída de casa aos 11 anos em busca de estudo e trabalho, formação em Direito e Contabilidade e, claro, a construção de um império empresarial ao lado dos filhos.

No batismo de entrada na vida pública, prometeu defender as grandes reformas e jurou não ter vaidades políticas ou financeiras. O tempo passou desde aquela quinta-feira, 5 de maio de 2011, e a verdade é que, mesmo fora do jogo há anos, Ataídes afirma que nunca deixou de mirar a mudança que tanto anseia no Tocantins, uma mudança moral. E agora, volta a falar como quem não desistiu de jogar.

O ex-senador da República pelo PSDB, agora presidente da Democracia Cristã no estado, voltou à cena política como pré-candidato ao governo do Tocantins para as eleições de 2026. Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção Tocantins, Ataídes revisita sua trajetória, critica a atual gestão estadual e aponta o que considera ser a raiz dos problemas que empacam o desenvolvimento do estado: a corrupção.

Quem é Ataídes de Oliveira? O que o senhor diria para quem não conhece sua história?

Ataídes — Eu sou o caçula de 12 filhos, nascido num barracão de palha em Estrela do Norte, na divisa com o Tocantins. Meu pai era meieiro — e pouca gente sabe o que é isso hoje: a gente plantava em terra alheia e metade da produção ia para o dono da terra. Vivi de barracão em barracão, mudando com a família. Aos 11 anos, nunca tinha calçado um sapato ou sentado numa carteira escolar. Um dia fui vender galinhas com minha mãe, vi um caminhão indo pra Anápolis e pedi carona. Minha mãe deixou. Ela voltou pra roça e eu fiquei na cidade, sozinho. Limpei terrenos por comida, fiz datilografia, virei office boy, estudei em escola pública, me formei em contabilidade e direito. Depois fundei o Consórcio Araguaia, criei empresas e gerei mais de 80 mil empregos no Brasil, sendo 30 mil só no Tocantins.

Hoje, sou um homem resolvido financeiramente, mas inconformado com a realidade do nosso povo.

Como o senhor entrou na política?

Ataídes — Em 2009, durante um estudo bíblico, senti que precisava agir. O Estado estava abandonado. Procurei o então ex-governador Siqueira Campos e disse: “Quero te ajudar a voltar ao governo”. Trouxe aviões, ajudei na campanha, fui indicado suplente de João Ribeiro ao Senado. Em 2011, assumi como senador. Encarei de frente a corrupção em Brasília, criei CPIs, bati duro no Sistema S e na JBS. Escrevi livros, lutei contra os juros dos cartões de crédito. Mas paguei um preço alto por isso: não me reelegi em 2018.

WhatsApp Image 2025-07-15 at 17.19.01 (1)
Ataídes de Oliveira é um dos pré-candidatos ao governo do Tocantins em 2026 | Foto: Jornal Opção Tocantins

O senhor votou em Eduardo Siqueira Campos para prefeito de Palmas. Por quê?

Ataídes — Apesar dos problemas do passado, eu votei no Eduardo Siqueira porque via nele um caminho para resgatar a moralidade política. Estou dizendo isso pela primeira vez publicamente. Eu e minha esposa, Natália, votamos nele.

Como o senhor avalia a gestão de Wanderlei Barbosa?

Ataídes — Um desastre. O Estado está desmoralizado, tomado pela corrupção. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas estima que o Tocantins perde R$ 1,2 bilhão por ano com esquemas escusos. Com esse dinheiro daria para construir quatro grandes hospitais regionais, acabar com as filas por cirurgia, erguer milhares de casas populares. Ao invés disso, temos 54 mil servidores, sendo metade comissionados e temporários, apadrinhados por deputados em troca de apoio. Isso é um escândalo.

E o governador, em vez de trabalhar, está viajando.

E como pretende governar, se eleito?

Ataídes — Com moralidade, transparência e eficiência. Eu não preciso de cargo, não preciso roubar. Não vou tirar meu nome do meu patrimônio porque não vou roubar. Quero industrializar o estado, atrair empresas sérias, gerar empregos de verdade. Mas para isso precisamos acabar com a corrupção, o clientelismo e essa instabilidade política. Nenhum governador termina o mandato desde 2006.

O Tocantins é rico, mas o povo é pobre. Isso precisa acabar.

O senhor tem alguma limitação de alianças?

Ataídes — Tenho. Eu não subo no palanque com Amastha nem com Carlesse. O Amastha não é homem de palavra. E o Carlesse, apesar de eu cumprimentá-lo, não me representa.

Fora isso, estou aberto a quem tiver compromisso com a moralização da coisa pública.

O senhor está pronto para encarar mais uma campanha?

Ataídes — Não estava. Mas conversando com minha esposa, com amigos, com a base que ainda confia em mim, decidi voltar. Estou pronto. Não pela política, mas pelo povo do meu estado.

O Tocantins merece mais. Merece decência.