Atualização às 18h31

O Instituto Idesp, de Palmas, alvo da Operação Pagamento Imediato deflagrada nesta terça-feira, 18, pelas polícias civis de Goiás e do Tocantins, teria recebido R$ 10.487.475,00 via 20 emendas parlamentares estaduais entre 2024 e 2025. Os repasses constam nos registros da Secretaria de Planejamento e Orçamento e estão vinculados exclusivamente a ações de consultas, exames e cirurgias oftalmológicas, todas classificadas como execução de custeio.

A operação teve origem em um contrato firmado em 2024 pela Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, durante a gestão do então prefeito Rogério Cruz e sob comando do secretário Wilson Pollara. O acordo previa serviços de modernização administrativa a serem executados em 24 meses, com pagamentos distribuídos em 12 parcelas.

Segundo a Polícia Civil de Goiás, o que ocorreu foi o oposto: R$ 11,68 milhões foram liberados em pouco mais de 35 dias, sem comprovação da execução. O delegado Cleybio Januário chamou de “muito grande” a diferença entre o contrato e o que foi pago. Outro ponto levantado é que o instituto contratado não tinha especialização na área prevista, funcionando na prática como entidade de atendimento médico em Palmas. A investigação aponta ainda que o Idesp teria sido “encontrado na internet” antes da contratação direta, sem licitação.

A operação apura indícios de fraude contratual, contratação direta ilegal, associação criminosa, corrupção ativa e passiva. A corporação informou que o ex-prefeito Rogério Cruz não é alvo da investigação. Sobre Pollara, o delegado disse que não poderia confirmar nem negar sua condição no procedimento.

Durante o cumprimento dos mandados, equipes apreenderam veículos de alto valor, computadores e documentos. A Justiça determinou bloqueio de bens e valores para garantir eventual ressarcimento aos cofres municipais.

Emendas no Tocantins

No Tocantins, nos nove primeiros meses de 2025, o instituto teria recebido R$ 6.337.475,00 por meio de 10 emendas via Secretaria de Estado da Saúde (SES/TO), todas destinadas a consultas, exames e cirurgias oftalmológicas. Entre janeiro e maio, partiram indicações de Valdemar Júnior (Republicanos), Luciano Oliveira (PSD), Eduardo do Dertins (Cidadania) e Nilton Franco (Republicanos), somando R$ 4,5 milhões.

Entre junho e setembro, outras destinações teriam sido feitas por Eduardo Fortes (PSD), Gutierres Torquato (PDT) e novamente Valdemar Júnior. Nesse período, os valores chegam a R$ 1.821.000,00.

Em 2024, as emendas alcançam R$ 4.150.000,00, assinadas por Luciano Oliveira, Nilton Franco, Valdemar Júnior, Gutierres Torquato, Vanda Monteiro (UB), Eduardo do Dertins e Eduardo Fortes. Todos os valores foram destinados a ações oftalmológicas enquadradas como custeio.

Convênios

No Transfere.TO, a reportagem identificou apenas três convênios da SES com o Idesp formalizados entre 2023 e 2025. Eles somam pouco mais de R$ 5 milhões, incluindo um termo de R$ 4.150.790,00 cuja prestação de contas aparece como “devolvida”.

O Idesp foi fundado em 2001, no Pará, e transferiu suas operações para Palmas em 2022. O presidente é Eliezer Pereira de Queiroz Junior (Júnior Queiroz).

Pente-fino

No Tocantins, a Decor-PCTO cumpriu três mandados ligados ao caso. A equipe identificou repasses expressivos de recursos estaduais ao instituto, muitos oriundos das emendas registradas nos sistemas públicos. O delegado Guilherme Rocha coordenou a atuação conjunta.

“Nas buscas, encontramos evidências de elevados repasses de recursos públicos tocantinenses ao instituto investigado, muitos oriundos de emendas parlamentares. Com o mapeamento do modus operandi e os indícios já levantados, a Decor fará um pente fino nos contratos junto às entidades públicas tocantinenses”, afirmou.

Posicionamento da Secretaria de Saúde

Após o envio da reportagem, a SES/TO informou que celebrou o Termo de Colaboração nº 003/2024, no valor de R$ 4.150.000,00, destinado à realização de consultas e cirurgias oftalmológicas, incluindo catarata e pterígio. Segundo a pasta, o Idesp realizou 2.990 atendimentos, 1.893 consultas e 1.097 cirurgias.

A prestação de contas desse termo, porém, foi devolvida pela SES por ausência de informações consideradas relevantes, como origem dos pacientes, data de nascimento e número do cartão SUS.

A secretaria também informou que, em 2025, foram destinadas ao instituto emendas que somam R$ 5.766.797,00, mas nenhum pagamento foi realizado até agora porque o novo termo está sob análise da Procuradoria-Geral do Estado (PGE).

Resposta do deputado Gutierres Torquato

O deputado Gutierres Torquato também respondeu ao Jornal Opção Tocantins. Ele afirmou que conhece o Idesp dentro do relacionamento institucional comum entre parlamentares e entidades que executam ações financiadas por emendas. Segundo ele, o acompanhamento da aplicação dos recursos é feito por servidores do gabinete, com base em informações fornecidas pelos órgãos responsáveis, sem interferência na gestão ou solicitação de listas nominais de pacientes.

O parlamentar disse que recebe relatórios gerais sobre planejamento, triagem, execução e indicadores apresentados pela entidade e pelo Estado, mas nunca dados sigilosos. Ele afirmou que entidades que não prestam contas são classificadas como inaptas e ficam impedidas de receber novos recursos.

Atualização de outros parlamentares

Sobre os repasses, apenas o deputado Marcus Marcelo respondeu até o momento. Ele afirmou que a emenda de R$ 1.200.000,00 de sua indicação foi cancelada e destinada a outras finalidades. Em relação à deputada Janad Valcari, apesar das duas emendas constarem nos relatórios da Seplan, os números não aparecem protocolados, mas a parlamentar foi consultada e aguarda-se retorno. Os demais deputados ainda não responderam.

Posicionamento do Idesp

O Instituto Idesp afirmou, por meio de nota, que a situação relacionada à operação está sob análise das instâncias competentes. Disse também que o episódio não afeta o funcionamento nem a qualidade dos serviços oferecidos e reafirmou “compromisso absoluto com transparência, ética e cuidado integral”. A entidade declarou que segue colaborando com as autoridades para o esclarecimento dos fatos.

Questionamentos adicionais feitos pelo jornal

Além da posição inicial, o Jornal Opção Tocantins pediu esclarecimentos adicionais ao Idesp a respeito do que foi identificado pela Polícia Civil do Tocantins durante o cumprimento dos mandados em Palmas, especialmente os repasses estaduais oriundos de emendas parlamentares e o anúncio de um pente-fino nos contratos do instituto com o poder público local.

Foram encaminhadas perguntas sobre: como o instituto tomou conhecimento dessa checagem mais ampla feita pela PCTO e se houve comunicação oficial; se o Idesp mantém contratos, convênios ou outros processos ativos no Estado que possam entrar na análise; como funciona o fluxo de prestação de contas das emendas (etapas, documentos exigidos e acompanhamento); por que uma das prestações de contas aparece como devolvida no Transfere.TO; e qual a situação atual dessa prestação de contas.

O pedido foi enviado com solicitação de resposta ainda nesta terça-feira, e a matéria será atualizada tão logo o instituto se manifeste novamente.