Avanço da agropecuária no Cerrado deixa Tocantins entre os estados mais impactados pela perda de vegetação

03 outubro 2025 às 08h47

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A região conhecida como Matopiba, formada pelos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, concentra hoje a maior parte da vegetação nativa remanescente do Cerrado. Apesar disso, os dados da nova série histórica do MapBiomas mostram que o avanço da agropecuária e da agricultura intensiva resultou na perda de 15,7 milhões de hectares em quatro décadas, sendo 4,7 milhões apenas na última década, entre 2015 e 2024.
No mesmo período, o Cerrado como um todo perdeu 40,5 milhões de hectares de cobertura nativa, o equivalente a 28% do bioma. Com isso, quase metade do território total do Cerrado (47,9%) já sofreu transformação no uso do solo desde 1985.
A análise detalha que a formação savânica foi a mais impactada, com redução de 26,1 milhões de hectares, seguida pelas formações florestais (10,5 milhões de hectares) e campos alagados (1,3 milhão de hectares).
As mudanças no uso do solo foram impulsionadas principalmente pela agropecuária. Em 2024, pastagens, agricultura e silvicultura ocupavam, respectivamente, 24,1%, 13,2% e 1,7% do Cerrado. Embora as pastagens dominem maior área, a agricultura foi a atividade que mais avançou nas últimas quatro décadas: registrou crescimento de 533% desde 1985 e chegou a ocupar 25,6 milhões de hectares de lavouras temporárias, como soja, e 700 mil hectares de agricultura perene, como café.
Segundo Bárbara Costa, analista do IPAM e integrante da equipe do MapBiomas Cerrado, os impactos dessa expansão vão além da perda de vegetação. “Há fragmentação de habitats, pressão sobre serviços ecossistêmicos e mudanças regionais no regime hídrico, o que pode tornar o bioma mais vulnerável aos extremos climáticos”, explica.
O levantamento também mostra que a cobertura de água no Cerrado sofreu alterações. Entre 1985 e 2024, áreas naturais como rios, veredas e lagos foram substituídas por corpos hídricos artificiais, hidrelétricas, reservatórios, aquicultura e mineração. Em 2024, 60,4% da água presente no bioma tinha origem antrópica.
Territórios indígenas, áreas militares e unidades de conservação se destacam como espaços mais preservados, mantendo em média mais de 95% de Cerrado em pé. Em contrapartida, áreas urbanas preservam apenas 7%, enquanto imóveis rurais e terras sem registro mantêm 45% e 49%, respectivamente.
Dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação também apontam que, entre agosto de 2024 e julho de 2025, houve queda de 20,8% na área sob alerta de desmatamento no Cerrado. Ainda assim, 5.555 km² do bioma permaneceram sob risco no período, segundo os sistemas Deter e Prodes, operados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).