A Comissão Pastoral da Terra (CPT) da regional Araguaia-Tocantins divulgou essa semana uma nota pedindo justiça pelo assassinato de Cícero Rodrigues de Lima, de 58 anos, ocorrido em 3 de junho de 2024. Liderança comunitária e defensor da reforma agrária, Cícero foi morto a tiros na zona rural de Nova Olinda, em uma estrada vicinal próxima ao assentamento Remansão, onde vivia e liderava projetos em prol dos trabalhadores rurais. Segundo a Polícia Militar, Cícero foi alvejado por cinco disparos de revólver, por volta das 16h50, e encontrado já sem vida.

Cícero era presidente da Associação de Produção Comunitária Rural (APC Rural) e da Associação dos Assentados do P.A. Remansão, além de membro ativo da Articulação Camponesa de Luta pela Terra e pela Defesa dos Territórios. A CPT destacou que ele era uma liderança respeitada na luta pela reforma agrária e pelos direitos das populações rurais.

Na nota, a CPT critica a lentidão nas investigações e chama atenção para a violência no campo, que afeta especialmente líderes comunitários. “Quando um líder é silenciado, toda uma comunidade grita por justiça. A impunidade nesse caso reforça a insegurança dos trabalhadores rurais e a sensação de abandono em um cenário de conflitos agrários que persiste há décadas”, afirma o texto.

Contexto de violência no campo

Os dados da CPT mostram que o Brasil registrou 1.056 conflitos no campo no primeiro semestre de 2024, com disputas por terra, água e trabalho. Ainda segundo a Pastoral, 11 assassinatos foram registrados até novembro de 2024, sendo os povos indígenas, assentados e trabalhadores sem-terra as principais vítimas. A nota aponta que 45% desses crimes são atribuídos a fazendeiros, frequentemente com apoio ou conivência de forças policiais.

A CPT também mencionou que Cícero fazia parte de uma longa lista de líderes mortos em razão de conflitos agrários no Brasil. “Essas mortes não são apenas números, mas retratos de famílias desestruturadas e comunidades que perdem suas vozes mais ativas na luta por seus direitos”, diz a nota.

Cobrança por respostas

Passados 230 dias desde o crime, a CPT cobra respostas efetivas e destaca a necessidade de proteger os trabalhadores rurais no Tocantins e em todo o Brasil. “A impunidade desses crimes reforça a continuidade da violência no campo. É imprescindível que o Estado atue com rigor para garantir justiça e segurança para quem luta por um ideal coletivo”, conclui a nota.