O debate final entre Janad Valcari (PL) e Eduardo Siqueira Campos (Podemos), transmitido pela TV Anhanguera nesta sexta-feira, 25, às 22 horas, foi marcado por acusações mútuas, ataques pessoais e provocações diretas. Entre os destaques estavam as menções ao áudio polêmico da ex-funcionária de Janad, o envolvimento da banda Barões da Pisadinha, críticas ao apoio de Wanderlei Barbosa e Cinthia Ribeiro (PSDB), e disputas sobre quem tem maior alinhamento com Jair Bolsonaro. Dividido em quatro blocos, o encontro refletiu não apenas a tensão do segundo turno, mas também a intensidade da campanha, com ambos os candidatos buscando consolidar apoios e desgastar o adversário.

Primeiro Bloco: a ex, o ex e a banda

O primeiro bloco foi marcado pela fala sobre a ex-funcionária de Janad, onde a candidata aparece gritando e questionando-a sobre uma planilha. Também houve destaque para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e para a banda de Janad, Barões da Pisadinha. 

Eduardo Siqueira e Janad Valcari em debate no 2° turno | Foto: Reprodução/Tv Anhanguera

Eduardo abriu o debate abordando sua trajetória e a história de seu pai, Siqueira Campos, destacando sua origem política. Em seguida, questionou Janad sobre sua ausência nos debates do primeiro turno e mencionou que as discussões anteriores contaram apenas com dois homens e uma mulher, referindo-se à candidata Lucia Viana (PSOL), somente porque ela, Janad, não compareceu. Ele também frisou que não é o candidato do governador Wanderlei Barbosa nem da prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB), embora tenha semitonado um pouco na última parte, claramente, um pouco constrangido, já que a prefeita agora o apoia. 

Janad iniciou sua fala prestando homenagem à família do professor Luciano Coelho, que faleceu nesta sexta, vítima de câncer. Em seguida, resgatou um trecho de sua biografia pessoal, lembrando a ocasião em que passou por debaixo da catraca de ônibus. “Ralei muito para estar onde estou hoje”, destacou. 

A candidata causou algum espanto, inclusive no próprio Eduardo, quando em um dos momentos começou a abordar o polêmico episódio envolvendo sua ex-funcionária, cujos áudios foram amplamente divulgados por ambas as campanhas nas redes sociais. Segundo Janad, a ex-funcionária teria sido contratada pela prefeita Cinthia Ribeiro para divulgar os áudios. Janad disse que a funcionária procurou ambas as campanhas pedindo dinheiro, e completou: “Eu não paguei, quem pagou?”

Eduardo, por sua vez, minimizou a situação, dizendo que não poderia ter articulado o contrato com a ex-funcionária, já que, inicialmente, a prefeita apoiava o candidato Júnior Geo (PSDB). No entanto, mencionou que o áudio divulgado era de Janad, sugerindo que ela gritou e maltratou a funcionária. Ele também aproveitou o momento para criticar Janad por e sua banda Barões da Pisadinha, questionando o uso de recursos públicos para eventos e atacando o alinhamento da candidata com valores religiosos. “Você que é evangélica, sua banda não toca louvor, mas toca o terror nos cofres públicos”, provocou.

Eduardo também comentou sobre seu vínculo com Bolsonaro, afirmando que o ex-presidente começou sua carreira política no PDC graças ao apoio de Siqueira Campos. Ambos os candidatos continuaram a mencionar Bolsonaro ao longo do programa, tentando demonstrar maior alinhamento com o ex-presidente e mais tarde, com a direita. O candidato do Podemos, fez uma saudação a Bolsonaro: “Capitão, boa noite, e bem-vindo a Palmas.”

O bloco foi marcado por momentos tensos, como a tosse frequente de Janad e o fato de ela caminhar de um lado para o outro enquanto Eduardo falava, demonstrando impaciência. Ao final do bloco, Eduardo reclamou da administração do tempo, destacando que sua fala havia sido interrompida.

Segundo bloco: Toninho, Marcelinho e camburão 

O segundo bloco do debate permitiu que os candidatos escolhessem os temas a serem discutidos. Janad Valcari iniciou abordando o transporte público, citando Toninho da Miracema, empresário cuja empresa operava em Palmas há mais de duas décadas. A candidata destacou o histórico problemático do sistema de transporte e mencionou o sofrimento dos usuários com ônibus lotados.

Eduardo Siqueira respondeu dizendo que Fenelon Barbosa, pai do governador Wanderlei Barbosa e aliado de Janad, trouxe Toninho para a cidade. Ele ironizou: “Pergunte sobre o transporte público com quem lhe apoia, candidata.” Janad fez comentários sobre o Instituto de Gestão Previdenciária (Igeprev) e associou a sua presença de Eduardo em operações da Polícia Federal, dizendo: “Parece que você acha que o camburão da PF é Uber.” Eduardo pediu respeito à candidata em dado momento, e ela respondeu: “Respeito a gente dá pra quem merece.”

A troca de acusações continuou quando Eduardo afirmou que Janad tem um discurso ensaiado por marqueteiros e apresentou sua proposta de integrar ônibus com serviços de aplicativos como o Uber. Janad respondeu que Eduardo desconhece a realidade de quem depende de transporte público, destacando vídeos de passageiros usando guarda-chuvas dentro dos veículos devido às condições precárias.

Em um momento mais pessoal, Eduardo comparou a imagem pública de ambos: “Quando o povo olha para mim, vê Polyana, minha esposa. Quando olha para você, vê Odirley, em referência ao marido de Janad. Ele também criticou a postura de Janad, sugerindo que ela é incisiva apenas contra a prefeita Cinthia Ribeiro: “Você urra como uma leoa nas UPAs e mia como uma gatinha no HGP.”

Janad apresentou propostas para melhorar o transporte e a mobilidade urbana, como pontos de ônibus com Wi-Fi, energia para carregar celulares e ar-condicionado. Ela também falou em criar uma “faixa azul” para motoqueiros, buscando reduzir acidentes.

A candidata falou que Eduardo tem em sua campanha um ex-marqueteiro do presidente Lula (PT). Eduardo rebateu dizendo que o marqueteiro dela, Marcelinho, é um “esquerdista roxo” apaixonado por Lula.

A discussão também abordou o bloqueio de um empréstimo pleiteado pela prefeitura junto à Câmara Municipal, que seria destinado à renovação da frota de ônibus. Janad celebrou a não aprovação, dizendo que seria irresponsável conceder um “cheque em branco” para a prefeita no fim de seu mandato.

Na sua vez de escolher o tema, Eduardo trouxe à tona a educação. Ele destacou sua participação na construção de 10 escolas municipais, do Instituto Federal do Tocantins (IFTO) e afirmou que a Universidade Federal do Tocantins (UFT) nasceu com ele. Eduardo pressionou Janad a explicar sobre a Casa do Estudante, mas a resposta da candidata só seria dada no terceiro bloco. 

Eduardo voltou a abordar os áudios da ex-funcionária de Janad, sugerindo que professores teriam medo de trabalhar sob sua gestão. Janad, por sua vez, apontou falhas na administração do transporte escolar, atribuindo a responsabilidade à má gestão da prefeita Cinthia Ribeiro, aliada de Eduardo.

Terceiro bloco: Sítio Novo, Paranã e Rio dos Bois; Ecad e IPTU

No terceiro bloco, de tema livre, o foco do debate girou em torno de acusações mútuas sobre corrupção e gestão. Janad Valcari (PL) iniciou abordando o tema das auditorias e acusou Eduardo Siqueira (Podemos) de se cercar de ex-prefeitos que, segundo ela, estariam acobertando uns aos outros. A candidata destacou que, se eleita, realizaria auditorias nas contas da prefeitura e afirmou que Eduardo não faria o mesmo.

Janad também respondeu à provocação de Eduardo sobre a Casa do Estudante, feita no segundo bloco, esclarecendo que a iniciativa é voltada para alunos de graduação e, portanto, não estaria sob responsabilidade municipal. Eduardo rebateu afirmando que, mesmo assim, ela poderia ter ajudado os estudantes da casa em sua atuação como deputada estadual. O candidato negou ter se coligado com ex-prefeitos e enfatizou que apenas aceitou seus apoios.

Em um momento mais tenso, Janad se referiu a Eduardo como “Mesadinha,” provocando uma advertência da mediadora do debate, que pediu que não se utilizassem apelidos. A candidata reformulou sua fala e voltou a afirmar que ex-prefeitos, como Raul Filho, Carlos Amastha (PSD) e Cinthia, haviam se acobertado mutuamente em gestões passadas. Eduardo, por sua vez, atacou o apoio de Wanderlei Barbosa à campanha de Janad e sugeriu que secretários estaduais estariam sendo obrigados a apoiá-la.

Em meio ao embate, as acusações envolvendo emendas parlamentares vieram à tona. Eduardo questionou o destino de algumas emendas de Janad para Rio dos Bois, insinuando que a cidade teria contratado serviços da banda Barões da Pisadinha, com a qual Janad é associada. Janad, por sua vez, indagou Eduardo sobre as emendas destinadas por ele a Sítio Novo, sugerindo que o volume de recursos era suspeito. Eduardo também mencionou uma suposta irregularidade envolvendo desvio de verbas em Paranã.

O debate se tornou mais desconexo em alguns momentos, com ambos os candidatos falando de temas diferentes e evitando responder diretamente aos questionamentos dos adversários. Eduardo mencionou a banda Barões da Pisadinha e criticou o envolvimento de Janad na gestão de shows e contratos, sugerindo irregularidades. A candidata, no entanto, ironizou que as músicas da banda tocam na rádio do adversário, alegando que ele não pagaria o Ecad, entidade responsável por direitos autorais. Eduardo negou a acusação e retrucou que Janad estaria devendo IPTU.

Sobre habitação, Janad anunciou que, se eleita, construiria 3 mil casas populares e entregaria 10 mil lotes, informando que já teria firmado um acordo nesse sentido com o governador Wanderlei Barbosa. Eduardo, em resposta, afirmou que o déficit habitacional de Palmas já ultrapassa 15 mil, indicando que as propostas da candidata não atenderiam toda a demanda.

As discussões também se tornaram pessoais. Janad mencionou dificuldades de sua trajetória, como despejos que sofreu, e afirmou que Eduardo, como herdeiro, sempre enxergou a cidade de cima de seu apartamento. Eduardo rebateu que a candidata também mora em um condomínio de luxo e que o seu apartamento, por outro lado, era financiado pela Caixa. Ele ainda a acusou de ser um “Robin Hood ao contrário”, sugerindo que ela tira dos pobres para dar aos ricos.

No encerramento do bloco, Eduardo criticou Janad por nunca ter feito obras, apesar de sua trajetória política. A candidata, com ironia, afirmou que explicaria no intervalo a diferença entre executivo e legislativo, uma vez que nunca havia ocupado cargo no executivo. Finalizou afirmando que nunca precisou “comprar sentença para dizer que era ficha-limpa.”

Quarto bloco: O capitão e os comunistas

No quarto bloco do debate, Eduardo Siqueira Campos iniciou falando sobre a geração de empregos e a capacitação de jovens para o mercado de trabalho. O candidato aproveitou o tema para criticar o apoio do governador Wanderlei Barbosa à campanha de Janad Valcari. Eduardo também mencionou que o Palácio Araguaia havia sido cercado recentemente pela Polícia Federal para investigar atos do governador e afirmou que Janad, como deputada estadual, não subiu o tom na Assembleia para se posicionar sobre as investigações.

Janad respondeu reafirmando sua parceria com Wanderlei e destacou que, ao contrário do governador, que sempre a recebeu bem, a prefeita Cinthia Ribeiro nunca a atendeu, nem mesmo quando ela era vereadora. Segundo a candidata, a prefeita não recebe nem seus próprios vereadores aliados, reforçando a distância política entre elas.

Em seguida, Eduardo voltou a criticar Wanderlei, dizendo que os secretários do governador estariam pressionando servidores a apoiarem a candidatura de Janad. A candidata do PL rebateu relembrando uma acusação anterior: Eduardo estaria devendo R$800 mil na praça e que nem mesmo seu irmão o apoiava na campanha.

Eduardo, por sua vez, atacou os apoios recebidos por Janad, insinuando que sua campanha seria um “Titanic prestes a afundar”. Em referência ao campo familiar, Eduardo sugeriu que Janad teria “teto de vidro”, mencionando que o marido da candidata, Odirley Valcari, não visitaria nem o próprio filho.

No segundo momento do bloco, Janad escolheu falar sobre moradia, reafirmando seu compromisso de construir casas populares. Ela também aproveitou para convidar os eleitores para uma carreata que contará com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro, que ocorrerá na avenida Palmas Brasil Norte.

Ao final, Eduardo aproveitou a menção a Bolsonaro para se dirigir diretamente a ele: “O senhor não conhece ela direito, capitão”, disse o candidato. Em uma tentativa de enfraquecer a aliança de Janad, Eduardo ainda destacou que Ivory de Lira e Luana Ribeiro, ambos do PCdoB, que estavam no palanque da candidata, ironizando que ela estaria sendo apoiada por dois comunistas.

Considerações finais:

Nas duas considerações finais, ambos os candidatos foram interrompidos por ultrapassarem o tempo. Eduardo, cometeu um erro nas últimas frases, dizendo “dia 20, vote 20”, sendo que a eleição ocorrerá no dia 27. 

Considerações finais de Janad Valcari

“Olha, não tinham do que me acusar e simplesmente deixaram transparecer para as pessoas que eu falo alto com os outros. Se o meu crime é falar alto, o dele é roubar — e roubar muito.

Durante toda a minha campanha, passei pelas ruas, não para conhecer os bairros, mas para conversar com as pessoas, porque eu já conheço os bairros. Visitei os assentamentos, estive em Taquaruçu e Buritirana. Visitei também meus amigos da Avenida Tocantins, que estão há anos esperando por uma solução e nada. Passei pelo Rodoshopping, que já passou da hora de ter uma solução, mas infelizmente, até hoje, os governantes não fizeram nada.

Quero dizer a você, mãe, pai e filho, que Palmas tem jeito. Só precisa de alguém que faça bem feito. Palmas precisa de alguém com vontade de construir o hospital que, desde pequena, eu sempre sonhei em ver. Infelizmente, esse hospital ainda não saiu do papel. Também precisamos construir pontes para unir a cidade dos invisíveis e a cidade dos que brilham, tornando-a uma só. Eu sei como fazer isso. Estou pronta, preparada e disposta a ser sua funcionária para cuidar desta cidade e, juntos, fazermos a diferença.

Por isso, para mudar, vote Janad 22. Vamos fazer uma Palmas cada dia melhor!”

Considerações finais de Eduardo Siqueira Campos

“Quero me dirigir a você, família palmense. Vocês sabem por que vieram para cá e encontraram uma cidade moderna. Vocês amam Palmas, e eu também a amo, como se fosse uma irmã. Ela é a alma de todos nós que moramos aqui.

Eu fiz as bases desta cidade. Construí tantas casas e escolas, e é por isso que quero voltar a ser prefeito: para trazer de volta os programas sociais e para que as mães tenham o cuidado que realmente merecem. O que eu quero para Palmas é que ela não chegue a 500 mil habitantes sem as obras e sem a visão de futuro que projetei lá atrás. Ela não sabe o que é o Espaço Cultural, não sabe o que é o Ginásio Ayrton Senna, e desconhece tudo aquilo que eu fiz.

Vocês que me conhecem abriram as portas de suas casas, estando em um partido coerente, confiam em mim. Eu já estive com vocês, fiz propostas, e essas propostas ainda ressoam, porque vocês aceitaram e aprenderam que a casa da gente é sagrada — só entra quem a gente confia.

Outras pessoas tentaram comprar o seu voto. Eu quero alertar que voto tem consequência. O dinheiro que foi derramado nesta cidade não foi suficiente para tirar esses candidatos da liderança nas verdadeiras pesquisas. Espero por você. Palmas, dia 20, vote 20. Vamos resolver os problemas desta cidade. Eu sou o mais preparado. Estou pronto.”