O prefeito Eduardo Siqueira Campos (Podemos) voltou a se posicionar após voltar ao comando da Prefeitura de Palmas. Em uma entrevista concedida ao programa “Povo na TV”, da TV Norte Tocantins, nesta sexta-feira, 18, o gestor fez mais do que uma prestação de contas à população: fez também um ajuste público de contas com seu vice, Carlos Velozo (Agir), e com parte da base política que se movimentou durante os 20 dias em que ele esteve afastado por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), no bojo da Operação Sisamnes.

Eduardo comentou o futuro da relação com o vice: “Se eu tiver que dar um abraço nele, eu vou dar. Mas vou perguntar: no que foi que você errou comigo?”, disse, logo após narrar o desconforto com exonerações feitas enquanto estava fora. Durante a interinidade, Velozo promoveu ao menos 20 mudanças no primeiro escalão, incluindo a exoneração de nomes ligados à família Siqueira Campos e a nomeação de indicados de grupos religiosos e do partido Agir. A movimentação foi vista por aliados de Eduardo como um ensaio de ruptura. A primeira medida do prefeito ao reassumir foi anular esses atos e iniciar a recondução dos exonerados.

Apesar das críticas, Eduardo disse admirar a família do vice-prefeito e afirmou que sua decepção foi com a condução política da interinidade: “Admiro a missionária Cínthia (esposa de Velozo), os quatro filhos, sempre admirei o pastor Carlos Eduardo. Mas o interino me decepcionou. Se ele cedeu a pressões partidárias, poderia ter me procurado para dialogar.”

“Eu me elegi pelo Podemos. Admiro minha presidente, sou leal ao partido. Mas o Podemos não tira nem põe secretário. Quem escolhe é o povo. Se o interino aceitou imposições partidárias, foi um erro. Eu, no lugar dele, teria procurado conversar comigo. Teríamos chegado a um acordo.”

Na entrevista, Eduardo se mostrou particularmente incomodado com a forma como foi tratado. “Você podia até errar, mas tenha coragem de me dizer que vai errar. Eu não estava morto. Estava de pé, sofrendo, mas de pé.”

O recado serve também à base parlamentar, que se fragmentou durante o afastamento. Eduardo não confirmou se manterá todas as reconduções e mandou uma mensagem direta aos partidos: “Me elegi pelo Podemos. Mas quem põe e tira secretário é o povo, não partido”.

O tom adotado pelo prefeito deixa pouco espaço para ambiguidade: há uma ruptura clara e não resolvida. O abraço simbólico prometido: “Se tiver que dar um abraço nele, eu dou”, foi imediatamente seguido por uma cobrança: “Mas vou perguntar por que ele agiu como agiu.”

A leitura política da entrevista aponta para um Eduardo Siqueira Campos mais assertivo, usando a força simbólica do retorno para restabelecer sua autoridade. “Volto com o coração e o corpo renovados. Mas volto atento”, declarou.

Se por um lado o prefeito adotou um tom emocional, agradecendo à esposa, à mãe, aos médicos e ao apoio espiritual que diz ter recebido, por outro não deixou de fazer sinalizações políticas calculadas. Usou termos como “lealdade”, “coragem” e “justiça” para reordenar sua base, e fez menções recorrentes ao “povo” como o verdadeiro detentor do poder. “Estou novamente sentado na cadeira na qual Deus, juntamente com vocês, me colocaram. Eu volto com os compromissos dobrados. Essas mãos que vocês conhecem continuam limpas”, disse.

Apesar do tom conciliador em alguns trechos: “Perdoo, mas não esqueço”, o que se viu foi um Eduardo atento e pronto para retomar o controle da máquina pública. Ao mirar nos que considera infiéis, o prefeito mandou um recado: “Não sou eu quem tira e quem põe. É Deus e é o povo. Eu sou apenas um instrumento.” A mensagem está dada, inclusive ao vice.