O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu nesta sexta-feira, 9, negar seguimento ao habeas corpus impetrado pela defesa do governador afastado do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos). Com isso, mantém-se a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), de 3 de setembro, que o afastou do cargo no âmbito da Operação Fames-19, que investiga suspeitas de desvio de R$ 73 milhões em cestas básicas durante a pandemia.

Enquanto o afastamento perdura, o Tocantins sofre com atraso administrativo. Alguns projetos estratégicos, decisões orçamentárias e agendas prioritárias sofrem entraves, e a indefinição sobre quem conduz o Estado gera certa paralisia política e administrativa. O interino Laurez Moreira (PSD) tenta manter a rotina da gestão, mas enfrenta os limites naturais de quem governa provisoriamente.

No campo político, o tempo para Wanderlei se viabilizar como candidato ao Senado é curto. Pela legislação eleitoral, ele precisaria renunciar até 6 de abril de 2026 para concorrer. Mas, com o afastamento judicial, o relógio político se aproxima rapidamente do limite, e o governador ainda enfrenta o desafio de reconstruir alianças e base fora do Palácio Araguaia.

O caso de Wanderlei tem paralelos históricos com Marcelo Miranda, ex-governador do Tocantins. Marcelo foi cassado pelo TSE em 2009 e ficou inelegível, impedindo-o de assumir o Senado mesmo tendo sido eleito em 2010. Ambos enfrentam períodos de afastamento que travaram o governo e exigiram decisões jurídicas e políticas estratégicas. A diferença é que Wanderlei ainda não perdeu o mandato nem a elegibilidade, podendo usar a renúncia como instrumento político e administrativo.

Nesse contexto, a renúncia surge como medida dupla: administrativa e política. Isso poderia permitir que o Estado retome o ritmo de decisões, dar estabilidade à administração e, ao mesmo tempo, liberar Wanderlei para reorganizar seu projeto político fora do cargo. Um movimento que poderia ser lido como responsabilidade institucional e desprendimento, colocando os interesses do Tocantins acima das disputas eleitorais, e ao mesmo tempo oferecendo a ele uma chance concreta de reconstruir sua relevância política.