Cidade de Palmas

Dona de um pôr do sol de tirar o fôlego e de cenários que encantam diariamente os nativos e os turistas que passam pela região, Palmas, a capital mais jovem do Brasil, completa hoje seus 36 anos. Fundada no dia 20 de maio de 1989, a cidade foi oficialmente instalada no dia 1° de janeiro de 1990 e está situada no estado do Tocantins, região norte do país.

Abriga a maior praça da América Latina, a Praça dos Girassóis, com mais de 570 mil metros quadrados, e tem uma população estimada em 323.625 habitantes, segundo dados do IBGE referentes a 2024. Localizada no ponto central de Palmas, a Praça dos Girassóis concentra os principais prédios dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do Estado.

Após ser eleito em novembro de 1988, o então governador José Wilson Siqueira Campos iniciou os estudos para a localização da nova capital, que substituiria Miracema do Tocantins, capital provisória. Conforme dados do site do Governo do Tocantins, o município de Palmas teve seu nome inspirado na comarca de São João da Palma, em Paranã, e na abundância de palmeiras existentes na região. 

A juventude palmense

Por ser uma cidade tão nova, a maioria dos jovens nascidos em Palmas, ou que cresceram com ela, viram de perto a mudança acontecendo, e estão redesenhando a cidade por meio do empreendedorismo, arte, inovação e crítica urbana.

A artista visual e cênica, arquiteta e urbanista, Sara Gomes de Almeida, conhecida como Leoa do Norte, nasceu em Palmas e foi criada na região do Bico do Papagaio. Após se mudar para Brasília na adolescência para concluir os estudos do ensino fundamental e médio, voltou à capital tocantinense para estudar o ensino superior, onde vive hoje na região norte da cidade.

Apesar de crescer no interior do Tocantins, Sara visitava a capital anualmente e acompanhou o desenvolvimento da cidade. Apaixonada pela arte, ela sempre teve a pintura presente em sua vida:

“Sempre pintei, não houve um momento. A expressão visual sempre esteve ali, já as artes cênicas foi entrando na minha vida nos últimos 10 anos, primeiramente fui capoeirista e a capoeira me mostrou essa nova perspectiva do movimento, e depois com a dança, cinema e fotografia fui misturando todas as linguagens.” frisou.

Além disso, Sara cria espetáculos independentes na região e ministra oficinas e workshops de pintura e aquarela. Sua arte leva como referência o “Tocantins profundo” como caracteriza a artista, sendo as comunidades quilombolas, indígenas, a resistência negra e feminina. Questionada sobre o incentivo às artes em Palmas, a pintora ainda não vê muito avanço: 

“Não o suficiente, pouco incentivo, não há espaços para artes nem artistas, mal há teatro, museus ou locais para exposição. As pessoas vêm a maioria de fora e não consomem a arte daqui. Estamos melhorando, mas está bem longe do ideal ou do que ocorre nas grandes capitais”, pontuou.

A artista espera que a Palmas do futuro tenha mais espaços de arte/cultura, investimento e valorização dos artistas locais pelos próprios palmenses, além de mais editais de fomento e uma maior conexão entre os próprios artistas do município.

Sara foi premiada ainda aos 14 anos no Projeto Museu Escola do STJ. Foto: Arquivo Pessoal/Sara Almeida
Sara foi premiada ainda aos 14 anos no Projeto Museu Escola do STJ | Foto: Arquivo Pessoal/Sara Almeida

Esse ano, Sara realizará uma exposição chamada “Aquarela Tradicional Tocantinense”, a qual diz ser seu maior projeto artístico que representa sua identidade e cultura. Ela se inspira na transformação do ser artístico, que não gere somente um produto, mas também autoconhecimento e reflexão.

Para Jéssica Neme, estudante de jornalismo, que nasceu em Gurupi, município do Tocantins, se mudou para Palmas com 5 anos, e atualmente mora no plano diretor sul, ser criada em meio a natureza e próxima da família foi essencial para que ela se tornasse quem é hoje.

“As construções me encantam até hoje, às vezes me pego observando os prédios na orla da graciosa, e é como a realização de um sonho ver a cidade abrigar tanta diversão. Adoro o fato de Palmas ser uma capital com ar de interior, onde quer que eu vá, encontro algum amigo ou conhecido”, enfatiza a estudante.

Mesmo amando a cidade e a segurança que Palmas traz, se comparada aos grandes centros urbanos, ela critica a falta de opções de lazer: “Ficamos muito presos aos eventos sertanejos, o que acaba deixando a desejar na diversidade cultural”, declara Jéssica.

Jéssica se mudou para a capital em 2002, foi morar em Brasília em 2023 e voltou para Palmas em 2025. Foto: Arquivo Pessoal/Jéssica Neme
Jéssica se mudou para a capital em 2002, foi morar em Brasília em 2023 e voltou para Palmas em 2025 | Foto: Arquivo Pessoal/Jéssica Neme

Jéssica imagina que futuramente Palmas se torne um grande polo econômico, pois já está caminhando para esse cenário, mas espera que a cidade cresça sem perder sua essência interiorana, e que tenha mais diversidade cultural, com shows e eventos que realmente abracem a população.

Nascida e criada no Jardim Aureny III, um dos bairros mais populosos de Palmas, Gabi Carneiro, jornalista pela Universidade Federal do Tocantins (UFT), é encantada pela tranquilidade de sua cidade natal, e sente que crescer nela trouxe amadurecimento no sentido pessoal, profissional e afetivo.

“Minha família está aqui, meus amigos, minha universidade, tudo o que sou hoje se desenvolveu nesse lugar… traz um sentimento de familiaridade, de normalidade, que faz tudo parecer mais próximo. É aquela sensação gostosa de ‘isso aqui é meu lugar!”, destacou a jovem.

A jornalista enfatiza que ver as ruas sendo asfaltadas, as escolas inauguradas, o aumento da população e o crescimento de prédios e comércios, aumenta a sensação de pertencimento, pois Palmas foi se desenvolvendo gradualmente, e os palmenses foram aprendendo a viver esse processo. 

Ela também comentou que aprecia as opções de lazer da capital, como chegar em poucos minutos à cachoeira de Taquaruçu e também de apreciar o pôr do sol espalhado para cidade, que rende um momento de pausa proveitoso. Mas, apesar da beleza e benefícios da cidade, ainda há muito o que melhorar.

“Ainda tem muita coisa que precisa funcionar de verdade em Palmas. O transporte público, por exemplo, precisa ser mais eficiente, e as políticas de mobilidade, acessibilidade, educação, cultura e lazer devem alcançar toda a cidade, não só o centro. A desigualdade no acesso a oportunidades ainda é visível, e isso precisa mudar”, afirmou.

Apesar de reconhecerem avanços, jovens palmenses ainda sentem que há um longo caminho a percorrer para que sua participação nas decisões políticas da cidade seja efetiva. Gabi reforçou que o envolvimento depende diretamente da disposição individual, mas precisa ser fortalecido coletivamente.

Gabi na Prainha da UFT. Foto: Arquivo Pessoal/Gabi Carneiro
Gabi na Prainha da Universidade Federal do Tocantins, onde se formou jornalista | Foto: Arquivo Pessoal/Gabi Carneiro

Planejamento urbano de desafios para o futuro

Os arquitetos Luís Fernando Cruvinel Teixeira e Walfredo Antunes de Oliveira Filho, desenvolveram a estruturação do plano urbanístico de Palmas, criada para ser um centro estratégico para o desenvolvimento social e econômico do recém-criado estado do Tocantins. Tendo como inspiração modelos como Brasília, desde sua concepção, o plano ambicionava uma cidade bem planejada e funcional.

De acordo com o arquiteto Walfredo Antunes, coautor do plano urbanístico original de Palmas, “A cidade foi pensada para desempenhar todas as funções, nas quais se incluem de uma maneira importante as funções administrativas do Estado e do município. O traçado em quadrículos busca o melhor desempenho das funções da cidade”, afirmou Antunes em entrevista ao site do Governo do Tocantins.

O professor do curso de Direito da Universidade Federal do Tocantins, João Bazzoli, mestre em Ciências do Ambiente e doutor em Geografia Urbana, destaca que o principal problema do plano urbanístico de Palmas são os vazios urbanos e o crescimento desordenado para fora da cidade, gerando um custo elevado e dificultando a resolução de problemas relacionados à mobilidade urbana.

“Estamos aí com a revisão do plano diretor, que possivelmente já começa esse ano. Então, na revisão precisamos pensar nesse crescimento disfuncional, para fora do plano diretor. Tem periferia que não tem o atendimento do poder público, então precisaria repensar toda essa estruturação e, obviamente, nas mudanças climáticas, sendo a questão que está em pauta hoje a nível nacional.”, declara Bazzoli.

O professor de Direito trata sobre esse e outros assuntos em seu livro “Palmas em Foco: Contradições de uma cidade planejada”. Foto: Arquivo Pessoal/João Bazzoli
O professor de Direito trata sobre esse e outros assuntos em seu livro “Palmas em Foco: Contradições de uma cidade planejada” |Foto: Arquivo Pessoal/João Bazzoli

Para ele, uma série de problemas podem afetar a região norte futuramente, principalmente os ambientais, como ondas de calor. O professor ressalta que vários estudos já evidenciaram a situação de inabitabilidade da região, a depender do que possa acontecer com o passar dos anos e do calor extremo.

Bazzoli lembra a importância de acompanhar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), visto que esse processo orientará a população sobre as ações futuras dentro do campo ambiental.

Palmas completa 36 anos sendo moldada por diferentes gerações que, cada uma à sua maneira, ajudam a repensar e transformar a cidade. Jovens que cresceram com a capital mais jovem do país se posicionam por meio da arte, da crítica urbana e do empreendedorismo, enquanto especialistas, como professores e urbanistas, oferecem reflexões sobre os rumos do desenvolvimento e os desafios futuros.

Entre sonhos de uma cidade mais justa e equilibrada e alertas sobre a necessidade urgente de planejamento ambiental e inclusão social, o que une essas vozes é o sentimento de pertencimento. Não o pertencimento idealizado, mas aquele que se constrói com participação, cobrança e envolvimento.

Se o passado de Palmas é marcado pela ousadia de sua fundação, o futuro dependerá da escuta ativa dessas múltiplas experiências e da capacidade coletiva de imaginar e realizar uma cidade onde viver seja, de fato, um ato de pertencimento.

* Amanda Helen cumpre estágio obrigatório por meio do convênio firmado entre o Jornal Opção e a Universidade Federal do Tocantins (UFT), sob supervisão de Elâine Jardim.