Para relembrar: Tocantins já teve três governadores presos por corrupção; Carlesse é o último
06 janeiro 2025 às 17h36
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Com um histórico de instabilidade política, além de enfrentar série de interrupções de mandatos de chefes do Poder Executivo, seja por renúncia ou afastamento decretado pela Justiça, o Tocantins chega em 2025 com três ex-governadores que foram presos: Sandoval Cardoso, Marcelo Miranda e Mauro Carlesse – o último encarcerado há três semanas no Quartel do Comando Geral, em Palmas. Os demais estão em liberdade e sem mandato. Relembre a seguir.
Sandoval Cardoso (2014 – 2015)
O ex-governador Sandoval Cardoso assumiu o governo do Tocantins, após renúncia do ex-governador Siqueira Campos. Ele era presidente da Assembleia Legislativa do Tocantins antes de se tornar governador. Foi preso em 2016, durante a Operação Ápia, que investigou fraudes em licitações e desvio de R$ 200 milhões em obras de rodovias estaduais. Ele ficou preso por 15 dias, sendo solto após pagar fiança de R$ 50 mil.
Em 2018, ele foi condenado a três anos e quatro meses de prisão pelo crime de peculato devido ao uso de notas fiscais frias para desviar R$ 223 mil da Assembleia Legislativa do Tocantins, quando era presidente, entre 2013 e 2014. Segundo as investigações, o dinheiro foi retirado da Cota de Despesa de Atividade Parlamentar e justificava supostas despesas que não foram comprovadas. Sandoval teria contado com a ajuda de um empresário, que emitiu 34 notas falsas referentes a locação de veículos e impressão de materiais gráficos.
Ele foi absolvido em 2020 pelo Tribunal de Justiça do Tocantins. O Ministério Público recorreu, e em 2024, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) restabeleceu a condenação.
Marcelo Miranda (2003 – 2009; 2015 – 2018)
O ex-governador Marcelo Miranda ficou preso por 147 dias, entre setembro de 2019 e fevereiro de 2020, no quartel da Polícia Militar de Palmas, após ser detido durante a Operação 12º Trabalho, da Polícia Federal. A operação investigou um esquema de desvio de recursos públicos no Tocantins que teria causado prejuízos de R$ 300 milhões, além de envolvimento em crimes como lavagem de dinheiro e organização criminosa.
A prisão foi revogada por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que entendeu que a Justiça Federal não tinha competência para julgar o caso, transferindo-o para a Justiça Eleitoral, já que havia conexão com crimes eleitorais. Miranda foi preso no apartamento funcional de sua esposa, a deputada federal Dulce Miranda (MDB), em Brasília.
Miranda foi alvo de diversas investigações por corrupção durante seus mandatos como governador do Tocantins. Na Operação Reis do Gado (2016), foi acusado de participar de um esquema de lavagem de dinheiro e fraudes em licitações públicas, envolvendo também seus familiares. Na Operação Marcapasso (2017), apurou-se fraudes em licitações e cobranças ilegais por cirurgias no sistema de saúde, incluindo a realização de procedimentos desnecessários.
Em 2017, na Operação Convergência, Miranda foi indiciado por fraudes em contratos de construção de rodovias. Em 2018, a Operação Pontes de Papel investigou desvios em obras superfaturadas de pontes e rodovias. Além disso, foi citado na Lava Jato por supostamente receber R$ 1 milhão de caixa dois da Odebrecht para a campanha de 2014. Em 2019, foi indiciado pela Polícia Civil por envolvimento em um esquema de servidores fantasmas que desviava recursos públicos.
Mauro Carlesse (2018 – 2021)
O ex-governador Mauro Carlesse está preso desde o dia 15 de dezembro do ano passado, suspeito de planejar uma fuga internacional com documentos estrangeiros, incluindo um passaporte italiano e uma identidade uruguaia obtida com a ajuda de seu sobrinho e ex-secretário Claudinei Quaresemin.
A prisão preventiva foi decretada após a descoberta de indícios de fuga para o Uruguai, onde Carlesse teria obtido autorização de residência permanente. Desde sua prisão em 15 de dezembro de 2024, sete pedidos de habeas corpus foram negados.
Carlesse já havia sido afastado do governo em 2021 por suspeitas de corrupção envolvendo propinas e interferência na Polícia Civil, nas operações Hygea e Éris. Apesar de negar as acusações de fuga, ele continua respondendo a pelo menos cinco investigações sobre fraudes, desvios de dinheiro e corrupção. A defesa alega ilegalidade na prisão, afirmando que o processo está suspenso por falta de acesso às provas.
Condução coercitiva
Além de prisões, gestores do Tocantins também foram alvo de condução coercitiva, quando o indivíduo é obrigado a depor. Em 2016, o ex-governador do Tocantins, Siqueira Campos, foi alvo desse tipo de mandado na Operação Reis do Gado, realizada pela Polícia Federal. A operação investigava um esquema de crimes contra a administração pública e lavagem de dinheiro envolvendo fraudes em contratos de licitações no Estado. O esquema, que também envolvia Marcelo Miranda, teria causado prejuízos superiores a R$ 200 milhões aos cofres públicos.
Investigado
Carlos Henrique Gaguim, ex-governador do Tocantins de 2009 a 2011 e atualmente deputado federal, enfrentou diversas investigações e processos relacionados a alegações de corrupção e improbidade administrativa. Em 2018, o Ministério Público Estadual (MPE) denunciou Gaguim por crimes cometidos em 2010, especificamente pela venda irregular de 193 lotes públicos em Palmas, resultando em um prejuízo estimado de R$ 10,9 milhões aos cofres públicos.
Além disso, Gaguim foi alvo da 6ª fase da Operação Ápia, que investigou um esquema de desvio de recursos públicos destinados a obras de infraestrutura no Tocantins.
Em 2010, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Tocantins o condenou a oito anos de inelegibilidade por uso indevido de veículo oficial durante a campanha eleitoral. Apesar dessas investigações e condenações, Gaguim refutou as acusações e afirmou que não recebeu repasses ilegais.
Atual
A Operação Fames-19 investiga um esquema de desvios de recursos públicos no Tocantins durante a pandemia de Covid-19, especialmente relacionados à compra de cestas básicas para famílias vulneráveis. A operação, iniciada em agosto de 2024, revelou fraudes em contratos de empresas ligadas ao governo, resultando em produtos não entregues e prejuízos de mais de R$1,8 milhão aos cofres públicos. A investigação citou Wanderlei Barbosa (2022 – atual), governador do Tocantins, e seus familiares, como Léo Barbosa (deputado estadual) e Rérison Castro (superintendente do Sebrae). Também foi mencionada Karynne Sotero, primeira-dama e secretária extraordinária.
A operação encontrou grandes somas de dinheiro, como R$67 mil, em poder do governador e familiares. Além disso, foi registrada uma transferência de R$5 mil de um empresário investigado para a conta de Wanderlei Barbosa e dos filhos.
A operação ainda segue em andamento, com o governo do estado colaborando, mas nenhum membro da família Barbosa foi formalmente acusado. Apesar disso, a renovação de contratos com empresas ligadas aos investigados continua. Os investigados defendem sua inocência, afirmando que as ligações de R$5 mil são parte de um consórcio informal e que não têm relação direta com os desvios investigados.