Seca no Rio Tocantins: um reflexo da maior crise hídrica já registrada no Brasil
12 setembro 2024 às 12h13
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Um levantamento recente feito pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (LAPIS), da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), mostrou que os grandes rios do Brasil estão enfrentando um cenário de seca sem precedentes. Segundo os dados, a crise atual atinge 55% do território nacional, abrangendo 4,6 milhões de quilômetros quadrados, e já é considerada a mais extensa que já foi registrada no país. O Rio Tocantins, que abrange as regiões Norte e Centro-Oeste, está entre os rios que estão com baixo nível de volume de águas. Essa redução impacta diretamente no abastecimento de água, agricultura e, principalmente, na geração de energia. Foi essa crise hídrica, inclusive, responsável pela instauração da bandeira vermelha 2 em todo o Brasil.
O Rio Tocantins é vital para a geração de energia e operação da Usina Hidrelétrica (UHE) de Estreito, localizada na divisa entre o Maranhão e o Tocantins e é responsável por boa parte do abastecimento desses estados. Com a baixa vazão, devido ao nível hídrico, a capacidade de geração de energia é prejudicada e pode levar ao acionamento de usinas termelétricas, que custam mais caro e são mais nocivas ao meio ambiente.
A seca também afeta diversos rios do Brasil, com impacto direto nas usinas, como no Rio Jequitinhonha (MG), que abriga a barragem da UHE Irapé. No Rio Paranaíba (MG-GO) está localizada a UHE de São Simão. E entre São Paulo e Mato Grosso do Sul, o Rio Paraná é responsável pela geração de energia elétrica da UHE Porto Primavera.
Além disso, a seca também vem afetando o Rio São Francisco, um dos mais importantes do país. O “Velho Chico” teve, nas últimas 3 décadas, sua vazão reduzida em 60%, e tem cinco usinas dependendo dele: Sobradinho, Apolônio Sales, Paulo Afonso, Luiz Gonzaga e Xingó. Mas o principal problema é que isso impacta diretamente a vida de ribeirinhos e agricultores das regiões Norte e Nordeste.
Previsão desanimadora
O baixo nível é decorrente, principalmente, da pouca incidência de chuvas no período. Segundo os últimos dados meteorológicos, pode ser que a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) atinja a região e possa trazer chuvas, principalmente na Amazônia, o que pode amenizar a crise hídrica, principalmente nos afluentes da região, podendo beneficiar também algumas UHEs da região Norte.
Especialistas, no entanto, são categóricos em dizer que, mesmo com a chegada das chuvas, os efeitos da seca, tanto no Rio Tocantins como em outros do Brasil, vão continuar sendo sentidos ao longo de meses e que é necessário que o poder público continue o monitoramento e as ações de para enfrentamento das mudanças climáticas.
Ao longo prazo, a seca prolongada deste ano pode impactar permanentemente os recursos hídricos do país, além de ser um alerta para nossa dependência energética das hidrelétricas. É necessário que se reveja as políticas públicas voltadas para a preservação de rios e matas e também investir em matrizes energéticas diferentes, como a energia eólica e solar.