Tocantins 36 anos: aniversário do Estado marca trajetória de emancipação do norte de Goiás

05 outubro 2024 às 08h00

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Neste sábado, 5 de outubro, o estado do Tocantins comemora 36 anos desde sua criação, fruto de um longo movimento de emancipação da região norte de Goiás, que lutava por autonomia política e administrativa há mais de um século. O território que hoje corresponde ao Tocantins teve seus primeiros contatos com outros povos, além dos nativos, por meio de expedições francesas e portuguesas, que fundaram aldeias missionárias na região norte do território goiano.
A luta pela criação do estado do Tocantins é marcada por uma longa trajetória histórica, que envolve diversos momentos e figuras importantes, com seus primeiros episódios datando do período do Brasil Colônia. Em 1809, Dom João VI criou a comarca de São João das Duas Barras. No entanto, o desejo de separação surgiu quase um século antes, em 1736, durante o período da mineração, quando houve a cobrança de uma captação maior no norte do que no sul de Goiás. Nesse ano, surgiu pela primeira vez a ideia de dividir Goiás em dois, sugerindo criar uma nova Capitania.
Havia um desejo de separação devido ao abandono e ao isolamento geográfico da região norte de Goiás, tanto em termos econômicos quanto culturais. O estado de Goiás já era praticamente dividido em duas partes: o sul, com cultura e economia distintas do norte, que tinha uma realidade diferente e estava mais conectado a estados como Maranhão e Piauí, e esse desejo de separação foi formalizado com a criação da Comarca das Duas Barras. A partir daí, a ideia ganhou força, culminando na proclamação da província de São João da Palma, em 1821. Porém, com a Independência do Brasil e a ascensão de Dom Pedro I ao trono, a separação foi desaconselhada, mas o anseio por autonomia não desapareceu.
Com o passar do tempo, esse desejo continuou a ser debatido por intelectuais como o geógrafo Ezequiel Ubatuba e o brigadeiro da Força Aérea Brasileira Lysias Rodrigues. Em 1956, o juiz Feliciano Machado Braga reavivou o movimento pela criação do Tocantins, expandindo-o em Porto Nacional. Posteriormente, a Casa do Estudante do Norte Goiano (CENOG) e a Comissão de Estudos dos Problemas do Norte (Conorte) também se envolveram na causa. Finalmente, o então deputado Siqueira Campos apresentou o projeto duas vezes, sendo aprovado por unanimidade, mas vetado pelo presidente Sarney. O movimento culminou com a aprovação do artigo 13 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição de 1988, garantindo a criação do estado do Tocantins.
A economia do Tocantins se consolidou ao longo dos anos nos setores de agropecuária, indústria e serviços, com a construção civil ganhando destaque recentemente. Segundo o Governo Estadual, o Produto Interno Bruto (PIB) do estado atingiu R$51 bilhões em 2021, tornando-se o segundo estado com maior crescimento no período analisado. O Tocantins também conseguiu reduzir os índices de desemprego, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Enquanto a taxa nacional de desocupação foi de 7,8% em 2023, obtendo a maior queda na taxa de desemprego entre os estados, passando de 15% para 5,8%. A estimativa para o PIB do Tocantins em 2024 é de um crescimento de 4,1%, novamente ocupando a segunda posição no ranking nacional.
Conforme o último censo do IBGE, de 2022, o Tocantins é o quarto estado mais populoso da região Norte e o vigésimo quarto no Brasil, com uma população de 1.511.460 habitantes. Esse número inclui tanto os tocantinenses nativos quanto migrantes de várias partes do país, especialmente de estados vizinhos, como Pará e Maranhão que se mudaram para o estado, muitos em busca de novas oportunidades.
Entre os aspectos culturais mais marcantes do Tocantins estão a viola de buriti, criada na década de 1940, e o artesanato de Capim Dourado, planta típica do cerrado que serve como principal material para a produção artesanal no Jalapão, ambos profundamente enraizados nas tradições de comunidades quilombolas. Outras expressões culturais do estado incluem as Cavalhadas, realizadas na cidade de Taguatinga, e a Romaria do Senhor do Bonfim, em Natividade, além de danças típicas como a catira, caracterizada pela batida dos pés e mãos dos dançarinos, a súcia e o tambor, presentes nas celebrações do Divino Espírito Santo e de Nossa Senhora do Rosário, respectivamente.
O Tocantins também se destaca por suas atrações turísticas. O Parque Estadual do Jalapão, situado no sudeste do estado, tem atraído a atenção de turistas de todo o Brasil, principalmente pelas suas paisagens deslumbrantes, como os fervedouros, cachoeiras e dunas. Outro destaque é o Rio Azuis, considerado o menor da América Latina, além da Lagoa do Japonês e a região das Serras Gerais, famosos por suas águas cristalinas. As praias de água doce, banhadas pelos rios Tocantins e Araguaia, espalhadas por diversas partes do estado, também são grandes atrativos, especialmente durante a temporada de praia, que ocorre de junho a setembro.
Estado fundamental
O professor e especialista em história e geografia do Tocantins, Júnio Batista, relata que a criação do Tocantins foi e continua sendo uma colaboração fundamental para a riqueza tanto local, quanto do Brasil como um todo. “Para o país, o Tocantins se tornou essencial ao oferecer seu território para a passagem da Ferrovia Norte-Sul, contribuir com a geração de energia através de quatro grandes usinas, ser um polo do agronegócio com suas terras férteis e se destacar como destino turístico, com atrações como o Jalapão, a Ilha do Bananal, as Serras Gerais e o Cantão”, comenta.
“O Tocantins também enriquece culturalmente o Brasil, sendo um marco com a tradicional Festa do Divino, as cavalhadas, o artesanato em capim dourado, o amor-perfeito, e o uso do babaçu. Essas expressões culturais reforçam a identidade do estado e contribuem para seu destaque no cenário nacional. É claro que ainda há desafios a serem superados, especialmente por ser um estado relativamente novo. O maior deles é a qualificação da mão de obra, mas com esforço e investimentos, esses obstáculos podem ser vencidos ”, conclui o historiador.