O Tocantins registrou 48 conflitos por terra em 2024, envolvendo mais de 3.400 famílias, segundo o relatório “Conflitos no Campo Brasil 2024”, divulgado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). Os dados foram apresentados na última semana em Araguaína, pela CPT Regional Araguaia-Tocantins (CPT-AT). A atividade marcou o lançamento regional da 39ª edição da publicação, que documenta as violências e disputas no meio rural brasileiro.

Além dos conflitos fundiários, o relatório destaca 32 ocorrências de violência contra a pessoa no Tocantins, que resultaram em 15 vítimas, entre elas o camponês Cícero Rodrigues de Lima, liderança do assentamento P.A. Remansão, e o ambientalista Sidiney de Oliveira Silva, ambos assassinados no estado no ano passado. Os casos envolvem ainda agressões, ameaças de morte, torturas, intimidações e criminalizações contra trabalhadores e comunidades rurais.

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O levantamento mostra ainda que dois casos de trabalho escravo foram registrados no Tocantins em 2024, com 11 trabalhadores resgatados em propriedades rurais nos municípios de Arraias e Marianópolis do Tocantins, este último relacionado à produção de soja.

Ao todo, foram 50 conflitos no campo registrados no estado em 2024, atingindo cerca de 16.451 pessoas, conforme sistematização da CPT Nacional. A entidade destaca que o Tocantins segue como parte da chamada fronteira agrícola do Matopiba, onde a pressão do agronegócio sobre terras ocupadas por camponeses, indígenas e quilombolas tem resultado em desmatamento, expulsões e violência sistemática.

Durante o lançamento regional, lideranças da Articulação Camponesa relataram episódios recentes de conflito e intimidação em acampamentos e áreas retomadas. O evento contou com a participação de jornalistas, comunicadores populares e representantes de emissoras de televisão, e incluiu a exibição de outdoors digitais com trechos do relatório em pontos estratégicos da cidade.

Ao fim do encontro, os organizadores fizeram um chamado à sociedade civil para acompanhar e fiscalizar as ações no campo, cobrando o cumprimento dos direitos das comunidades e políticas públicas que garantam segurança, permanência e dignidade no meio rural.

O relatório completo “Conflitos no Campo Brasil 2024” está disponível para consulta pública no site da Comissão Pastoral da Terra.