Uma infeliz polarização

03 março 2025 às 16h30

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Fernando Henrique Freire Machado *
O sistema político-partidário está ultrapassado, com vícios históricos como o fisiologismo, a corrupção, o nepotismo, entre outros. Para piorar, o sistema partidário criou organizações políticas que não representam os anseios do povo, mas sim de seus mandatários, que se utilizam da vida política colocando seus interesses à frente dos interesses do país.
As nossas eleições também têm vários vícios que, muitas vezes, elegem, através do dinheiro, pessoas que não representam a vontade da maioria. Esses desvios se devem a muitos fatores, mas, principalmente, à manipulação das instituições por grupos do poder econômico, ou seus serviçais, e também ao estágio da pouca compreensão política e da baixa consciência política e social do nosso povo.
A situação econômica não é menos grave. O Brasil é um grande país, com uma economia poderosa, baseada principalmente na área de serviços e agronegócio, com uma grande diversidade, porém, a desigualdade social impera. O acúmulo da riqueza nas mãos de poucos, por aqui, salta aos olhos.
Essa desigualdade é causada por vários fatores: baixo grau de escolaridade, falta de oportunidades, racismo, misoginia, violências de todos os tipos. Mas a causa principal dessa desigualdade é o modelo econômico vigente, onde o mercado financeiro fica com quase 50% das riquezas nacionais produzidas, a título de pagamento de juros e amortização de uma dívida pública, que quanto mais se paga, mais se deve.
A massa de brasileiros que vive na pobreza, na ignorância e na exclusão é enorme. Os dois fatores anteriores – político e econômico – se refletem diretamente nas mazelas sociais que vivemos. E são muitas! Dessa forma, temos milhões de brasileiros em insegurança alimentar, tendo às vezes só uma refeição por dia, quadro que piorou muito com a alta dos preços dos alimentos.
A violência ainda faz parte do nosso dia a dia, no campo e nos centros urbanos. A criminalidade avançou tanto que o crime organizado se institucionalizou, infiltrando-se nos Poderes da República. Esse quadro, até dramático, que infelizmente é real, a pátria brasileira não consegue construir um Projeto de Nação que possa nos salvar dessa calamidade.
Após a redemocratização, embora tenhamos tido avanços em várias áreas, ainda cometemos erros que nos mantiveram no atraso. Vivemos hoje uma nefasta polarização, entre uma “direita” atrasada, populista, corrupta e truculenta, que defende facetas do fascismo e da barbárie, e uma “esquerda” fisiológica, populista e corrupta, que acena para a justiça social, mas caminha junto e apoia ditaduras como a da Venezuela e com o que há de mais retrógrado das autocracias mundiais.
Mas creio que essa polarização foi cuidadosamente planejada, onde um polo depende do outro para sobreviver, está fazendo muito mal ao Brasil. As pessoas deixaram de dialogar e se entender.
As redes sociais viraram palco para esse duelo, com mentiras, as fake news, a cultura do ódio, o debate político rasteiro e infértil, a institucionalização dos atos de corrupção e de violência, e a falsa moralidade assolam a sociedade brasileira, numa escalada de narrativas, que vão corroendo as verdades históricas e a autoestima do Brasil.
Eu abomino isso, e desde o início da minha militância política me coloquei fora dessa dicotomia. Defendo a força da democracia para formular políticas públicas visando diminuir a desigualdade social com qualidade de vida, bem como um desenvolvimento econômico com sustentabilidade e respeito ao meio ambiente. Anseio que esse momento de polarização possa passar com a reconstrução do diálogo e a boa convivência política. Temos que respeitar quem pensa diferente. Para isso, precisamos muito de bom senso e altas doses de consciência política.
* Especialista em marketing e gestor de pessoas.