As eleições presidenciais na Venezuela terminaram na madrugada desta segunda-feira, 29, com a confirmação da vitória de Nicolás Maduro pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Após um atraso na divulgação dos resultados, Maduro obteve 51,2% dos votos com 80% das urnas apuradas, enquanto seu principal rival, Edmundo González, recebeu 44,2%. Observadores internacionais e a oposição exigem a divulgação de dados auditáveis, alegando possíveis irregularidades.

O presidente do CNE, Elvis Amoroso, atribuiu o atraso a “ataques terroristas” no sistema eleitoral, que serão investigados. O anúncio foi feito pouco depois da meia-noite em Caracas, e por volta de uma da manhã em Brasília.

Logo após a divulgação oficial dos resultados, María Corina Machado, principal líder da oposição, denunciou uma suposta fraude. “Ganhamos em todos os estados do país e sabemos o que aconteceu hoje. Temos 100% das atas transmitidas pelo CNE, e toda essa informação indica que Edmundo obteve 70% dos votos”, declarou.

Os Estados Unidos estavam negociando o alívio das sanções econômicas à indústria petrolífera venezuelana para estimular o processo eleitoral. No entanto, com a exclusão de María Corina do pleito pelo CNE, as sanções ao governo Maduro por falta de transparência foram restabelecidas. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, expressou “sérias preocupações” com a condução das eleições.

Reação internacional

María Corina Machado, impedida de exercer cargos públicos, apoiou González. Desde 2013, a oposição venezuelana nunca esteve tão próxima de derrotar Maduro.

Antes da confirmação da vitória de Maduro, o presidente argentino Javier Milei publicou em seu perfil no X (antigo Twitter): “Fora, ditador Maduro! Os venezuelanos escolheram acabar com a ditadura comunista de Nicolás Maduro. Os dados apontam para uma vitória esmagadora da oposição e o mundo espera que ele reconheça a derrota”.

O secretário de Estado dos EUA afirmou que “é fundamental que todos os votos sejam contados de forma justa e transparente, que as autoridades eleitorais compartilhem imediatamente informações com a oposição e observadores independentes sem demora, e que publiquem a apuração dos votos”.

Celso Amorim, enviado especial do governo brasileiro, destacou a “participação expressiva do eleitorado” e afirmou que a votação ocorreu “com tranquilidade, sem incidentes significativos”. Posteriormente, Amorim afirmou: “Estou em contato com diferentes forças políticas e analistas eleitorais, além de membros da equipe de observadores do Centro Carter e do Painel de Especialistas da ONU. Vamos aguardar os resultados finais e esperamos que sejam respeitados por todos os candidatos”.

O presidente Lula (PT) ainda não se pronunciou sobre os resultados das eleições na Venezuela. Nas últimas semanas, Lula, conhecido por apoiar publicamente Maduro, teve atritos com o venezuelano. Ao falar em “banho de sangue” em caso de vitória da oposição, Maduro gerou críticas do presidente brasileiro.

O presidente chileno Gabriel Boric declarou que só reconhecerá números auditáveis e questionou os métodos aplicados nas eleições venezuelanas. “O regime de Maduro deve entender que os resultados que publica são difíceis de acreditar”, disse.

Pouco antes do pleito, o CNE, controlado por Maduro, retirou o convite para a participação de observadores da União Europeia, reduzindo a transparência do processo eleitoral. Os governos da Bolívia e de Honduras felicitaram o presidente pela vitória.

Com 61 anos, Maduro segue para seu terceiro mandato na Venezuela, que enfrenta uma prolongada crise econômica, levando milhões de cidadãos a emigrarem. “Devemos respeitar o árbitro e ninguém deve manchar essa jornada bonita”, disse Maduro após a confirmação de sua vitória.

O chanceler venezuelano, Yvan Gil, emitiu uma nota denunciando uma “operação de intervenção contra o processo eleitoral” no país.

Os resultados indicam que a Venezuela pode enfrentar maiores tensões nas próximas horas e dias.